quinta-feira, 16 de abril de 2015

Para além do ocidente



Amy Toesing

Sábado serão ordenados diáconos 5 companheiros jesuítas. Começam a chegar família e amigos. Fui ao aeroporto buscar a irmã e um amigo de um deles, o Paul. Ela chegava de Uganda e ele do Quénia. É sempre bonito ver os reencontros. Vinha mais silencioso, deixando-os saborear entre eles o momento. Partilhavam a viagem, que tudo estava bem por lá, com o resto da família. Parece-me que as conversas de reencontros estão para além de qualquer cultura, tocando o comum da humanidade. Inevitavelmente veio à conversa o atentado em Garissa, Quénia, onde morreram assassinados 147 estudantes, apenas por serem cristãos. A Esther que é estudante, e cristã, mostrava a sua tristeza e apreensão. Se para nós é lá longe, para eles é ali ao lado. Enquanto os escutava, os pensamentos agitavam-se. O mundo “euro-centrou-se” ou melhor “ocidento-centrou-se”, ao longo de séculos. O modo de pensar, de sentir, de viver os acontecimentos está centrado no pensar ocidental: se é “cá”, todo o mundo sofre e fala; se é “lá”, ok, fala-se pelo normal choque da indignação humana, mas passa rápido. “Aqui”, no ocidente, determinam-se as condições de vida, de saúde, de bem-estar, se assim não for, “eles” são primitivos, pobres de espírito, atrasados no desenvolvimento, por isso, há que tomar uma atitude paternalista em dar-lhes o que nós pensamos que é correcto. Atenção, não se entenda aqui uma crítica às ajudas humanitárias ou à evolução científica, com a correspondente partilha de conhecimentos. A crítica está em admitir-se e viver-se a possibilidade de cultura ou modo de pensar superiores, centrados neste ocidente pensante, “livre”, cheio de conhecimento. É de grande riqueza viver numa comunidade internacional e perceber que todos, de África, das Américas do Norte e do Sul, da Ásia, da Europa, do Próximo Oriente, da Oceania, sentimos na pele a dor e a alegria… junto com a indiferença e a falta de respeito. Cá está, não se trata de sermos uns ou outros péssimos ou maravilhosos, porque bons e maus exemplos encontramos em todas as culturas. Trata-se de aprender a descentrar, para descobrir cada vez mais isto da humanidade, presente em pessoas concretas, com nomes, rostos e histórias, ajudando a combater a injustiça e o mal em todo o lado. E tal começa em casa, depois, no que nos envolve no quotidiano. Sábado serão ordenados diáconos 5 companheiros jesuítas. Começam a chegar família e amigos, de cá e de lá.

[Nesta linha vale a penas recordar esta conferência de Chimamanda Adchie: O perigo da história única]



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