Chris Prescott
[Pensamentos soltos ao terminar o dia] Ontem tive duas conversas muito bonitas: uma com o meu acompanhante espiritual, outra com uma amiga. Em ambas falou-se de actualidade, em especial destes tempos complexos, onde se alastram novamente ondas de choque e de medo. Também foi tema o caminho de amadurecimento pessoal, aquele que leva a ver a vida com mais sensatez e sentido, no crescimento da vocação em trazer paz, justiça e liberdade ao ser humano. Recordei-as sobretudo há pouco na Missa. A passagem do evangelho [Mt 5, 43-48] exorta a uma das coisas mais difíceis e exigentes no cristianismo: o famoso “amar os inimigos”. No mesmo texto Jesus recorda-nos que Deus Pai “faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos.” Pelo coração passam-me imensas pessoas que atravessaram ou, infelizmente ainda atravessam, situações duras, por isso estremeço só de pensar no “amar os inimigos”. Do mínimo conflito por choque de personalidades, aos grandes que deixam raízes culturais profundas, os inimigos podem ser muitos. Se fico por essa raiva dos acontecimentos, torno impossível surgir esse amor pelos inimigos. Por isso, não se pode nem exigir, nem dar passos grandes no processo de reconciliação. Há traumas profundos, muitos a serem respeitados com silencioso acolhimento. Depois, dar tempo e sentir a força da fé nesse combate do mal com o bem. Entendo que o perdão não é desculpar como se nada tivesse acontecido, mas continuar, apesar de tudo, a querer a vida do outro. Há crimes que têm de ser responsabilizados, punidos, mas não de modo a que me torne também num ladrão, num corrupto e até mesmo num assassino. Na continuação da passagem evangélica, é impressionante o convite a sermos como Deus na perfeição do perdão e da misericórdia. No momento do ofertório na missa, quando junto a água ao vinho pedindo para sermos participantes da divindade de Cristo, recordo a grandeza da humildade divina e que a justiça d’Ele tem outro nível. De seguida, ao consagrar o pão e o vinho com a água diluída, apercebo-me que Ele continua a assumir o nosso pecado, não desistindo de nos amar. Claro, só podemos amar os inimigos quando vivermos plenamente a certeza que Ele, apesar de tudo o que possamos fazer, continuará a amar-nos primeiro e plenamente. Sim, no caminho de amadurecimento e crescimento pessoais pode ser algo difícil e existente, mas não impossível.
Sem comentários:
Enviar um comentário