domingo, 8 de fevereiro de 2015

Agradecido por ser padre




Kátia Viola


[Secção confissões] Cheguei a casa e senti forte necessidade de rezar. Trazia o misto de emoções pelo dia. Missa, confissões, festa das crianças, onde vivi o ser padre como presidente da eucaristia, depois como mediador do perdão de Deus e, de seguida, como aquele que também serve no animar com a presença, a gargalhada e, no final, de esfregona na mão a lavar o chão a seguir à festa. Senti necessidade de rezar, agradecido pela minha vocação. Nestes dias, sobretudo desde os recentes atentados e o que se vive no mundo que acaba por nos tocar a todos, tenho lido tanto sobre religião, sobre os responsáveis religiosos (mais do Islão, é certo), e não tem sido em muito bons tons. A religião tornou-se tema que leva à agressividade. Eu que nem sou de ter insónias, há noites que tenho o pensamento a mil. Articulam-se muitas perguntas: quem é o ser humano? o que é ter fé nos dias de hoje? qual a nossa presença na sociedade? o que é ser padre na actualidade? Parece-me, enquanto aprendo a ser padre, que as pessoas pedem a presença, aquele estar que anima (literalmente, que dá vida!). Pode haver incompreensão, possivelmente até o perigo de passar riscos, reconheço, mas há confortos demasiado medíocres. Recordo sempre o forte pedido a Deus que fiz na celebração da minha primeira Missa: “Peço-te um coração que escuta!” Sim, na escuta da realidade apercebo-me que as pessoas, começando por mim, querem alguém que as escute e ame como são, na sua grandeza e na sua miséria. É dos desafios que de vez em quando volto, porque, não vou estar com floreados, nem sempre é fácil. Claro que há caminho a fazer, mas o primeiro passo não é moral, ou pior, moralista, mas de relação. Às vezes tenho a sensação que em Igreja corremos o perigo de nos desligar do mundo, levando ao desconhecimento da realidade, criando idealizações de perfeições, tomando a atitude de ataque antes da escuta, de ver a desgraça, esquecendo o “belo” o “bom” no final de cada dia da criação. Não é fácil, é demasiado complexo, sim. Nem se trata de viver ingenuamente, como se tudo estivesse bem, quando não está. Trata-se de lutar pela justiça a partir da misericórdia. Rezando os Evangelhos, identifico-me cada vez mais com Jesus. Peço-lhe para ser humano, ao Seu modo. Cheguei a casa e rezei, agradecido por ser quem sou, por ser jesuíta, por ser padre, nesta Igreja e nestes tempos concretos, onde sou chamado, à semelhança de Jesus, a dar (a) vida.

2 comentários:

  1. A vida só tem sentido quando "preenchida" na totalidade.
    E em (Tiago 2) podemos ler "a fé sem obras é morta"...
    Que assim continue, tendo sempre as bênçãos de Deus

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  2. Rosa,
    Muito obrigado. :)

    Um Abraço!! :)

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