Confiança

Giampiero Sposito/Reuters

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Nos últimos dias, tem-me chamado a atenção que o verbo confiar, com os respectivos derivados, está bastante presente nas leituras da Missa. Confiar em Deus, sobretudo. Daí, confiar nos outros. Hoje, para além do Papa Bento XVI e da Igreja, rezava por um amigo especial que também passará por uma grande mudança de vida e pedi que a confiança, independentemente do modo de crer de cada um(a), nos fosse preenchendo o ser.

Mudanças

Danilo Schiavella/Reuters

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Curiosa Quaresma esta. Vive-se “a” renúncia ao poder, tendo como desejo dar espaço a Deus. [Pelo meio, proliferam opiniões, sentenças, comentários, despedidas. Por momentos é uma sensação de ruído, muito ruído.] A renuncia reveste-se de gratidão, mas também de sentido de mudança, profunda mudança... do poder do interesse pessoal, para o poder do serviço.

Simetria(s) ou paradoxo(s)

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Já me canso quando ouço, por exemplo, em jeito acusativo: “A sociedade de hoje é relativista, individualista, já não tem fé.” Percebo o que se quer dizer, contudo, a sociedade, além de ser constituída por pessoas concretas, também é o espaço e tempo onde há a possibilidade de complementar e descobrir as diferenças e as semelhanças, com todas as suas riquezas; onde é possível encontrar muito mais o que nos une do que nos separa enquanto seres humanos; onde é possível acreditar na relação, na individualidade e na confiança que caracteriza cada pessoa. Pensar que Deus vive também de forma paradoxal. 

As possibilidades da Arte

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A Arte com “A” tem um potencial imenso. Não é por acaso que os ditadores controlavam (para não dizer outra coisa) os artistas, ou, subtilmente, tiravam os fundos de apoio ao desenvolvimento da arte... sob o argumento de supérfluo. Através da arte pode-se denunciar a injustiça com mais impacto e anunciar as possibilidades de mudança com mais sentido. O Artista com “A” sabe escutar a realidade, sendo co-criador de beleza e justiça no mundo. No vídeo está um bom exemplo.

Momento(s)

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“Olha o teu caminho, conta todos os momentos, se puderes. Essa é a tua Vida.” Tal como Abraão não conseguiria contar todas as estrelas, também é impossível contar ou definir o que são os momentos na vida. Há os especiais que se recorda com facilidade e há os banais que rapidamente entram no esquecimento. No entanto, como as estrelas eram a metáfora da descendência, também todos os momentos da vida vão construindo o futuro. Há coisas que se relativizam, outras que se agradece de forma sentida, outras ainda que mostram que se vive mais do que se pensa.  

Generalizações [ou não]

Alfred Eisenstaedt

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Tento ser cuidadoso com generalizações, por terem o seu perigo. “Toda a gente” inclui muitas pessoas que podem ter pensamentos semelhantes ou diferentes. Os radicalismos correm sérios riscos de esquecer a riqueza da individualidade de cada pessoa, no seu sucesso e/ou fracasso. Perceber que “quando o sol nasce é para todos” (uma generalização, sim) também tem que ver com a compaixão: respeitar a diferença e não etiquetar imediatamente, só por pertencer a este grupo ou realidade social.

Um mal entendido sobre pecado

Chema Madoz

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O pecado não se resume no sexo e é preciso atenção quando se fala de pecado no sexo. A História, sobretudo ocidental em linha platónica e neo-platónica, por muitas questões, tornou o corpo e quase tudo o que estivesse relacionado com ele como pecaminoso, onde só o interior deveria ser cuidado. Por arrasto, o sexo tornou-se cume da imagem de pecado. Quando uma pessoa é violada na sua integridade, seja de que forma for, aí, sim, há pecado. A Quaresma é uma boa oportunidade para reflectir sobre esta realidade do mal. Assim, afastam-se fantasmas infantis, assume-se o que de facto faz danos (na relação com Deus e com os outros) e possibilita-se a entrega verdadeira desse mal a Deus, para que a Sua graça tenha a última palavra.

Agradecido

Rose VanDusenberg

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Têm-me perguntado se estou nervoso pela ordenação. Tenho respondido: “não, nada, afinal são mais de 9 anos a fazer caminho”. No entanto, a pedagogia de Deus é muito interessante. O interior começa a agitar-se de forma diferente. Porquê? Tenho recebido mensagens e emails que me emocionam, fazendo-me sentir pequeno diante do mistério que vai acontecer no dia 16. Este passo é acompanhado por muitas pessoas, só pode ser assim. E sinto-me tão agradecido. Mesmo sabendo de momentos de frustração e impotência ante a realidade, desejo e quero servir: com o meu ser, como sou... neste mundo e Igreja concretos. A perfeição não é o objectivo, a plenitude sim.

Justiça Social

Lewis Hine

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No passado domingo, sem esperar, passei por uma manifestação contra os cortes na saúde aqui em Espanha. Agora, acabo de ver o vídeo da “conferência falida” do ministro Miguel Relvas. Observei o mesmo: pessoas cansadas de injustiça, fartas de mentiras e a entrar no campo do desespero. De momento as manifestações são “pacíficas”, mas até quando isto se aguentará assim? Hoje comemora-se o dia da justiça social, onde se chama a atenção para a necessidade da igualdade, sobretudo, passo a redundância, de justiça. 

Caminho(s)

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Por vezes a dissociação entre o saber e o sentir é grande. O famoso caminho da cabeça ao coração é longo. Não gosto quando me dizem de forma imediata “Ah, isso passa”, sem um primeiro acolhimento do que possa estar a sentir. Ok, passa, é certo, mas tem o seu tempo. Quando comentaram com Sto. Inácio a possibilidade de se fechar a Companhia de Jesus, ele responder: “Necessitaria de 15 minutos”. Uau, que liberdade!! Contudo, também ele, Santo que é, precisaria do seu tempo para digerir, fazendo assim o caminho da cabeça ao coração, unindo-os. 

Autenticidade

[Fotograma: "Bestas do sul selvagem]

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A autenticidade também é a força do verdadeiro poder. Um dos problemas da política (ou políticos) dos nossos dias é que lhe(s) falta isso mesmo: autenticidade, coerência, humildade... e conhecimento da realidade para além de números. 

O pódio. Ou o êxito.

Chema Madoz

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À medida que se observa de forma saudável as inseguranças, os medos ou até mesmo as feridas da história pessoal, estas vão tendo menos espaço no ego. Não desaparecem, apenas diminui a sua influência. Não é um trabalho fácil. Mais para o duro. Mas tão libertador. Percebe-se que há competições que deixam de ter sentido, ou a lógica é alterada. Vencedor(a): quem vê no outro(a) uma pessoa e não um objecto ou inimigo a abater.

"Lost persons"

Elliot Erwitt

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O percurso da vida não é linear. Há momentos em que me sinto perdido, na oração, nas decisões, no aceitar da realidade que me transborda. Apesar de custar, estes momentos recordam que não sou super-herói. Passo a passo, deixo que a fé tome cada vez mais espaço. A fé encarnada. A Quaresma é oportunidade de encontro: para quando surja a sensação de se estar perdido(a), prevaleça a certeza de que se é acompanhado(a).

Sobre o amor...

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O amor também é silencioso. Está presente em toda a realidade humana: de forma mais subtil ou quase esquecido, até à revelação que vai ao profundo das entranhas. O amor tem vários prismas: diferentes cores, sons, gostos e toques. Vivê-lo é abrir-se à criatividade na relação estabelecida ou por começar... seja ela qual for. 

Cinzas

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Penso na fragilidade, como cinzas sopradas. Somos chamados à Vida, sem esquecer que também somos matéria que quebra, se desfaz em sentimentos. Hoje não é dia de depressão ou tristeza, apenas de reconhecimento que o futuro está aberto à conversão. E assim se prepara o húmus, ou a humildade. 

A decisão!

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A consciência quando bem formada é soberana ante qualquer autoridade. Provoca-me um respeitoso silêncio, sabendo que é usada em nome de um Bem Maior. Sim, “Habemus Papam”!.

Sentido de ser (X) - Especial Carnaval

Amy Hildebrand

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“Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no Carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar no Carnaval. (...) Brinque meu povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que 4.ª feira a luta recomeça. Mas, ao menos, pôs-se um pouco de sonho na realidade dura da vida!.” Dom Helder Câmara [Arcebispo emérito de Olinda e Recife - Brasil], 01 de Fevereiro de 1975 durante sua crónica radiofónica “Um olhar sobre a cidade” da Rádio Olinda AM.

Tráfico humano

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Tráfico humano: algo horrível de séculos passados... ou de agora, em pleno dia 8 de Fevereiro de 2013. Hoje celebra-se a vida de Sta. Josefina Bakhita, escrava africana, que conseguiu a liberdade, sendo tratada com carinho e respeito, por um Cônsul italiano e sua família. Desde a escravatura de mulheres para prostituição até à submissão de trabalhadores a condições de trabalho indignas com medo de perder o trabalho que têm, são casos que aumentam na actualidade. Partilho um vídeo que me comoveu: Lisa Kristine, a partir da arte da fotografia, tenta mostrar ao mundo este flagelo e vergonha da humanidade.

Chantagem e liberdade

Valerio Loi

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Se há coisa que não gosto é de chantagem. Gosto de ajudar e emociono-me com muitas situações. No entanto, se aparecem frases do género “Se fosse... [seja o que for]... partilharias” ou “ahhh, então não quer ajudar as pobres crianças” é como se não gostar ou não fazer algo tornasse a pessoa a pior do mundo. A ajuda deve ser feita não pelo medo de condenação, mas a partir da liberdade e sentido de comunhão.

Sobre m*rda...

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“Estou na m*rda!” ou “Estou feito m*rda!” são expressões que tenho ouvido com alguma frequência devido às crises: financeira, profissional, relacional, etc. Como somos cada vez menos do campo, convém relembrar que o estrume fertiliza a terra. ;) 

Entre a sabedoria e a ignorância

François Robert

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Sabedoria - capacidade em ver algo mais que o próprio nariz. Adquire-se com experiência, silêncios, amizade, leitura, partilha de vida, de boas histórias e de sentimentos. 

Ignorância (sobretudo a que se quer manter assim) - uma simples fechadura, sem chave ou com chave controlada por mentes ignorantes.