A minha avó morreu esta noite. A minha querida avó. Tínhamos uma relação muito próxima, a minha avó e eu. Ela vivia em São Paulo e eu em Lisboa, mas estávamos ligados por esse espírito de partilha que transcende distâncias e idades. Talvez ela percebesse melhor do que ninguém o meu lado cinzento. A minha avó não era uma mulher feliz. Nunca foi. Não tinha medo nem vergonha de o dizer. E eu entendia o que ela queria dizer. Porque o dizia sempre com uma enorme nobreza, sem comiseração. Não tinha pena de si própria. Sabia apenas que o tempo dela não era um tempo feliz. Na dureza das suas palavras havia também um tom de desencanto com uma vida que a traiu tantas vezes. Apesar de tudo, nunca negou afectos. Amava como uma avó deve amar. Senti a sua alegria quando na semana passada me viu, nos cuidados intensivos, ligada àquelas máquinas todas. Percebeu que tinha ido para me despedir. Mas ainda assim, no dia do meu regresso a Lisboa, fez-me acreditar que ainda a veria com vida num futuro bem próximo. Ainda nos rimos de disparates que eu disse. E os seus olhos brilharam quando lhe disse que me fazia muita falta. Vai fazer-me muita falta. Não de uma forma evidente. Mas sei que vai doer muito a sua ausência.
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Maria do Carmo Pio Riscado
4 de Dezembro de 1927 - 8 de Dezembro de 2008
Caro Pedro, partilho a sua dor.
ResponderEliminarUm abraço do João
Pedro,tenho muita pena de o ver com esse desgosto. mas teria muito mais pena se o meu amigo não sentisse esse desgosto, porque era sinal de que não tinha tido oportunidade de amar uma avó, de sentir essa cumplicidade e também essa compreensão e esse carinho. Disse um sábio que não há pior desgraça que a de ter sido feliz e eu não concordo, não há nada pior que não saber o que é ser feliz, ter tido bons momentos e ter muitas e doces recordações para lembrar quando quiser. Guarde-as bem e mantenha sua avó viva no seu coração. Para sempre...
ResponderEliminarUm grande abraço. Já perdi as minhas duas, mas felizmente as memórias resistem.
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