segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Lendo os outros

"Celebrou-se, não reparei, mas se deve ter celebrado, o dia da Restauração da independência de Portugal. Logo aqui, há uma certa estranheza. Independência de quem? A última nau, nas palavras de Pessoa, de Portugal, do único Portugal possível partiu em 1578. E não mais regressou. Ora, não havendo Portugal, como poderá ter havido Restauração no ano da Graça de 1640? E, não havendo Portugal, assim, não podendo haver Restauração num lugar que não existe, como, mesmo assim, se celebra tal impossibilidade? A única resposta que eu encontro como possível é esta: não estamos em Portugal, nem os festeiros são portugueses.

Desde 1578 que aquilo que foi Portugal é governado e habitado em larga maioria por antiportugueses, estrangeiros, incapazes e simples idiotas, período este que coincide com a ascensão da Casa de Bragança ao poder. Já D. João II nos tinha mostrado como conversar com tal raça: decepando-os! O que, aliás, não configura nenhuma pena antes um alívio, pois nenhuma cabeça de Bragança tem outra função que não seja a de exercer peso sobre o restante corpo do mamífero em causa.

Saltando uns séculos, porque estou cansado, convém perguntar-nos se é possível restaurar Portugal. É possível, porque Portugal não passa de um sonho, e muita gente há que é capaz de sonhar o mesmo sonho duas vezes. Salazar, um semiportuguês, andou perto, mas, não sendo totalmente português, não foi totalmente capaz de restaurar Portugal. Teve o azar da guerra e o azar de ter vivido em Coimbra.

Se Caeiro guardava rebanhos na cabeça, eu, não tendo jeito para pastorear gado, sou uma autêntica manjedoura de pátrias e sistemas políticos. Pátria não é necessária que nasça; já nasceu; sistema político-social que dê forma à Pátria, é que ainda está por nascer. Sendo a Pátria Portugal, o sistema necessário terá de começar por ser, obrigatoriamente, um anti-sistema, isto é, um sistema que elimine este que está. Eliminar o sistema é, contudo, insuficiente; terão de se eliminar os representantes do sistema, quer dizer, um esforço conjunto de todos os portugueses a perseguir, prender e executar qualquer governante, representante de um não-País, e respectivos opositores e apoiantes, ou seja, a completa eliminação de qualquer vestígio de Política e da Plutocracia vigente.

Segue-se, e foi aqui que Salazar se enganou, que o País nunca se poderá governar por Deus, Pátria e Família. Deus não está nem acima nem abaixo dos homens: estará, se estiver, diante destes. A Pátria, sendo Portugal, também não está, pois sendo a Nação do mar e do amor, é a nação do mistério e do desconhecido. Sobra a Família: não sobra grande coisa. A Família sem Deus e sem Pátria, não é Família, é ajuntamento. Assim, não nos sendo suficiente o modelo mais português que possuímos, sendo-nos veneno o modelo inglês, francês, russo, alemão, americano, qual será, então, o sistema político capaz de dar forma ao sonho? Nenhum. Portugal governa-se não sendo governado, tal como um sonho vive-se insconsciente e liberto, sem capitalistas, comunistas, liberais, conservadores, republicanos, monárquicos, apenas, e só, com portugueses."

Pedro, in 'Blogue para Nada'

2 comentários:

  1. É lamentável que sejam portugueses a escrever e a publicar este lixo pseudo intelectual.

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  2. Ó Cícero e Silva, tu é que me topas bem, pá! Prestei-te uma singela homenagem a ti, essa figura incontornável das letras, da filosofia, das artes...

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