quarta-feira, 9 de julho de 2008

Lendo os outros


"Parecem bancos!


Depois de ouvir que as operadoras de telecomunicações já têm autorização para criar uma lista negra de clientes caloteiros, corri para os meus comprimidos de valeriana, que são seguramente os calmantes mais incompetentes da história dos calmantes, porém, com efeitos secundários muito divertidos. No outro dia sonhei que era um relógio e acordei às dez para as duas.

Mas enfim, é sobre operadoras de telecomunicações que vamos falar, mais concretamente sobre a lista de devedores.

O trabalho deles não é fácil, temos de admitir. Reunir informação sobre todos nós – clientes caloteiros – não é tarefa simples. Nesse aspecto até somos privilegiados, uma vez que para chegarmos à nossa lista de operadoras que andam no gamanço, basta pensarmos em Vodafone, Optimus e TMN.

Para começar, falemos do cartel. Andamos a atazanar o juízo das gasolineiras, mas ninguém dá conta da semelhança entre os tarifários que nos são oferecidos pelas operadoras de telecomunicações. Pode ser coincidência mas, com um na mão ficamos imediatamente a saber o das restantes. Talvez por isso, a nossa escolha só se pode basear na que tem os anúncios menos estúpidos.

Não fora um laço muito forte – também conhecido por «assinatura mensal» - que me une à TMN, tinha mandado o cartão do meu telemóvel pela pia no dia em que vi pela primeira vez aquele anúncio com um empregado de escritório que vai tirando serviços fantásticos de uma caixa (box) imaginária, até que às tantas fica muito atrapalhado com um e-mail que recebe da namorada, provavelmente enviado a partir do pocket pc do seu melhor amigo.

Tudo isto para não falar naqueles anúncios que passaram durante o campeonato europeu de futebol, com uns jogadores que pulavam enquanto grunhiam – e eu jurava que eles não conseguiam fazer as duas coisas ao mesmo tempo sem tropeçar.

Outra marca do gamanço telefónico que aqui quero registar no dia em que as operadoras vão começar a apontar os nossos nomes, são as chamadas com defeito. Se nós comprarmos um linguado na praça e dermos conta, já no prato, que o peixe não tem nada lá dentro a não ser jornais para fazer volume, reclamamos imediatamente junto da peixeira, ainda que o mais certo seja uma sutura no lábio inferior. Mas se telefonamos para alguém e a chamada cai antes de existir qualquer diálogo, pagamos e não falamos mais nisso.

Quanto dinheiro não demos já nós às operadoras com as famosas chamadas «com cortes»? E com que fundamento nos cobram um serviço que não foi prestado? Se eu quero fazer um telefonema e não consigo, será que devo pagar por aqueles dez segundos em que estive a tentar comunicar com alguém que parece estar a ser colhido por um comboio?

Temos também os gravadores de correio de voz, que são outro brinquedo que custa imenso dinheiro a quem não tem, pelo menos, os reflexos de um piloto da Força Aérea. Quando as chamadas vão para o gravador, temos um segundo para pensar. Se esse segundo passa, damos rumo a mais uns cêntimos que, somados ao final do ano, embelezam a já por si elegante rubrica das receitas.

Bom, creio que sobre o gamanço das operadoras de telecomunicações conseguia fazer o post mais longo da história da blogosfera. Mas não vos quero maçar mais. Nesta vida, como no narcotráfico, quem se lixa é sempre a arraia miúda."
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