domingo, 9 de março de 2008

José Manuel Pureza* para O.Insecto (Especial 3º Aniversário)

ALGUÉM

A história conta-a de Eduardo Galeano no “Livro dos Abraços”. Fala de Fernando Silva, director do hospital pediátrico de Manágua. Já se ouviam os festejos da noite de Natal quando Fernando decidiu sair para casa onde a família o esperava para celebrar. Fez uma última ronda a ver se tudo ficava em ordem e foi então que sentiu passos que o seguiam. Passos de algodão, escreve Galeano. Fernando reconheceu na penumbra a cara de um dos meninos já marcada pela morte. E o menino sussurrou-lhe: “Diz... diz a alguém que eu estou aqui”.
Debater as políticas públicas é muito importante. Mas não pode fazer esquecer as políticas pessoais. Aquelas que percebem que indicadores são só isso e não carne, osso e sentimentos. Aquelas que vêm pessoas para além de “públicos alvo” ou “destinatários”. Há por aí um tremendo défice, muito muito maior que o das contas públicas, e que aguarda que alguém tenha a coragem de o denunciar como monstro: é o défice de personalização das politicas. Desde o momento da concepção, como dizia não sei quem.






José Manuel Pureza é coordenador da licenciatura em Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

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