Morreu em 21 de Dezembro de 1805 Manuel Maria Barbosa du Bocage. Infelizmente hoje mais conhecido pelas anedotas que dele se contam, revelando o seu lado irreverente, provocador e aventureiro, do que o excelente poeta da Arcádia, culto e talentoso. Eis o seu auto-retrato ou, como o intitulou, Retrato Próprio:
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo na figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
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