segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O Pintor de Batalhas


Acabei ontem de ler “O Pintor de Batalhas” de Artur Peres Reverte, que conta a história de um fotógrafo de guerras que durante muito tempo julgou que a sua intervenção era puramente exterior aos acontecimentos. As guerras eram palcos onde ele se movia com a sua máquina, com a sua técnica, escolhendo planos e imagens que depois divulgava como se a tanto se resumisse a sua acção. Mero espectador, mero divulgador. Enganava-se, e o livro é uma obra de análise intensa da sua evolução interior, do modo como foi sendo obrigado a reflectir e a encarar a verdadeira natureza da sua profissão.
Retirado da sua vida profissional, o fotógrafo tenta resumir a sua vida pintando um painel onde estão todas as batalhas, as que atravessaram todos os tempos e todas as técnicas de matar, que não têm fim nem princípio e por isso é circular. Além disso a tela é um muro de um moinho abandonado, num ermo a que ninguém chega, numa expressão simbólica de que afinal tudo continua a ser ignorado, essa amálgama terrível de atrocidades numa paisagem de quietude e isolamento que só é encontrada por quem quer, ainda, matar.
Vale bem a pena ler, é uma brilhante reflexão sobre a comunicação, a força da imagem, as falsas isenções, ainda que inconscientes, de quem ouve, vê e transmite.

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