(Versión en mi mejor español en los comentarios)
"Deus quando nos fala não grita. Sussurra. Para que as palavras não nos levem à loucura porque afinal... somos só meros humanos..." Isabel P.
Querida Isabel,
Escrevo-te uma “carta”!
Sem saberes acabaste por me dar algo a pensar. Sem querer acabei por andar acompanhado por esta tua frase surgida a partir do silêncio. Como te tinha dito, gosto muito do silêncio e necessito dele. Antes, punha-me na pele de “jesuíta-que-‘tem’-de-viver-o-silêncio” como se fosse uma obrigatoriedade, na vivência da oração, do encontro com Deus. Talvez em jeito de gritos impostos por mim próprio, querendo chegar até Ele dessa forma. Aos poucos fui percebendo que não fazia sentido. Esse desejo de silêncio, mais do que uma fuga do mundo, era mesmo uma fuga de ruídos que me impediam de ver-me e ver os outros.
Tenho para mim que quando mergulhamos fundo no coração, o silêncio desperta-se até na maior confusão de um centro de cidade em hora de ponta. Claro que sabe muito melhor quando se dá no recolhimento do canto especial, ou nos braços de alguém de simplesmente quer partilhar esse momento, sem muitas ou nenhumas palavras. Também quando se dá em locais onde mais facilmente a presença silenciosa da vida desperta com mais facilidade. É isso, há momentos e locais em que é mais fácil chegar até ele.
No entanto, como dizia, a grande riqueza é fazer silêncio de coração e escutar o sussurro de Deus, que por vezes reduz as palavras ao mínimo essencial. Gostei tanto de “... para que as palavras não nos levem à loucura...”. Que sabedoria está nesta frase. As palavras gritantes que hoje saltam pelos olhos dentro, com tanta informação, ou exigências de identidade para sermos isto ou aquilo. Não... não é por aí o caminho. É um sussurro que diz, simplesmente: “Amo-te, como és!”. Infelizmente, parece-me que nos afastamos com medo deste sentir de Deus. Sim, somos “meros humanos”. “Meros humanos” vistos por Ele com um carinho difícil de imaginar ou sentir.
Deus fascina-me. Não é novidade. O que se torna novo é a descoberta da beleza de Deus precisamente pelo silêncio. Na Páscoa passada, altura em que escrevi o texto que te passei, todo o meu ser “gritava” por silêncio. Não me apetecia palavras nenhumas, nem reflexões. Aí descobri a riqueza de estar, nada mais que estar, diante de Deus. Afinal, Ele não grita, sussurra em jeito de sopro. E sabes? Libertei-me de pesos que não faziam sentido. Por isso, aconteceu em mim aquilo que dizias no comentário: “leva-nos a bom porto”.
Estamos em contacto silencioso, boa?
Espero que tenhas bons voos... no silêncio!
Um beijinho,
Paulo
P.S. - Escolhi esta música como pano de fundo desta carta, por ter sido simbolicamente a “voz de Deus” numa performance que apresentei sobre a conversão de São Paulo.