domingo, 28 de março de 2010

A propósito de "Requiem" de Rui Lopes Graça...


... e em dia de Domingo de Ramos.



(Henyrk Górecki - Symphony No. 3, Op. 36, II andamento. Música da coreografia "Requiem" de Rui Lopes Graça)


Silêncio...
... enquanto absorvo a luz que recebo directamente na palma da mão. Elevada, em direcção ao foco que me inunda o pensamento e me põe a caminho.

Silêncio...
... no encobrimento do sentimento unificador das nossas almas. Escuto-Te no mesmo momento em que estás detrás da cortina translúcida, tornando este tempo uma memória, o recordar dos passos... reveladores de toda a agitação da minha saudade, da minha espera de ti...

Silêncio...
...diante do grito sincronizado, onde repetimos o mesmo gesto... as saudades... o desejo de reencontro fazem-me sair do lugar e ir em busca do que nos faz viver. E assim fico na contemplação dos raios de luz que me trazem ao coração o pulsar. Ergo suavemente as mãos... saímos, dois, três... ficamos! No suave agitar das ondas de sal. O mesmo em lágrima contido...
...naquela que sai de mim, depois de Te ver partir.

Silêncio-me...
... agora és tudo.
«O que amamos está condenado a morrer. E, no entanto, continuamos como se o não soubessemos.»
Pedro Paixão, in Súbita aflição

sábado, 20 de março de 2010

Uma reflexão solta sobre a Beleza...



“Qualquer experiência de beleza aponta para o infinito”

Hans Urs von Balthasar

Depois de três grandes “Conversas” em que mergulhei(ámos) na beleza, fico a sentir os ecos que me provocaram... Ecos que se consolidam numa palavra que me acompanha há tempos: Encontro!

O Encontro, no limite do espaço e tempo, do infinito. Traduzível no diálogo a estabelecer entre as várias dimensões de nós, humanos, ao nível exterior e interior. A beleza do encontro através do encontro com a beleza de quem está disposto a viver a reciprocidade do dar e do receber.

E, assim, deixar que a conversão aconteça, permitindo o espaço de universalidade, através da compreensão, do respeito, da integração da relação geradora de vida.

Na “conversa” (esta última) apercebi-me mais um pouco de que o entendimento é porta para a revelação.

Entender o que está para além do meu rápido ver ou escutar, o que está para além da superficialidade do momento, o que está para além do meu gosto ou desgosto desta ou daquela pessoa...

Conhecer para aprofundar um mais que se esconde no imediato, sem pensamento ou reflexão.

Depois, mais que o conhecimento, entraremos na sabedoria que conjuga a plenitude do viver. O convite ao saber viver.

A sabedoria da vida: promove a abertura ao Outro. Saio da minha casa, entro na cidade, que me aponta o pais, levando-me ao planeta e daí entro no Todo... Dá-se em mim a consciência, a revelação, o êxtase clarificador da minha pequenez que me torna grande diante do olhar Divino...

E assim sou chamado a promover a beleza do Encontro e sentir a certeza de somos criados, não para uma uniformidade, mas para uma união de corações, mais ampla que das diferenças.

Nesses passos, o Infinito descobre-se e a Beleza surge em toda a Sua plenitude, segredando continuamente: “Não temas, confia!”.