terça-feira, 30 de junho de 2020

Todas as cores



[Secção letras verdes com orgulho pela diversidade humana e dor por quem ainda morre simplesmente por ser diferente]


segunda-feira, 29 de junho de 2020

Boa recordação




[Coisas na vida de um padre] Chega-me esta fotografia de um dia muito bonito. Já passaram uns bons meses. Mas, faz sentido partilhar em dia de S. Pedro e S. Paulo, por tanto que há nesta história de vida. As colunas da unidade e da diversidade na Igreja significam tanto no respeito e no encontro. Tal como neste baptismo cheio de Vida.


domingo, 28 de junho de 2020

Tempo novo exige luz




[Secção pensamentos soltos] Estou a orientar retiro perto de uma praia. No final de cada tarde vou lá e faço silêncio deixando o coração falar. Hoje estava nublado. Sozinho, apenas ouvia as ondas. Naturalmente surgiam nomes, situações e acontecimentos. Por vezes esquecemos que vivemos algo novo em todo o mundo. A acumular à realidade pessoal, toda esta pandemia tem agitado as emoções, independentemente de se achar que é tudo uma conspiração, treta, o que for para não querer assumir a realidade que tudo mudou. Os efeitos sociais e políticos estão à vista. Os psicológicos estão a continuar a surgir. 


Fala-se de festas, mas omitem-se os aglomerados por necessidade em autocarros ou metros. Fala-se de tele-trabalho, mas omite-se tudo o que tem de ser feito presencialmente, em especial pelos mais pobres. Fala-se de colaboração, mas desde que “eu fique a ganhar mais” (dinheiro, vida, prestígio). Fala-se de preocupação pela saúde mental, mas omitem-se as condições para as ajudas e acções concretas. Fala-se de cercos a freguesias, mas omite-se a justiça social. Fala-se da necessidade de missa, mas omite-se o respeito pela diferença. 


Este tempo novo exige muito de todos nós. Mas mais de quem pouco ou nada têm. No muito que vivemos, sejamos capazes de atravessar as sombras com sentido de justiça, honestidade intelectual, compreensão, reflexão, cuidado, atenção, respeito, com luz, muita luz. 


segunda-feira, 22 de junho de 2020

Humilde não sei



[Secção pensamentos soltos sobre a vida] Penso na quantidade de certezas que há sobre tudo. Acredito de que racionalmente toda a pessoa faz o melhor que acha para si e para os outros. Na cabeça tudo é claro pelo que se aprendeu a ser bem. Os filtros mentais de aprendizagem na vida revelam como se deve ser ou estar. A tal educação formal, informal, consciente e inconsciente. É tanto. 


Mas a vida revela perguntas. Pôr-se em causa pode ser muito doloroso. Pilares da existência podem desmoronar-se com a escuridão desperta de nova aprendizagem. Ou clarão com a perda de filtros ou véus que abafam o ser. A dificuldade do passos aumenta com a incompreensão. Ou suaviza-se com os não-julgamentos rápidos. Apenas os que atravessaram a sabedoria das dúvidas sabem que há muito mais do que a vista pode alcançar. Então, vem o silêncio da escuta. E o abraço do conforto. 


As certezas dão lugar ao humilde não sei. Aí terminam as competições de existência, dando lugar a mãos dadas no caminho das perguntas que abrirão ao amor.


domingo, 21 de junho de 2020

Partilhas úteis




[Secção partilhas úteis] Diante do sem-chão que se fica ante algo forte e chocante, faça-se a homenagem desde o respeito. E também do trabalho pessoal de estar atento a quem precisa de ajuda, de desenvolver humildade e sabedoria para saber realmente como ajudar. Por vezes, é directamente. Outras, indirectamente. A fronteira é ténue. Se há dúvidas, opte-se pelo indirectamente falando com alguém que realmente perceba do assunto. 


A saúde mental, de alma, de espírito, quando está debilitada pode ser muito silenciosa. Mas não deverá ser menosprezada, em nada. Que se saiba lidar com a fragilidade do outro desde o respeito e cuidado. Aqui ficam contactos úteis:

SNS24 - 808242424 (seleccionar a opção 4 - aconselhamento psicológico)


Linha SOS Voz Amiga. Linha de apoio emocional e prevenção ao suicídio - 800 209 899

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Breve oração




[Breve oração ao entardecer em dia de Sagrado Coração de Jesus]


Agradeço-Te

o coração que a todos acolhe


Peço-Te

mansidão e humildade

no caminho a esse acolhimento


segunda-feira, 15 de junho de 2020

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Derrubar? Construir?



[Secção pensamentos soltos sobre derrubar e construir] Estou a orientar Exercícios Espirituais a um grupo. Entre os pontos e as conversas, vou lendo aqui e ali sobre estes novos tempos que vivemos para além ou talvez influenciados pela pandemia. Tenho escutado muito e vivido outro tanto que me têm levado a pensar na raiva, no ódio, na zanga, dirigidos tanto a passados, recentes ou antigos, como a pessoas e a realidades simbólicas na existência. 


Observo os rostos, escuto as vozes, leio o sentir das palavras escritas, e é muito perceptível a energia emocional de zanga com vontade de derrubar. Vontade que se torna acção, depois com gritos de júbilo ante o resultado, na sensação de libertação. Há tanta raiva contida, até mesmo em inconsciente colectivo de acumulação de injustiças, sim. A raiva, alojada na profundidade da existência e desrespeitada, tem muita influência na perda da razão. A raiva mal trabalhada cega a acção e perdem-se nuances, perspectivas, possibilidades de dialogar, eliminando tudo pela frente. Ideologia a anular inclusivamente aquilo de que se queixa não haver: justiça. 


Já estive no meio de multidões a manifestarmo-nos contra algo. Recordo uma em Paris, com cerca de 3 milhões de pessoas de todos os credos e condições (como se pode imaginar pelo número) na rua a manifestarmo-nos contra as acções do ódio terrorista e todo o fundamentalismo. Destruir para reinar ou avançar para uma neutralidade impossível é anular a humanidade. Vandalizar ou, como já li, propor que se coloquem todas as estátuas em museus, é higienizar a sociedade em mentalidade única. E isto é de extremos. Sempre perigosos. 


É preciso libertar raivas contidas. Fundamental, mesmo. Mas em modos humanizados. E daí, avançar para exercícios de reconciliação, transformando a humanidade desde a riqueza da sua diversidade, a partir do respeito e do perdão. Que bom seria que a RTP3 voltasse a passar o documentário “Para além do bem e do mal - histórias de justiça e perdão”. Há tanto trabalho interior a ser feito, a começar por mim, na construção da justiça em caminhos de reconciliação até à paz, tornando o “amor mais forte que a violência”.


quinta-feira, 11 de junho de 2020

Corpo de Deus




[Secção letras verdes em dia de Corpo de Deus, com tanto a acontecer no mundo e no coração de cada pessoa]


segunda-feira, 8 de junho de 2020

Simbolismos




[Secção pensamentos soltos sobre o simbólico] Olhei para esta nuvem e recordei os desenhos animados da minha infância sobre uns duendes, com chapéu de cone. Cumprimentavam-se a esfregar os narizes uns nos outros. Gostava tanto que, quando ia visitar os meus avós a Marmelete, procurava-os pelo campo. Duendes e fadas. Sempre acreditei na sua existência.

O mundo da fantasia é caminho de encontro com o simbólico. Estabelecer relações com mundos fantásticos ajuda a criança a sentir-se segura e abrir horizontes de criatividade. Também mais tarde, como adultos, necessitamos do simbólico para estruturar as nossas relações com a realidade, de modo a combater fantasmas pessoais e sociais. O que vi hoje é só uma nuvem, mas a minha memória e criatividade fizeram dela um rosto de duende simpático.

Quando se rasga uma fotografia, se deita uma estátua abaixo, coloca-se uma aliança, atribui-se um sentido simbólico de uma realidade que se quer transformar. Às vezes, é apenas contemplação, como a nuvem, outras vezes, são marcas de vida, com implicações sérias na responsabilidade dos actos. O simbólico tem características de união. Fico a pensar que o respeito, o cuidado e o sentido do outro está a pedir atenção, para que não se perca humanidade nos gestos e nas palavras.

sábado, 6 de junho de 2020

Flash de luz



[Secção coisas de nada] Quando a vi parecia que chamava para que a admirassem. Flash de luz a recordar a beleza da contemplação. Não resisti ao registo. Ainda mais simbólico de bons reencontros, em amizade luminosa, em tempos que nos pedem cuidar do outro. Ficou o abraço por dar. Mas, a luz, ah, a luz, está sempre lá.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Pele e afecto



[Secção coisas de corpo] É fascinante a importância da pele para o ser. E, apesar de a cor ser importante para a reflexão, há algo mais fundo a perceber: o afecto. A falta de afecto é das principais causas do despontar de violência, seja em direcção ao próprio seja exteriorizada. Muitas vezes, a educação desajustada em nome de uma rigidez doutrinal, intelectual, moral, ideológica, que também já tenha sido recebida de herança, perpetuam-se bloqueios na relação afectiva. Lendo sobre a importância da pele, de como os traumas também ficam registados na memória corporal, observando a realidade nos acontecimentos e no modo como se escreve por aqui, por ali e por aí, é gritante tudo a falar de afecto, ou melhor, da falta dele. O constante ataque e defesa, desde as pequenas coisas, às grandes, nas relações pessoais e institucionais, é sinal de que muito ainda se mantém nas estruturas primitivas do ser. Atravessar os medos implica um ajuste afectivo. É fundamental libertar a quantidade de crostas que se foram acumulando na pele, muitas em nome da sobrevivência. Tirá-las, para encontrar a vida, dói. Mas, como se tem visto, outras dores, pessoais e sociais, tornam-se mais intensas quando esse trabalho individual não é feito. A dissociação da corporeidade, começando pela pele como zona de individualização, causa muitos estragos. Reconhecer as zonas de falta de afecto em si mesmo é caminho para as integrações pessoal e social. Sem desvalorizar outras hashtags, apenas complementar, quase se poderia criar um movimento “#KnowingLoveAndHealingYourSkinMatter”.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Portimonense em destaque



[Secção coisas de nada] Ver o meu Portimonense com este destaque no L’Équipe faz brotar orgulho. Reconheço que posso roçar a hipocrisia, afinal, não sou aficionado em futebol e parece que só gosto do clube nestes momentos. Pois, não. Apesar de ser pouco aficionado, sou sócio há 40 anos. O que me leva a escrever é sobretudo o facto deste jornal francês ter escolhido, entre tantas possibilidades como júbilo do regresso dos jogos, um clube não considerado dos grandes (apesar de evidentemente o ser). Perspectivas. Ou poemas como o “Para ser grande, sê inteiro” de Ricardo Reis.

terça-feira, 2 de junho de 2020

Breve oração em #blackouttuesday



[Breve oração ao anoitecer em #blackouttuesday]

Entrego-Te
nomes de mulheres e homens que querem a liberdade tolhida por tons de pele, na estupidez de supremacias brancas, triste e indignadamente em Teu nome. 

Peço-Te
clarividência no olhar da justiça, argúcia na voz na denúncia da injustiça, sensatez na palavra ao recordar que não fazes acepção de pessoas, mas de todas as atitudes que anulem o outro.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Dia da Criança



José Almada

[Secção pensamentos soltos, repescados, por continuarem a fazer sentido, em dia da criança] Enquanto adultos educadores temos uma função principal: ajudar o bébé ser bébé, a criança ser criança, o adolescente ser adolescente. Nenhum deles é adulto em miniatura, nem uma extensão de cada pai, mãe ou educador, mas único, necessitando de quem os oriente no caminho do crescimento, da evolução pessoal. A orientação ou educação é um desafio em permanente actualização: implica viver o complexo jogo de limites amorosos e liberdades respeitadoras. O perigo situa-se nos dois pólos “podes-fazer-tudo-que-assim-aprendes” e “não-podes-fazer-nada-sem-que-seja-eu-a-controlar”. Para não estarmos em nenhum extremo destes, muitas vezes somos nós adultos que temos de permitir que o bébé, a criança, o adolescente que em nós não cresceu o faça. Sermos como crianças, como nos recorda Jesus no Evangelho, não é nos infantilizarmos. Ser como criança é permitirmo-nos ser o que somos, no reconhecimento dos limites e das liberdades entre luzes e sombras que anseiam por dissipar-se, e assim chorar choros contidos, brincar brincadeiras impedidas, amar amores plenos e autênticos. Ao sermos adultos como crianças tornamo-nos suportes dadores de vida. Bom caminho.

domingo, 31 de maio de 2020

Todas as cores




[Secção outros tons em dia de Pentecostes nestes tempos de tanto a acontecer no mundo] Em mim habitam todas as cores e nenhuma raça. Sendo homem, complementa-se na masculinidade a força do feminino. Na fé, como padre, tento libertar-me de ideologias e extremos que impeçam o amor, a vida, a paz. Creio no Espírito que dá continuidade à revolução de Deus: fazer de cada rosto lugar de infinito e de cada coração templo, na construção do Corpo que perde a necessidade de competir e estimula o desejo de colaborar com os dons recebidos. N’Ele somos profundamente humanos e plenamente divinos.

sábado, 30 de maio de 2020

Breve oração




[Breve oração em anoitecer de Pentecostes]

Agradeço-Te
a promessa cumprida em sopro de fogo
que liberta medos e dá voz ao amor

sexta-feira, 29 de maio de 2020

I can't breathe



[Secção pensamentos soltos com letras verdes] Quando começam a circular vídeos de violência não tenho qualquer tentação de ver. Mesmo que sejam a apelar à justiça. Não significa desinteresse, simplesmente escolho não o fazer. Desta vez foi diferente. Ainda sem ter visto, ecoava-me na oração o “I can’t breathe” [“Não consigo respirar!”] de George Floyd, enquanto as lágrimas saiam. Como agora, ao escrever. Sim, desta vez tinha de ver. Não pelo masoquismo, mas na empatia de saber que tristemente, como pertencente à humanidade, também deixei de respirar, acabando por morrer. Não se é o mesmo depois da morte. Não se é o mesmo depois da morte por violência. Não se é o mesmo depois da morte por violência à mão de quem nos deve proteger… seja polícia, pai, mãe, irmão, irmão, filho, filha namorado, namorada, marido, mulher.

Ao mundo falta respiração, em consciência do alento que transforma o instinto em  cuidado do outro. A profundidade que nos leva a atravessar as sombras do pior de nós, deixando transformar em humanidade. Esta violência tem gerado mais violência. É compreensível pelo emotivismo vigente, contudo têm de haver passos concretos de se encontrar a Paz. É fácil apontar o dedo, dizendo que o problema é do outro. Tremendamente mais difícil é fazer a travessia do deserto enfrentando o nosso lado escuro. Atenção, não desculpabilizo para nada nenhum agressor. Tem de haver a condenação dos actos, para além do simples despedimento. Que se faça justiça, da que não alimenta mais violência. Para isso, recordo algumas palavras de Martin Luther King do seu “I have a dream”: 

“Há algo, porém, que devo dizer ao meu povo, que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça: no processo de ganhar o nosso legítimo lugar não devemos ser culpados de actos errados. Não tentemos satisfazer a sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio. Devemos sempre conduzir a nossa luta no nível elevado da dignidade e disciplina. (…) Não podemos caminhar sozinhos.”

Que nenhuma morte justifique mais mortes. Que esta morte seja viragem para a consciência do fim de todas as fobias humanas, permitindo que todos possamos respirar digna e livremente.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Haverá um dia



[Secção outros tons quando tanto acontece pelo mundo] Haverá um dia em que o corpo não será fronteira, mas casa. A porta aberta sem trinco. À entrada, os sapatos ficam, deixando os pés tocar o sagrado de cada ser. No jardim, a mesa com refrescos e muitas cadeiras. E pufos. E toalhas estendidas a acolher o espreguiçar de tanto sofrimento. Tudo a dar lugar a quem queira participar do todo. As cores são bem-vindas à dança, permitindo que se possa respirar sem medo, livremente. Haverá um dia.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Breve oração




[Breve oração durante a tarde] 

Agradeço-Te 
o silêncio na visita a cada sombra
escutando com sagrado respeito 
os ruídos de outros tempos

Peço-Te
a lucidez para acarinhá-los
enquanto se transformam em sabedoria

terça-feira, 26 de maio de 2020

"By Heart"



[Secção pensamentos soltos sobre cultura] Nos meus tempos de estudo em Paris fui ao teatro ver “By heart” de Tiago Rodrigues. A peça fala da sua avó Cândida. Sabendo-se a ficar cega, pediu ao neto que escolhesse um livro para aprender de cor, de modo a continuar a lê-lo mentalmente quando deixasse de ver. Na folha de sala: “lancei-me numa viagem. Uma viagem literária e labiríntica que, ainda hoje, continua”.

Ao pensar na cultura, nestes dias em que se toma forte consciência da precariedade dos artistas, dos produtores, de todos os técnicos que trabalham nos bastidores, recordei o “By heart” por muito do que foi dito e que escrevi na altura a partir da peça:

Dá-se uma viagem pela literatura. George Steiner é citado a partir d’ “O belo e a consolação”. (…) O saber de cor, no coração, lugar da força dos afetos e discernimento. Aprende-se de cor, mais do que memória mental, o que se ama ou se quer perdurar. No coração guardam-se versos de poemas ou capítulos de textos que nenhuma polícia ditatorial poderá mandar queimar. Aí, de cor, ficam a amadurecer as palavras que fazem sentido à vida. Em jeito de recordação, como no ritual judaico, onde o mais novo pede ao mais velho para repetir a história dos antepassados. A explicação de toda essa viagem: a avó Cândida sempre leu durante toda a vida. Mesmo preparando bacalhau no restaurante que abriu com o marido, passando também a II guerra mundial, a mistura do banal com o profundo acontece através das palavras.


Volta à memória o que senti na peça, o que me provocou reflexão no regresso a casa e dias seguintes, até hoje: os ecos da tão necessária humanização que nos faz viver para além do biológico. Em “By heart” foram-nos dados literalmente a comer versos de Shakespeare. Bela alusão ao alimento de alma que necessitamos na caminhada de humanização. Mas, os artistas, os produtores e os técnicos que fazem da vida criação para nos alimentar a alma, precisam de reconhecimento nestes tempos, para que também possam comer e não perder a força da inspiração e criatividade.


A saúde física complementa-se com a intelectual, a relacional e a espiritual. A cultura a todas alimenta.



segunda-feira, 25 de maio de 2020

Uma joaninha



[Secção coisas de nada] Pousou. Ali ficou a caminhar pela mão. A simplicidade da joaninha fala de Primavera. Fiquei em silêncio a olhá-la e a pensar que nestes momentos de contemplação as ideologias desaparecem, as crenças esfumam-se, o clubismo não tem sentido. Sem necessidade de provar nada, apenas fica o deleitar-se. Não tira a fome. Não acaba com as injustiças. Não anula desigualdades. No entanto, a paragem provocou o agradecimento de tanto que vai para além de mim, de modo a continuar o caminho de amor ao próximo. Pouco depois, voou. 

Vigília Inaciana



[Secção Jesuítas-on-fire] Pela primeira vez, vamos ter uma celebração conjunta para todo o mundo. Será no próximo Sábado, pelas 19h em Portugal, que a família Inaciana por todo mundo se juntará a rezar em Vigília de Pentecostes online. Fica o registo para apontar na agenda. Em breve, mais informações. #TogetherAMDG #IgnatianPentecost

domingo, 24 de maio de 2020

Maturidade na fé



[Secção pensamentos soltos sobre maturidade na fé] Ser homem ou mulher de fé amadurecida, crescida, adulta, é exigente. Nos inícios, qual criança a que se lhe tem de dar comida à boca, é necessária a devida ajuda na compreensão dos mistérios. Escrevo “mistérios” no sentido da raíz “mythos”, de algo sempre novo a descobrir. Nada que ver com fechamento. Muito pelo contrário, com maior abertura de horizontes. A fé amadurecida é aquela que ajuda à libertação de acessórios, encontrando a força do essencial: o Deus da Vida e do Amor.

Os discípulos são enviados às periferias. Se olharmos a comunidade escolhida por Jesus vemos que de cultos, muito pouco; um ou outro algo bronco; e até escolhe um que o trai. Jesus na sua vida conhece a humanidade com a luz e a sombra. É nessa totalidade que a resgata para a divindade e é também o que celebramos hoje, com a Ascensão. Cristo quer que cresçamos na fé, não ficando agarrados a imagens que façamos dele. Não nos quer como crianças, a receber a comida directamente na boca dada por alguém. Todo o nosso ser, desenvolvido, é para a liberdade no acolhimento e comunhão d’Ele em mãos, como ensinaram desde muito cedo os Padres da Igreja, por serem o sinal do serviço ao outro. Quando crescemos na fé, deixamos a pequenez de horizontes e somos capazes de ir seja aonde for e estar seja com quem for a ser dadores de vida e de justiça. O adulto na fé não segrega pessoas, mas congrega. O adulto da fé não ataca pessoas nem promove a violência, mas contribui para a união. O adulto na fé não se fica a olhar o alto em espiritualismo etéreo, mas sabe que o concreto, o contexto, é realidade de Deus, por isso, sem necessidades de supremacia, seja de que tipo for, aprende a dialogar com todas as tradições.

Tudo isto é exigente, sim. Até pode ser mais confortável ficar-se acomodado na infância. Ainda assim, a Solenidade da Ascensão recorda-nos, mais uma vez, que somos chamados, não a defender, mas a anunciar a vida em Seu nome. Para isso, é preciso crescer, madurar, na beleza da fé. Afinal, Ele tem em si mesmo tudo o que somos e desafia-nos a ser participantes da liberdade de tudo o que Ele é: Amor.

sábado, 23 de maio de 2020

Corpo



[Secção letras verdes com coisas de corpo] Depois de um dia onde o corpo total, forte e frágil, doente e saudável, com desejo de reconciliação, foi tema em conversas ao longo da manhã, da tarde e, ainda há coisa de nada, já de noite.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Breve oração



[Breve oração com tanto no pensamento durante a noite]

Agradeço-Te 
o sorriso contido em espera dos abraços
ansiados há muito na oração de vela acesa

Peço-Te
o sopro leve a empurrar os dias,
acelerando os encontros de pele
em corpo e vida profundamente amados

Notas soltas



[Notas soltas pela manhã] Somos criadores e fazedores de história. Apercebo-me que há ânsia por mudanças, para que todos sejamos melhores, etc. e tal. Sim, que bom. Mas, para que todos sejamos melhores, cada pessoa tem de fazer caminho de libertar competições em provas de ser digno diante do mundo, dos outros. Não estará mesmo na altura de deixarmos competições de defeitos, do que há a melhorar, e passar a colaborar desde as virtudes, os dons e as qualidades? Se assim for, tenho para mim que a história ganhará outro rumo.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

P. Adolfo Nicolás,sj





[Secção homenagem] O P. Adolfo Nicolás, anterior Geral da Companhia de Jesus, partiu hoje para o Pai. É dia de agradecer o tanto bem de Deus que deu a muitos de nós. Homem de profundidade e sorriso fácil. Tive oportunidade de estar com ele por três vezes, em Espanha e em Portugal. Numa das vezes, em Madrid, fui o diácono da celebração. Na sacristia perguntou-me a minha história. Quando lhe disse que tinha sido comissário de bordo e tinha mudado de Companhia, deu uma gargalhada. Aproveitando a deixa, continuei:
- Já agora, que não é todos os dias que estou com o Padre Geral, queria aproveitar para dizer que estou a pensar fundar a Jesuit Airlines e, obviamente, vou precisar da sua licença.
Solta outra gargalhada ainda maior e diz:
- Vou acrescentar esse ponto na próxima reunião com o conselho geral.

Além do bom humor, o mais importante a destacar é a sua profundidade e o seu sentido de universalidade, com o desejo de estabelecer pontes. Por isso, fazendo muito sentido para os dias que vivemos, partilho uma breve parte, menos de um minutos, de uma intervenção sua em que fala de diálogo, imaginação e educação.

Também aqui fica um breve resumo da sua passagem por Portugal, em 2014: https://pontosj.pt/especial/p-adolfo-nicolas-em-portugal/

P. Adolfo, muito obrigado. Que Deus o rodeie com toda a beleza da luz eterna e peço-lhe, desde aí interceda pela humanização e encontro dos Povos.



terça-feira, 19 de maio de 2020

Semana Laudato Si'



Diogo Costa

[Secção memórias com olhar de futuro] E eis que me chegam algumas fotos do “Entre Aspas”, um campo de férias, de já lá vai mais de uma década. GOD! Partilho esta, pelo verde de trás e as cebolas na mão. Estamos na Semana Laudato Si’, após cinco anos da publicação desta encíclica tão transversal de humanidade. É sempre tempo, mas mais agora, com tanto a mudar, para recordar o equilíbrio entre a natureza e a humanidade, no sentido de ecologia integral. Mais do que um simples cuidado com a natureza, é necessário perceber o cuidado e respeito uns com os outros. Isso inevitavelmente faz perceber que ninguém tem a posse do planeta e que todos somos responsáveis pela Casa Comum. Com toda a certeza ia ajudar a preparar o refogado para mais de 50 pessoas. Sejamos uns para os outros.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Breve oração




[Breve oração ao anoitecer]

Agradeço-Te
a Vida 

Peço-Te
ajuda-me a ajustar o acessório
pondo o essencial no seu lugar

domingo, 17 de maio de 2020

Acolhimento e respeito




[Secção pensamentos soltos sobre homofobia e preconceito, neste dia contra isso] Muitas vezes estamos rodeados de ideias e conceitos que se ficam pelo abstracto do entendimento. Tomar consciência da realidade implica diálogo com o concreto: conhecer pessoas, olhos nos olhos, com as suas “alegrias e esperanças, tristezas e angústias”. Afinal, como começa “Gaudium et Spes” do Vaticano II, “sobretudo as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as mesmas dos discípulos de Cristo.” Os muitos rótulos que se colocam na condição humana, em generalizações precipitadas, promovem divisão, rejeição, anulação, vergastadas, prisão e pena de morte. 

Tenho acrescentado um infelizmente a estes “dias de”, precisamente por ainda haver a necessidade de recordar a importância do respeito humano. Já que está aí, como padre falo deste dia por conhecer o concreto em escutas como: “o meu pai chama-me depravado”; “conta-me o que quiseres menos que és paneleiro”; “eu que sempre tive fé, devo ter um pecado muito grande por ser assim”; “as pessoas da paróquia começaram a olhar-me de lado por o meu filho estar em processo de mudança de sexo”; “durante a terapia de reconversão gritaram-me vezes sem conta a palavra Deus, fazendo-me expurgar culpas”; “eu devo ter feito muito mal para ter um filho e uma filha assim”; “chego a casa tenho de me maquilhar para agradar a minha mãe, fecho-me no quarto e choro por não aguentar mais a mentira de ser e tantas vezes penso não valer a pena viver”. Isto no nosso Portugal. E, em muitos casos, partilhado depois de muito caminho de abertura por perceber que não julgo nenhuma condição de vida.

Como escrevi há dias, a vida de Jesus é convite a atravessar da margem das categorias e rótulos para a do amor. E no contexto religioso ainda há fobias, estranheza, apontar de dedos, a lamentável hipocrisia, que se deveriam começar a dissipar. Como padre, gostaria muito que este dia deixasse de existir, precisamente pelo expandir de acolhimento. Nós, cristãos, ao crescer na maturidade espiritual deveremos ser cada vez mais testemunhas da densidade do “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

3.ª Edição



[Secção Deus como Tu e Rezar a Vida] Quando soube da boa notícia estávamos no turbilhão de emoções da nova realidade do mundo. Alegrei-me. Deixei a manifestação mais pública para adiante. Acho que já está na altura, afinal, são já alguns milhares de livros vendidos. Pois, ambos os livros deram em Março o passo para a 3.ª edição. Agradeço à Sílvia, à Berta e à Liliana, a amizade e colaboração. Agradeço a todas as leitoras, a todos os leitores, também pelas manifestações nas partilhas do que mais lhes tocou. Que a luz continue a acontecer nas palavras. Ele anda por aí, nas livrarias. 

[Na foto são os exemplares que toquei pela primeira vez. Estes sim, são meus. Os outros, de quem os lê.]

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Compaixão



[Secção letras verdes no dia em que as religiões se juntam a rezar pelo mundo]

quarta-feira, 13 de maio de 2020

13 de Maio



[Secção pensamentos soltos a 13 de Maio] Maria baralhou a história da humanidade com o seu sim. Crentes ou descrentes, no melhor e no menos simpático no entendimento do religioso, somos embebidos por esse acontecimento. Nisto, acredite-se ou não nas aparições de Fátima, é inegável que estes dias 13, de Maio a Outubro, têm algo de mistério (entenda-se, de muito a pensar, a descobrir). Milhões de pessoas, das mais variadas condições, peregrinaram até Fátima. Por isso, fico sempre incomodado com as críticas fáceis, simplistas, a Fátima. Quem não foi, convido a ir, despojado de preconceitos, e viva a experiência. Depois, em honestidade de coração, em bom diálogo, falamos.

Ver o Santuário vazio de pessoas, mas cheio de presença pelas milhares de orações por Portugal e muitas partes do mundo, causa impacto. Fui lendo o desejo de muitos a quererem lá estar, como fazendo parte da sua existência de fé. Também li o desabafo de D. António Marto pela agressividade de palavras recebidas pela sua decisão em ser assim: peregrinação interior. Enquanto rezava vendo as imagens do Santuário, sabendo disto, fiquei a pensar que é mesmo necessária uma peregrinação interior em cada coração. O sim de Maria foi resultado do despojamento de si mesma, deixando o que era, para começar algo novo. É certo que se manteve muito das tradições, mas a mudança era evidente. E este hoje? Este 13 de Maio com o rasgo de peregrinação que permita a transformação de coração, não será um sim novo a dar ao mundo? De que serve ansiar por missas, por peregrinações, se se continua fechado numa bolha espiritualista a desconsiderar tudo o que vivemos?


Todos os tempos são de Deus. Estes, que atravessamos, são também de cada um de nós. Acender uma vela, rezar o terço, caminhar interiormente, é muito mais do que se imagina nos dias de hoje. Se vividas em consciência de que Deus quer fazer de cada coração um Santuário de Paz e de Encontro, pondo de lado comparações políticas, sociais e religiosas, a luz, a oração e a conversão, na sua simplicidade, ajudam a actualizar o sim de Maria, contribuindo para um mundo renovado pela colaboração, onde todas as luzes juntas formarão a grande luz da humanidade.

terça-feira, 12 de maio de 2020

12 de Maio



[Secção outros tons, especial 12 de Maio] Fátima é aquela leveza de luz apenas compreensível por quem se deixa habitar por passos de silêncio. Não é o acontecimento de há anos que me anima a fé, mas as milhares de velas que em cada ano enchem a esplanada do santuário e esta noite, dispersas de norte a sul, se juntam em oração, tornando o “altar do mundo” cada coração que se permite amar. 

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Ver e agradecer




[Secção coisas de nada] Cada vez aprofundo mais a certeza de que a contemplação de “coisas de nada” torna-se tudo na expansão do agradecimento pela vida. E há tanto que nos é dado gratuitamente. Basta parar por breves segundos e ver. Simplesmente ver e agradecer.

Vingança e perdão




[Secção pensamentos soltos sobre vingança e perdão] Quando se começa a conhecer os meandros do ser vai-se percebendo o perigo de juízos demasiado rápidos. Quando submetidos à agressividade física e à brutalidade emocional de determinados acontecimentos, é natural surgir a vontade de anular a outra pessoa. Compreende-se, que não significa aceitar, do aflorar básico de vingança, ao ponto do desejo de matar. É o nosso lado animal a dar de si. De forma mais técnica: conforme a nossa realidade, a informação vai directa ao nosso cérebro reptilíneo, activando as defesas que levam ao ataque que se pode revestir das mais variadas reacções à volta de fuga, luta ou bloqueio.

O nível de cansaço social que atravessamos é muito grande. E isso é extremamente perigoso e necessário a ter em conta nas reflexões e decisões. Facilmente surge a vontade de agir em nome dos medos, das inseguranças, das dores, eliminando todo o potencial inimigo externo como se isso expiasse os próprios males. Daí a necessidade da, passo a redundância, justa justiça, condenando o acto e promover a real e urgente protecção de quem está mais frágil. Tem sido gritante e preocupante a quantidade de apelos à morte para justiçar outra morte. Mas, será que há o direito de matar em nome de alguém que já partiu? “É o modo de impedir que outros repitam o mesmo”, poder-se-á dizer. Pois, além de ser morte sobre morte, estimula-se o educar, aliás, o formatar pelo medo e, com aproveitamento político, reabrindo a possibilidade de controlar a sociedade tornando as pessoas animais amestrados. Tal não é caminho de humanização.

De vez em quando, nos meus exames de consciência, e estes dias ajudaram a isso, pergunto: o que há de animal em mim a falar mais alto? Que dores e cansaços tenho, levando-me a estar à defesa? Tenho o direito de estar no lugar de Deus a determinar a morte de alguém? À medida que me permito a honestidade, vai suavemente despontando o perdão. Não se trata de desculpabilização, mas, impedindo que seja a morte, dou mais espaço à Vida a determinar os passos da humanidade.