quarta-feira, 30 de maio de 2018

Generalizações




N. Marcutti

[Secção pensamentos soltos]

Um mau padre não faz que todos os padres sejam maus.
Um mau jornalista não faz que todos os jornalistas sejam maus. 
Um mau actor não faz que todos os actores sejam maus.
Um mau professor não faz que todos os professores sejam maus.
Um mau polícia não faz que todos os polícias sejam maus. 
Um mau escritor não faz que todos os escritores sejam maus. 
Um mau advogado não faz com que todos os advogados sejam maus.
E por aí fora…


Todas as generalizações vêm de emotividade, de desconhecimento ou projecção de frustrações, provocando muito ruído. Mesmo sabendo que “um-mau-seja-o-que-for” mancha e é de evitar, isso não significa que se ponha tudo ou todos os outros no mesmo plano de igualdade. As discussões salutares, sejam sobre que tema for, implicam muito respeito. Achincalhar é o método usado por totalitaristas (da direita à esquerda) para menosprezar a realidade que não se gosta ou se quer anular. A formação de carácter, independentemente do tipo de crença social, religiosa e política, sabe respeitar, distinguir pessoa do argumento e, sobretudo, viver a honestidade intelectual que não embarca em emotivismo. Mas, torna-se cada vez mais difícil tal acontecer em tempos de rapidez, onde tudo tem de ser dito em meia dúzia de caracteres. Esse “tudo” acabará por reduzir-se a ataques e generalizações. A sociedade está a precisar de tanto silêncio e paragem.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Breve oração




[Breve oração ao anoitecer]

Agradeço-Te a luz de cada dia, em aprendizagens, escutas, leituras e gestos, permitindo-me aperceber do tom de voz, em palavras ou olhares que descrevem alegria ou cansaço, ansiedade ou desejo de novos rumos. 


Que nenhuma sombra impeça caminhos de Vida. 

sábado, 26 de maio de 2018

Vida como resposta



Aidan Williams

[Secção pensamentos soltos sobre a vida] Já ouvi “mais valia morrer, não faço cá falta nenhuma”. Conhecendo os acontecimentos na história dessas pessoas, compreende-se o sentir de extremo. Entre opções e realidades inesperadas que levaram a acontecimentos de grande sofrimento, muitas pessoas são marcadas pela sombra. Diante disso, a morte é por elas vista como solução e alívio. Será verdadeiramente a solução e o alívio? Não quero ir por resposta imediata. Afinal, o “não”, nos tempos que correm, é colado a uma posição conservadora e retrógrada. O “sim” é  aparentemente fresco, brilhante, com marcas de progresso humanitário. O “nim” não existe. O “são” desajusta-se como resposta… sem sabermos se é de conjugação do verbo ser ou, simplesmente, alguém saudável ou ainda o diminutivo de algum nome. Por isso, antes de respostas directas e imediatas, fico a pensar na densidade de “desejos” e “sentires” por detrás da vontade de morrer. 

Sem que investigue directamente, faço algumas leituras ligadas ao que se pode considerar o apogeu da desumanidade: o holocausto. Por exemplo, li “Noite” de Elis Wiesel. Um livro muito forte e duro, em que o autor relata as memórias da sua passagem por Auschwitz e como sobreviveu. Também li um talvez mais conhecido: “O Homem em busca de sentido” de Viktor Frankl, recordando como a sua experiência no Campo o ajudou a desenvolver a técnica de logoterapia, como saída do “sem sentido”. Posso mencionar também Emmanuel Lévinas, que mesmo perdendo toda a família, nos recorda que somos “responsáveis pelo Outro”. Inclusivamente pelo carrasco. Se assim não for, legitima-se todo o tipo de guerra e anulação de inimigos. Francine Christophe, também sobrevivente de um Campo, organizou em conjunto com a filha um congresso que tinha como tema “E se houvessem psicólogos e psiquiatras disponíveis para escutar os sobreviventes, como seria?” 


Será a morte a solução ao sofrimento extremo? Apetece-me dar “vida” como resposta a esta pergunta. Mas, não uma vida qualquer. A vida em que a pessoa que está “sem sentido” pode ser ajudada a atravessar a sua sombra, não por um químico mortal, mas por alguém que a escute sem julgamento nos meandros da existência. Tenho noção que isto pode ser visto como muito bonito, mas se verdadeiramente queremos falar de dignidade, há que tomar consciência do central dos problemas, sem dar respostas rápidas. O desejo de pôr termo à vida seguramente não é por prazer. O sofrimento está lá e não deve nem pode ser menosprezado. A solidão, as memórias feridas de tanto mal sofrido, ou ainda a brutal dor física de uma doença que aparentemente anula a dignidade não devem ser justificações para a morte. Ajudar a atravessar a sombra é exigente, tanto por parte de quem faz o caminho, como quem escuta, em profundidade, respeito e sem julgamento, essa travessia. Ao fazê-lo, não tenho dúvidas, chega-se à vida.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Aula com alunos de 8.º ano




[Aula com alunos de 8.º ano] Estamos a tratar o complexo tema da liberdade.
- Posso bater na Bia?
Um uníssono “não”.
- Porquê? O que me impede?
“Não é justo.” “Não se pode bater nas pessoas.” “Ela vai sofrer.” “Não há razão para isso.”
- Hmmm, pois. Isso tudo, sim. Mas, ainda assim, há algo que me impede: a consciência. Quando tinha a vossa idade, batiam-me, chamavam-me nomes, etc. e tal. O famoso bullying que na altura não tinha nome. Eu podia ter ficado reactivo, mas quando se forma a consciência (a estudar, a informar, a curar memórias feridas, etc.) tomamos consciência do outro e isso impede de fazer mal. Em vez de “acção – reacção”, vive-se “acção – acção”. A reacção está ligada ao impulso. A segunda acção será uma resposta consciente e humanizadora. No fundo, encontrar liberdade diante do impulso. A verdadeira liberdade dirige-se sempre para o bem do outro. A liberdade é educada… e educação é liberdade. Tudo isto impede-me de bater na Bia ou seja em quem for.

Depois mostrei-lhes esta conferência, de Shameem Akhtar, sobre a importância da Educação para a liberdade:


quinta-feira, 24 de maio de 2018

Editorial PPCJ - Eutanásia


Há temas sobre os quais tenho dificuldade em escrever via redes sociais. O perigo da superficialidade do trato diante da delicadeza de decisões de vida ou de morte é grande. E essa superficialidade, infelizmente, vai estando muito presente, levando a muitas conversas em que não se dá sentida escuta sobre ser humano, condicionando e orientando caminho de todos. Aqui fica a posição oficial da Província Portuguesa da Companhia de Jesus sobre o tema “Eutanásia”.


quarta-feira, 23 de maio de 2018

Verdade sem véus




[Breve oração antes de adormecer]

Agradeço-Te a verdade sem véus,
deixando vislumbrar o que é,
esmorecendo justificações.

Que siga na liberdade de amar.

terça-feira, 22 de maio de 2018

Expo'98




[Secção memórias] Tinha 18 anos. Comprei um bilhete “três dias”. Recordo a emoção da viagem de Portimão a Lisboa, em ansiedade por ir a algo fantástico cheio de vida. Atravessei a Porta do Sul e tinha diante de mim o Pavilhão da Utopia. Milhares de pessoas, tão diferentes, as exposições, os simuladores, os espectáculos, a abertura de horizontes na beleza de tanto a descobrir. Vinte anos passaram. Não me sinto velho. Sinto-me agradecido pela importância dada aos Oceanos e por nós, portugueses, sermos capazes de continuar a ir longe, nesse encontro e respeito pela diversidade. Basta querermos. O Mar não é limite, mas potencialidade de vida. Recordar a Expo'98 é a avivar a certeza de que, se quisermos, não somos medíocres.

Aqui fica “Pangea”, o imponente hino da Expo'98, de Nuno Rebelo, digno da diversidade e dos Oceanos:


domingo, 20 de maio de 2018

Voos em dia de Pentecostes



[Coisas na vida de um padre] Estacionava, chegado da Missa de Pentecostes. Olhei e vi uma rola a bicar outra. A bicada voou contra o muro e tombou. A outra voou longe. Aproximei-me e segurei-a. Deixou-se ficar um tempo na minha mão. Era um borracho e estava a aprender a voar. Abriu as asas novamente e voou rasteiro. Chega a mais velha e começa a andar às voltas, enquanto agitava as asas em convite ao mesmo movimento. Afastei-me e observei a continuação do ensino de voo. Em dia do Espírito Santo, penso que Deus também nos “bica” e “agita asas” para que voemos. O medo fala, como aconteceu aos discípulos. No entanto, em dádiva de Paz, a Sua insistência para que voemos alto é grande. Mas não é só voar alto, é também iluminar e falar a linguagem de Amor a toda a humanidade.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Futebol, violência e liderança




Sonalini Khetrapal


[Secção desabafos sobre futebol, violência e liderança] Os últimos dias em Portugal têm sido marcados de forma mais vincada pelo apogeu de desumanidade na relação humana: a violência física e psicológica num clube de futebol. A violência na realidade futebolística infelizmente não é novidade. A ânsia de ganhar a todo o custo o poder tem levado à corrupção e ao desejo de poder, pelos vistos, a todo o custo. O presidente que dirige esse clube está a gerir a tensão da pior forma. Qualquer pessoa que esteja em posição de liderança tem responsabilidades diante das decisões que toma. Infelizmente, o poder assume proporções desmedidas para quem tem a sua escala de valores alterada. Um líder que não pensa no outro, entendendo-se esse outro como um indivíduo ou um grupo, mas em si mesma, mas em si, passa a ser um ditador. O líder, seja ele político, social ou religioso, carrega em si o simbólico peso de modelo, de testemunho, de alguém a quem seguir. As primeiras figuras simbólicas de liderança são os pais e as mães. No entanto, as de responsável, político, social (desportivo, por exemplo) ou religioso, têm um peso muito grande diante do grupo a seu cargo. Se incita à violência, mesmo que seja aparentemente apenas nas palavras, esta surgirá também fisicamente. Isso pode ser em Campo, como fora dele. A situação é grave pela realidade concreta da violência propriamente dita e pelo carácter simbólico que a mesma significa, e, a meu ver, é resultado de contínua falta de educação e formação no respeito ao outro. O líder que se torna insensível, cego e surdo à realidade concreta, passa a ser um ditador. Mais ou menos encapotado, mas um ditador. E em ditadura há desonestidade intelectual e moral alimentadas por poder desmedido, que apenas levam à violência. Parece que em Portugal há dificuldade em assumir as consequências quando acontece algo negativo. Os efeitos são devastadores, sobretudo nesse perigoso caminho que leva a violência. Quando se perde a credibilidade, a solução de honra e mínimo de sensatez é a da demissão do cargo, pelo bem a instituição e das pessoas de bem que continuam a acreditar nessa instituição, assumindo as responsabilidades e consequências inerentes à má liderança.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Entrevista à Agência Ecclesia




[Secção “Deus como Tu”] Aqui partilho a entrevista à Agência Ecclesia, feita por Paulo Rocha, na Conferência Episcopal Portuguesa.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Deus como Tu - Braga (e 2.ª edição)



Ana Oliveira



Andreia Costa

[Secção “Deus como Tu”] É sempre bom voltar ao CAB. Voltei e, desta vez, foi especial. Agradeço muito a amizade de Bruna Pereira e Luís Pimenta Lopes, que comigo estiveram à conversa, e que boa foi, na apresentação de “Deus como Tu”, como a de Rita Fernandes, directora do CAB, e de todos os Amigos (até de Paris) presentes, enchendo a casa. “Avassalador” é o sentimento que me acompanha com tudo, em especial com os ecos que me chegam sobre o livro, em especial das boas interrogações e aproximações a Deus. Ainda mais quando, pouco antes da apresentação, a Liliana Valpaços, da Matéria Prima, me dá a boa surpresa: em menos de um mês depois de estar à venda, a 2.ª edição está a ser impressa. “Senhor, que eu seja terra fecunda ao teu serviço.”


segunda-feira, 14 de maio de 2018

Breve oração




[Breve oração ao anoitecer] 

Agradeço-Te os milagres de cada Educador(a) 
que, apesar de todas as sombras, ama e serve. 

domingo, 13 de maio de 2018

Comunicar, testemunhar e anunciar



[Secção pensamentos soltos sobre coisas na vida de um padre] Começo por agradecer todas as manifestações de carinho que tenho recebido nestes dias. Tendo em conta os ecos, a minha oração, e em especial hoje, tem andado à volta do comunicar, de ser testemunho e anúncio da Vida de Deus, como nos desafiam as leituras da Ascensão. Parece-me que só é possível comunicar com verdade aquilo que se vive não apenas de cabeça ou de coração, mas de corpo inteiro. É um desafio constante, sabendo que quanto mais público mais me sinto à busca da coerência e profunda autenticidade. No fundo, é o desafio de saber(mos) viver a medida justa, sem sub nem sobre-valorização, detectando as tentações que desviam do essencial. Isto seja a pensar tanto na reportagem da passada quinta-feira, que agora publico, como no caminho de expansão que “Deus como Tu” está a seguir. Por tudo isto, ainda hoje dizia “a homilia também é para mim”. Aqui ficam algumas coisas que preguei: somos convidados a olhar, nem para o alto, nem para o baixo, mas para a frente, reparando que não há na dignidade nem melhores, nem piores, todos somos iguais no Corpo que é o próprio Cristo. Ele, a nós, ama-nos sem interrupção de comunicação. Agora depende de nós se abrimos ou fechamos esses canais de relação, que ajudam a curar, a salvar, a viver plenamente. E que seja sempre em Verdade, em autenticidade, em profundo amor que não se cansa de dar vida.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

2.º lugar de vendas na Wook





[Secção "Deus como tu"] Liga-me a minha querida editora, Liliana Valpaços: "Já viste o facebook?" Vou espreitar a página de lá da Matéria-Prima Edições e eis que vejo "Deus como Tu" no segundo lugar de vendas na Wook. Haja aproximação da fé. Sou e estou feliz! 

Profissionais... com Corpo




Daniela Ferreira
[Coisas na vida de um padre] Workshop “Profissionais... com Corpo”, para alunos do ensino Profissional. Ir ao básico: conhecer em corpo que somos. No final: “Stôr, gostava de repetir”, dito por todos.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Esta noite...






[Coisas na vida de um padre] Fechar bagageiras no Airbus 330 da TAP. Será que estou a fazer refrescamento para voltar a voar? Para mais informações, ver hoje o Jornal da Noite na SIC.