domingo, 28 de fevereiro de 2021

Breve oração



[Breve oração antes de adormecer]


Agradeço-Te

estares por nós na montanha 

a orientar o exigente caminho 

da liberdade, do encontro e da entrega,

permitindo o amor se espalhar como

estrelas no céu e areia das praias no mar


Peço-Te

limpidez na escuta da Tua voz 

e assim descer até Ti nos outros


sábado, 27 de fevereiro de 2021

Tudo e todos


[Secção letras verdes] Na transição da primeira para a segunda semana da Quaresma.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Chuva. Sol.



[Secção coisas de nada] Há pouco choveu. Gosto da chuva. Até mesmo de tempestade. Mas no seu tempo. Isto de ser português levou a que pudesse conhecer e saborear o equilíbrio das estações. O demasiado em cada tempo desajusta. Precisamos da ponderação que reconhece um pouco de tudo na quantidade certa para estabelecer o respeito pelo equilíbrio. Reconheço que por vezes há coisas que não dão jeito. No entanto, numa visão global, há a necessidade do equilíbrio dos tempos, dos seres, da Terra, para além de mim. Depois brotarão as flores, os frutos, as sementes. E o sol iluminará nova compreensão de vida e da chuva.




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Corpo: densidade de Deus


[Secção conversas soltas em coisas de corpo]

- P. Paulo, porque é que no mundo religioso se fala tão pouco sobre corpo? 

- Como assim?

- Quando se toca em temas sobre a sexualidade na adolescência ou no casal é tudo tão, ora pudico, ora moralizado, ora abafado, ora amedrontado, ou, nem sei se pior, espiritualizado. Depois, os risos infantis, mesmo entre adultos, ou os silêncios que falam mais de desconforto que outra coisa. 

- Ainda há muito medo. A corporeidade é tão densa de Deus, que há medo de ir mais fundo nesta relação. 

- Densa de Deus? Nunca tinha ouvido a expressão.

- O mais fácil é espiritualizar a realidade, num etéreo bonito e quase cândido. No entanto, Deus habita a matéria. Além de a ter criado, assume a existência em carne, em corpo, onde todo o sentir fala d’Ele. O medo de se falar de corpo é por implicar enfrentar a verdade pessoal, do prazer ao trauma, do deleite ao sofrimento, nas muitas dimensões das diferentes relações. Isso é de tal maneira duro, intenso e exigente que as muitas defesas internas impedem o caminho de liberdade. O medo também surge em preconceitos a desmontar se se quer crescer também na fé. Falar de corpo é muito mais que falar de sexo. No entanto, falar de sexo num contexto de uma relação de casal pode ajudar a compreender luzes e sombra da relação. E, sim, a vida espiritual séria e transformadora é profundamente corporal. Vamos voltar à respiração?

- Sim. Sentir-me totalmente ser, para me entregar plenamente.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

"El daño que se hereda"


[Secção boas leituras] Que valente abanão na compreensão de muitos traumas. É um tema delicado, mas tão sério, isto da transmissão de traumas entre gerações. Cada vez mais confirmo que não há crianças mal-comportadas, mas mal amadas. E, claro, mal amadas por adultos a quem lhes falta aprofundar o amor por si mesmos. “Na tua idade já fazia mais do que tu agora”, “também levei umas valentes e só me fizeram bem, cresci com elas”, “na família sempre fomos assim, não vais ser tu diferente”, e outros mimos que tais, anulam e abrem portas a danos e traumas. Os cordões umbilicais que não se cortam, infectam e matam. Acompanhar o crescimento é mesmo muito sério.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Dia de todas as cores




[Secção outros tons em Quaresma]


Anoitece: 

arrasta-se o mesmo ritual

na pressão do igual

sempre igual para agradar a sociedade 

e os modos de ver Deus


as preces de ontem ofuscam o silêncio 

do grito cansado de repetir 

o sacrifício de anos


quando entenderemos que Deus

traz o amanhecer?


no dia de todas as cores

sem sapatos nos pés


domingo, 21 de fevereiro de 2021

Silêncio e escuta


[Secção pensamentos soltos] Há uns anos fui a um congresso a Barcelona. Passei pela belíssima Igreja de Santa Maria Del Mar, onde Sto. Inácio de Loiola ia pedir esmolas. Nessa zona, na pequena capela lateral, foi colocada uma estátua de Inácio nesse gesto para (sobre)viver. Aí fiquei um pouco em silêncio. 


A Quaresma é tempo de silêncio. Tantos santos, conhecidos e desconhecidos, canonizados ou não, encontraram-se a si mesmos e a Deus pela exigente experiência do silêncio. Naquele tempo não havia ruído tecnológico e informativo. Ainda assim, os movimentos interiores, pelos sentimentos, emoções, desejos, sonhos, estavam presentes na vida. O silêncio torna-se o tempo e espaço de escuta de tudo isso. Limpar os ruídos, escutar o sentir, entre memórias e imagens, abre oportunidade de perceber quem se é e o seu contributo na dádiva de si ao mundo. Sim, para os crentes, é caminho de escuta da vontade de Deus para nós desde a nossa vida concreta.   


O silêncio, bem vivido e orientado, é fundamental para a consciência da importância de quem somos e a que somos chamados. Por outras palavras, o respeito por nós próprios através do espaço e tempo que nos dedicamos, de modo a ir percebendo a vocação a colaborar por um mundo melhor. 


sábado, 20 de fevereiro de 2021

o coração abre-se


[Secção letras verdes] Depois de ter estado em dois fóruns com autênticas, fortes, sentidas e humoradas partilhas.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Quarta-feira de Cinzas


[Secção outros tons em Quarta-feira de Cinzas] Gosto de recordar-me pó. Esse pó da terra primordial que somos chamados a regressar, o qual Deus modela e insufla o Seu alento. No presente, no hoje, no agora. Nos tempos que vivemos penso na fragilidade como cinzas sopradas. Somos chamados à Vida, sem esquecer sermos matéria que quebra e se desfaz em erros, falhas, pecados, possibilitando a porta à fértil compaixão. Hoje é dia de reconhecimento de que o futuro está aberto a algo novo se assim o permitirmos. É o modo de preparamos o húmus, ou a humildade. Desde a oração que se faz de silêncio e infinito.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Memórias em Carnaval



[Secção memórias em coisas de nada ainda na noite de Terça-feira de Carnaval] Tenho estas fotos do carnaval de há uns anos. Bastantes anos. A minha sala do infantário foi toda mascarada de índios. Excepto eu. Quando era pequeno tinha um fascínio pelo Super-homem: queria voar e ter poderes para ajudar os outros, tal como ele. A vontade era tanta que tinha de me mascarar de Super-homem. Não o sou, e que bom. Mas voei e tenho poderes a partir de Deus, que espero usar sempre para ajudar os outros. É tão importante incentivar as crianças a explorarem os sonhos e a criatividade. Nestes tempos de pandemia somos ainda mais chamados a essa criatividade. Sou dos que acredita que os sonhos podem realizar-se. Em modos diferentes, mas podem. É preciso trabalho, persistência, vontade, força e colaboração uns com os outros a animar. Bons poderes e bons sonhos de vida!




domingo, 14 de fevereiro de 2021

S. Valentim



[Breve oração em dia de S. Valentim]


Agradeço-Te

o amor feito carne da mesma carne,

ossos dos mesmos ossos,

em trocas de olhar cúmplices,

mãos entrelaçadas,

abraços demorados,

vozes escutadas,

sem tempo, gratuito e paciente


Entrego-Te

os casais de terra e de céu


Peço-Te

ajuda-os a ser sempre autênticos 

e cultivar a curiosidade 

do amor de carne e osso


sábado, 13 de fevereiro de 2021

Gosto da noite.


[Secção coisas de nada] Gosto da noite. O silêncio abre ainda mais as palavras do livro, a escuta na oração, o voo dos pensamentos. Até gostar da noite, receava essa chegada, onde os ruídos se acalmavam e os monstros do medo apareciam. Era o desconhecido. Até que das trevas se faz luz. Libertam-se os véus da alma e agradeço a verdade enquanto respiro o Espírito. O silêncio dá espaço à vida no inconsciente. Deus é no silêncio. Gosto da noite. E aí rezo nomes e vida.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Riso em oração



[Secção conversas soltas em tempo de pandemia] - P. Paulo, sou uma pessoa que gosta tanto de rir, mas no meio de tanta desgraça é falta de respeito. 

- Há vários tipos de riso. 

- Sim, sei, mas seja qual for, sinto-me estranha. Os mortos, os hospitalizados, os profissionais a dar no duro e nós a rir por qualquer motivo.

- Lá vem o moralismo entranhado, com o “muito riso, pouco siso”. Uma coisa é gozar, em atitude de desrespeito, outra é permitirmos que o humor nos ajude a suavizar a vida. O humor também é sinal de amor. E é natural nos momentos mais tensos sentirmos a vontade de rir. Há a sabedoria de corpo: libertam-se hormonas que ajudam a suavizar a tensão e assim a pensar melhor. Quando lhe der vontade de rir, torne oração o riso e a gargalhada. Ao fazê-lo está a libertar hormonas espirituais para o corpo social. Todos ganhamos. Há tanto a agradecer aos bons humoristas que nos ajudam a viver com mais suavidade os dramas da vida. 

- Ai, P. Paulo, tanto muda com uma boa gargalhada. Isso, vamos dar amor, saúde, vida ao mundo pela boa-disposição e alegria.


[A todos os humoristas que trazem humanidade a estes tempos pela gargalhada, obrigado! Que recebam de volta a dobrar a luz, a vida e amor que transmitem.]


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Abraço em aceno de mão



[Secção pensamentos soltos em dia de N.ª Sr.ª de Lourdes e dia mundial do doente] As janelas abrem a possibilidade de luz. Pode ser do sol, como de encontros. Com as visitas condicionadas, a janela encurta a distância em segurança. Podemos ter todas as videochamadas, e que maravilhosas são, mas o aceno de mão, ainda que longe, transforma-se em emotivo abraço. Assim foi, hoje, a nossa visita ao meu pai. Mantendo o humor, a alegria de viver, as motivações em alta, e a muita gratidão por todas as pessoas que perguntam por ele, hoje à janela esteve de pé pela primeira vez desde há mais de dois meses para nos ver e acenar ao longe. 


Estar doente é um grande abanão de alma. Conforme a intensidade, tanto muda. Recolocam-se as questões da existência, dando espaço e tempo ao lugar da fragilidade. Acentua-se a consciência da beleza das pequenas coisas. Reconhece-se o fundamental da relação, em especial no gesto do cuidar. Somos criados para a saúde, mas na condição biológica, sem que se deseje, a doença pode surgir. Se bem aproveitada, contribui para a cura da sofreguidão do ter, de modo a dar mais lugar ao ser. 


Ao longo destes dois meses, a acompanhar as pequenas vitórias do meu pai, com coisas tão aparentemente simples como voltar a mastigar e permitir saborear a comida, tenho pensado na importância da vida, onde é que faz sentido ganhar tempo, o que somos chamados a fazer enquanto humanos. É tão simples e de grande complexidade: a amar. Na minha oração de hoje recordo todos os que amam, em família, em dedicação profissional no cuidar, nos que passam mais dificuldade, pelos doentes esquecidos na falta de amor. Assim, não havendo outras possibilidades, que hajam janelas a permitir luminosos encontros que encurtam o abraço com acenos de mãos. [A fotografia não sendo a melhor, ficou como registo do abraço ao longe.]


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

as mãos a criar humanidade

no barro dócil, insuflando desejo

de liberdade em dons e perguntas 


Peço-Te

manter viva a memória 

donde humildemente vimos

e, convertendo o coração a Ti,

buscar a resposta do regresso

à árvore da Vida


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Pensar, respeitar, cuidar


[Secção pensamentos soltos em tempo de pandemia] É fácil perceber que aumenta o cansaço global ante isto tudo. As saudades, as falta das relações agora distantes e a intensidade das muito próximas, por vezes, demasiado, o efeito da ignorância emocional, os medos, tornam-se uma mistura perfeita para se estar muito mais reactivo, diminuindo a paciência e levantando-se defesas abrindo portas à agressividade. É preciso tomar consciência destes mecanismos. Em especial, aqui nas redes. A sensatez vai perdendo espaço e a opinião carregada de ofensa, dourada pela “liberdade de expressão”, dá voz à anulação do outro.


Conhecermo-nos é fundamental para perceber como podemos sair do emotivismo em racionalidade. A capacidade de pensar é uma importante característica do ser pessoa. No entanto, pensamos através do sentir. Se ficamos apenas pelo sentir, sem reflexão, estamos a deixar que a reacção tome lugar. O outro será visto como inimigo a eliminar. Atacamos a pessoa e não a sua atitude ou comportamento. Moralmente, se queremos estar no parâmetro humano e não animalesco, não se pode fazer ou dizer tudo. E descarregar as frustrações de forma errada, em ataque mesmo a quem possa ter feito mal, é caminho para gerar ainda mais cansaço e, inclusive, ódio. 


O que vivemos é IMENSO. Acredito que se pode diminuir o impacto dos efeitos em cada pessoa. Um dos caminhos é seguir na grande oportunidade de descoberta ou continuação de aprofundar a interioridade. Desde o silêncio (nem que seja por 5 minutos), escutando as emoções, ganhando distância da realidade e assim vê-la de outra perspectiva, acalma as reacções, abrindo luz no que faz sentido no agir. Isto implica o respeito muito profundo consigo mesmo e com os outros. Pois, isso, respeito. Em conjunto com o pensar e o cuidar, o respeito é uma importante característica do ser humano. Pensemos a realidade que nos envolve, respeitemo-nos, dando espaço ao acto de cuidar.


domingo, 7 de fevereiro de 2021

Breve oração



[Breve oração antes de adormecer]


Agradeço-Te

o exemplo do silêncio de oração 

para manteres o centro, 

sem deslumbres de idealismos


Peço-Te

consciência da vulnerabilidade

e assim, tal como Tu, viver coerência, 

nas palavras e nos gestos


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Perguntas e respostas [de hoje]


[Secção pensamentos soltos] “Fico espantado por se poder dar respostas de ontem às perguntas de hoje.” Este pensamento do P. Pedro Arrupe,sj é tão actual. O P. Arrupe partiu faz hoje 30 anos. O seu amor a Cristo fazia com que se actualizasse desde o mistério da encarnação. Reconhecendo as perguntas intemporais que pedem respostas situadas no tempo existencial, o P. Arrupe observava a realidade concreta, buscando os meios para que a vida e a dignidade humana tivessem sempre lugar no aqui e no agora. No meio de uma pandemia, alguém que estava em Hiroxima quando caiu a bomba deixa-nos um legado humano e espiritual a avivar-nos a esperança de que não são idealizações ou ideologias que cuidam, mas braços, mãos, corações, olhares e escuta de quem quer cuidar o outro. 


Os tempos que vivemos são de grande violência em muitos sentidos. Não quero comparar com uma bomba atómica, mas os efeitos psicológicos do inesperado, do incógnito, da imensa consciência da fragilidade, abalam-nos o ser. Por isso, é preciso ganhar distância para saber o que cada um, cada uma é chamado a viver. A realidade está em transformação e o cansaço começa a imperar. Então, é a altura de perceber qual a pergunta que encaminha à autenticidade. Na gestão emocional, relacional, profissional, familiar, o que é realmente importante e fundamental?


O P. Arrupe vivia em profunda relação de criatura com o Criador, que Sto. Inácio impele nos Exercícios. Diante de Deus tinha consciência da situação concreta, sem comparações, rodeios ou auto-enganos, de modo a chegar à resposta do que havia a fazer. Mais do que nunca, as paragens para respirar, tomar consciência do sentir e do viver, rezar, amar, são meios para serenar competições de super-seja-o-que-for-humano, e, acolhendo a fragilidade, buscar caminhos de encontro, ajuda, cuidando da saúde mental, espiritual, relacional, vital. O hoje não é nova normalidade, mas uma passagem para aprofundar o amor, por ser, nas palavras do P. Arrupe, “a dimensão definitiva e global do ser humano, dando sentido a todas as outras dimensões. Só quem ama é que se realiza plenamente como pessoa.”


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Dia do Consagrado


[Secção boas surpresas em dia do consagrado] O consagrado é aquele que se deixa surpreender pela vida de Deus. Mesmo sem perceber muitas coisas, ainda assim não se deixa abalar por não ter certezas, abraça a vulnerabilidade e desde aí entrega-se. E é a surpresa de S. Tomé que me chega hoje. Aliás, chegou há dias, mas como estive fora não tinha recebido e, hoje, em dia do consagrado recebo este maravilhoso presente assinado por Ruben Ferreira - Fine Arts. Tanta luz neste olhar ante Cristo Ressuscitado. Sim, Ele que é a Luz das nações, abre-nos novas perspectivas perante a dureza da vida. Por isso, enquanto consagrados somos chamados a ser esperança e amor, na fé Àquele que nos ama primeiro.