quarta-feira, 27 de abril de 2022

A beleza do concreto


[Secção coisas de nada] Depois de algumas conversas, dou um pequeno passeio pela quinta. Enquanto penso no que escutei, entregando a Deus cada pessoa, detenho-me nos pormenores. Pode ser a cor das flores, um ramo, uma teia de aranha. Desta vez, foram as gotas sobre as pétalas. Pablo d’Ors, no Biografia do Silêncio, escreve que o silêncio leva-nos à aceitação da vida tal qual é. E é tão difícil. Aceita-se facilmente as gotas nas pétalas: é óbvio. Mas apercebo-me da dificuldade em aceitar sobretudo o que não se gosta em nós, na família, nas relações. Idealiza-se e fica-se frustrado por tal não ser assim. Depois há o que chamo o duplo sofrimento: sofre-se porque algo está mal ou desajustado e sofre-se porque se sofre porque algo está mal ou desajustado. Isto é um gasto muito grande de energia emocional, até mesmo espiritual. O abstracto tem lugar na imaginação, na fantasia, importante para o simbólico, mas o concreto é, passe a redundância, o que é. Há a libertar o sofrimento porque se sofre e deter-se no que realmente faz sofrer para perceber o que posso fazer para integrar, curar, libertar. Desde os problemas com a família à riqueza dos dons pessoais, é na aceitação do que é que se dá passos de transformação. A natureza não idealiza, vive a beleza do concreto, no aqui e no agora. Agradeci o momento de beleza e segui caminho.


terça-feira, 26 de abril de 2022

Alegria de ser padre


João Almeida


[Breve conversa num aperitivo de casamento] 

- P. Paulo, o que mais gosta em ser padre?

- Tanta coisa. Mas assim rapidamente: à semelhança de Jesus, ajudar as pessoas a serem mais livres e felizes. No amor, claro. Somos mesmo chamados a dar vida espiritual e humana. 

- É fácil ser padre?

- Em que sentido?

- As pessoas já não ligam tanto à Igreja e aos padres.

- As pessoas já não ligam a instituições que sejam castradoras, infantilizadoras, e paternalistas. Ah, e padres que sigam esse modo. Agora, que a sede da espiritualidade e de Deus está a aumentar, está, com questionamentos sérios sobre a vida e sobre a fé. É preciso saber acolher, escutar e orientar. É toda uma aprendizagem. E com humor e amor, convite ao silêncio e escuta de si, para lá de julgamentos rápidos, vontade de servir de forma livre, vão-se fazendo caminhos de encontro com a fé, desde a liberdade e responsabilidade.


segunda-feira, 25 de abril de 2022

Breve oração


[Breve oração a recordar a Liberdade]


Agradeço-Te

poder sonhar sem ser coagido

com palavras nem armas

deixando que a oração seja lugar

de verdade e liberdade a levar

paz, respeito, justiça, vida, luz

a quem não tem e a quem tal impede


Peço-Te

responsabilidade

para que a minha liberdade seja livre

e próxima de humanidade e amor


domingo, 24 de abril de 2022

Dias bonitos


[Coisas na vida de um padre] Começou a época alta de dias bonitos com casamentos e baptizados. Este fim-de-semana foram 3 casamentos e 1 baptizado. Amanhã mais um de cada. Hoje, foi dia de abençoar finalistas em Famalicão. Disse-lhes que o dia era muito bonito: a terminar a luminosa oitava de Páscoa com a Divina Misericórdia, ainda mais com a passagem sobre a fé de Tomé. Falei-lhes da importância da fé nas relações, sobretudo naquelas em que tantas pessoas irão confiar neles e nelas como profissionais das muitas áreas de estudo, sabendo que o primeiro a ter fé em nós é o próprio Deus. Houve muita emoção, bastantes gargalhadas. Também deixei os conselhos de não ficarem com mentes pequenas em fezadas ideológicas, de continuarem a estudar, a ampliar o saber, a serem homens e mulheres de paz, reconhecidos e agradecidos na vida, família, educadores e amigos, recordando ainda que não somos máquinas de uma sociedade, mas pessoas. No final, depois da benção, queriam uma fotografia. Então, lá tirámos a selfie de fitas no ar. Haja animação e gente feliz.


quarta-feira, 20 de abril de 2022

Cansaços


Henrique Almeida


[Conversas soltas com a devida licença para partilhar] 

-É impressionante como tudo muda ante o limite. Achava que conseguia tudo, que tinha de mostrar todo o trabalho impecável. E ainda mais quando era o disponível para tudo. 

-Imagino a famosa dificuldade do não.

-E de que maneira, P. Paulo. Fica mal dizer não no trabalho. Parece que somos considerados menores. Tinha uma colega que definia as horas de trabalho. Eu ouvia os comentários de corredor: “é das que gosta de trabalhar pouco”, “belas vidas não fazer nada”, “deve viver dos rendimentos de alguém”.

-A facilidade com que se julga, sobretudo a partir de projecções dos próprios desejos.

-Mesmo. Confesso que a invejava. Mas eu não dizia não. Até ao esgotamento. Foi tão subtil, até todo o ser arrastar-me para o hospital em exaustão.

[Baixa a cabeça.]

-Porque baixa a cabeça enquanto recorda esse momento?

-Nem me tinha apercebido. [Silêncio] Na verdade, sinto vergonha por ter falhado.

-Consigo ou com o trabalho?

-O trabalho tornou-se o centro da minha vida.

-Como um ídolo?

-Como um ídolo que me pede mais e mais. 

-De quem tem verdadeiramente medo de defraudar com o não?

[Olha-me fixamente.]

-Todas as pessoas que apostaram e acreditaram em mim: pais, educadores, chefes. “Tu és o melhor da turma, logo tens de ser o melhor em tudo.” E quem diz turma, diz irmãos e equipa. Isso foi entrando e tinha de ser o melhor. Quase como que Deus a que todos acorriam e sabiam que tudo fazia. Era exasperante. 

-E agora? 

-Nestes tempos de silêncio, apercebo-me que tenho mesmo de mudar. Estava a morrer e, ironicamente, com profissionalismo.

-Quando pensa dizer sim a si? O não e o sim são faces da mesma moeda.

-Aprendi isso à força. E faz sentido libertar-me deste ídolo do trabalho. 

-É aqui que entra o discernimento. Não tem de deixar o trabalho, mas a vivê-lo de outra forma. Bem, e se fizer sentido, a mudar radicalmente.

-E os medos?

-Trabalham-se. Afinal, parafraseando Jesus, de que vale ganhar o mundo inteiro, ser o melhor, se perde a alma, a vida, o sentido. 

-Há tanto mais para descobrir. E é tão libertador poder fazê-lo sem julgamentos, sobretudo sem chegar a limites.

-Haja caminho de liberdade.


terça-feira, 19 de abril de 2022

4 anos - Deus Como Tu



[Coisas na vida de um padre em recordação] Faz hoje quatro anos da apresentação de Deus como Tu, o meu primeiro livro, por Sónia Morais Santos. Recordo muito bem o dia, a emoção, a amizade, desde a primeira grande conversa com Liliana Valpaços, na altura responsável pela Matéria Prima, que incentivou bastante a publicação com a preciosa ajuda de Sílvia Baptista. Também sinto profundo agradecimento pelos muitos comentários à leitura do livro e o impacto na vida de quem leu e lê tanto este, como o Rezar a Vida, ao longo destes anos. Eles continuam aí pelas livrarias, distribuídos por Clube do Autor. Ah, impossível não dar grande sorriso quando vejo o nome em destaque numa prateleira da FNAC. 


segunda-feira, 18 de abril de 2022

Poética da vida


[Breve nota com secção boas leituras] Faço uma pequena pausa no que leio. Se há coisa fascinante é o ser humano. Preparo uma pequena formação sobre corpo e moral sexual na Igreja, que aproveitarei para um texto e tem ajudado, além de outro livros, a leitura de Edgar Morin. A sapiência deste homem é impressionante, tanto pelo conteúdo, como pela simplicidade no modo de expressar as ideias. Partilho um pequeno excerto: “A polaridade prosaica da vida comanda tudo o que fazemos por limite, para sobreviver, para ganhar a vida. E há a polaridade poética da vida, ou seja, aquela em que pessoalmente se floresce, onde se vive em comunhão, onde há os momentos de harmonia e de alegria. Momentos que dão amor, amizade e júbilo. É aí que é viver, viver poeticamente; enquanto a parte prosaica da vida apenas nos permite sobreviver. (…) Tudo o que nos transmite um sentimento de beleza contribui à qualidade poética da vida. (…) O pensamento político não deveria ignorar mais as necessidades poéticas do ser humano.”

domingo, 17 de abril de 2022

Conversa com Sílvia Pinto


[Coisas na vida de um padre] Estive à conversa com Sílvia Pinto sobre caminhos de espiritualidade. Ela publicou hoje, em dia de Páscoa. Aqui fica o link: 

https://open.spotify.com/episode/1vuk4G7mZTSMgf1jM5dgnc?si=6pKkW1wSRg21GJwCy7opdQ


Santa Páscoa


[Breve apontamento em Domingo de Páscoa] “Viu e acreditou!”, diz S. João, quando o discípulo predilecto abeira-se do sepulcro. Viu a pedra despojada do Corpo. Viu-a preenchida de fé em algo novo. Cristo resgatou toda Vida. Sem que seja um espectáculo, a certeza da ressurreição manifesta-se suavemente, como na delicadeza da “Manhã de Páscoa” de Caspar David Friedrich. Recordo deter-me a contemplar esta obra e em pequena oração pedir a suavidade desse amanhecer na vida. Que a Sua Luz seja Páscoa em nós e possamos ver e ser vida nova com Ele. Santa Páscoa!


Breve oração na Noite da Luz



[Breve oração em Noite de Páscoa]


Agradeço-Te

o silêncio atravessado de fogo

a rasgar a Noite que revela a Tua Vida


sábado, 16 de abril de 2022

Sábado Santo





[Breve apontamento em Sábado Santo] Desde há muitos anos que sinto grande respeito por este dia. Depois da brutalidade da morte, atravessa-se a vivência do luto. Sabemos que virá o Domingo de Ressurreição, mas não apressemos o que não pode ser apressado. Por estes lados, amanheceu com nevoeiro. Leva a abrandar o passo e a contemplar cada sentir sem julgar. Os lutos são sempre complexos, pela densidade de emoções que transportam a perguntas, por vezes a desalentos, quase a roçar a perda de sentido. Daí o respeito pela dor, que não pode ser apaziguada de forma leviana, de palavras ocas e superficiais. A sua travessia precisa de tempo. Quando se abranda o passo, dá-se oportunidade a nos determos nos pormenores da vida aparentemente insignificantes. Na beleza, iluminam a espera com Esperança de novos tempos.


sexta-feira, 15 de abril de 2022

Sexta-feira Santa


[Notas soltas muito pessoais em noite de Sexta-feira Santa] Há dias partilhava o quanto me marca o silêncio nesta Semana. Hoje, torna-se quase sufocante, depois do último expiro de Jesus. Enquanto escutava o relato da Paixão, o imaginário já não vagueava apenas em imagens de filmes ou livros, mas, apesar de todas as diferenças, surgiam-me as ruas, vielas, espaços de Jerusalém. Voltei a sentir o impacto daquele lugar, em particular do Santo Sepulcro. Ali, o silêncio da entrega carregada de nomes.


Os últimos tempos têm sido cheios de escuta. Apesar das muitas técnicas e sabedoria para não permitir que as histórias me abalroem a alma, hoje, no momento da adoração da Cruz, vieram-me ao coração quase cada uma delas, em particular as de grande sofrimento, físico, psicológico e existencial. Nós padres, com todos os defeitos que possamos ter, somos transportados para este momento, onde, com a Sua ajuda, também carregamos as dores de tanta gente, juntando às nossas próprias. Ter estado no Túmulo de Jesus ajudou-me a aprofundar a consciência do quanto Ele confia em nós para sermos dadores de vida. É preciso a morte para não nos perdermos no nosso poder. É preciso a morte para perceber que de nada adianta estarmos com mesquinhez de coisinhas de aparente fé e defesa de Deus, levando a segregar. 


Apesar disso ainda se continua a gritar crucifica-o nos abusos de todo o tipo. Estamos em tempos que nos rasgam a alma em questões de existência e não estamos a parar para pensar seriamente nisto. Sinto a cruz presente em tanto no mundo. E Ele não desiste de a carregar. Muitas vezes quer-se que Deus arrase com o mal. E Ele fê-lo: tomando-o sobre si e morrendo. Rápido é ripostar. Lento e exigente é amar. E Ele amou.


Nesta noite, em Vigília, volto àquela outra junto ao Túmulo: envolvido de escuridão da morte, na esperança da Vida, peço para sermos Luz, sermos Paz.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Breve oração


[Breve oração em Quinta-feira Santa]


Agradeço-Te

os pés por Ti lavados

de homens e mulheres

revestidos de perguntas e desejos,

a tocar terra lavrada e fertilizada 

por feridas curadas e pecados perdoados

tornando-se raízes, ramos e sementes

de videira, de trigo e de oliveira


Peço-Te

humildade para me descalçar

diante dos nomes que me confias

enquanto Te celebro 

em alimento de vida e unção de paz

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Intenso silêncio


[Notas soltas muito pessoais, em Quarta-feira da Semana Santa] Apesar das azáfamas características destes dias, sinto-me sempre envolvido por um estranho e intenso silêncio. Nas ruas e casas fazem-se as limpezas de Páscoa. Fico a pensar nas limpezas de alma. Há momentos que tenho tudo para uma boa dose de maledicência. Recordo os momentos que falei mal para ganhar cumplicidade. É tão fácil. Ainda mais quando se sabe que a outra pessoa também não gosta de quem se vai falar mal. Mas tudo isto desumaniza.


A rezar a figura de Judas, que rapidamente é posto como o traidor, penso no mecanismo de defesa de matar o outro na sua dignidade. Curioso como ouço tantas vezes justificar não ter pecados com o “não mato, nem roubo”. Sorrio. Tantas vezes matei com o olhar, com a palavra. Tantas vezes roubei o tempo, a verdade e a beleza. Pequei, peco, ao desajustar-me no amor. 


Nestes dias envolve-me o silêncio. Como que um casulo a limpar-me a alma e a recordar a transformação necessária ao amor. A falar mal só gasto oportunidades de vida. Quero doses de bem. Para mim. Para os outros. Para o mundo. Com Judas, aprendo a humildade de reconhecer a sombra e a possibilidade de entregar alguém injustamente. Com Jesus, aprendo o difícil e exigente gesto de dar a outra face.


Continuo em caminho de liberdade e de limpeza de alma, tentando ser Luz, tentando ser Paz.


segunda-feira, 11 de abril de 2022

domingo, 10 de abril de 2022

Domingo de Ramos


[Notas soltas em Domingo de Ramos] Quando olho uma nuvem a tapar o sol, sinto silêncio e suspensão de tempo. Ainda mais a iniciar esta Semana. Antes, em tempos idos, o Santo dos Santos estava coberto por um véu. Ainda é um pouco assim com o Mistério. Não se pode olhar directamente, como ao Sol. Não se pode olhar directamente para Deus. Ou não se podia. O rosto da Sarça Ardente ganhou carne em Jesus. Todos os Seus gestos e palavras estava direccionados para o amor. Até aos inimigos. Isso afrontou os poderes religiosos e políticos. Gostam de ter véus, como forma de reforçar o poder. Para si mesmos, entenda-se. Os outros que se subjuguem. E Deus dá-nos liberdade. No amor! Será sempre esse o lugar de verdadeira humanidade. E Jesus rasga todos os véus que nos impedem de ser divinos com Ele, sobretudo o maior de todos: a morte. O tempo suspende-se. No silêncio rezo: que bom seria se fôssemos capazes de rasgar mais um pouco o que nos impede de amar o próximo como a nós mesmos. A nuvem dissipar-se-ia e todos ficaríamos iluminados.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Breve oração


[Breve oração ao adormecer]


Agradeço-Te

os reflexos de corpo em busca

de horizontes amplos e cheios

de experiências a confirmar 

o amor como único sentido


Peço-Te

humildade para contemplar

o Teu reflexo em cada rosto


terça-feira, 5 de abril de 2022

Raridades


Nuno Gonçalves


[Notas soltas com coisas na vida de um padre] Somos rodeados de preconceitos e estereótipos. Sejam de nós para os outros, sejam sobres nós. A idealização de padrões relacionais, profissões, vocações, está muito presente na construção do que se espera do outro. Por vezes, faz sentido: espera-se que o professor ensine, a médica ajude a curar, o padre celebre e acolha. Outras vezes, não: ser super-algo-para-agradar. Depois, vêm as surpresas: ah, o padre dança, ah o padre fala com naturalidade sobre temas tabu, ah o padre é normal. Mais do que julgamentos da realidade, somos chamados à humildade do descobrir e perceber o que faz sentido no que ajuda a humanizar. E podemos ganhar tanto. É no respeito, desmontando estereótipos, que vemos a outra pessoa como pessoa que é. O que me ri quando vi esta fotografia. Imagino o pensamento do senhor enquanto me filmava a dançar: “tenho de guardar este cromo na colecção de personagens raras”. Que bom seria se todos nos descobríssemos raros e felizes, ajudando-nos uns aos outros na alegria. Haja vida!

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Lugar(es)


[Notas soltas muito pessoais] Durante muito tempo senti-me fora do lugar. Como se perdido e a não pertencer a este mundo. Hoje sei ser um sentir de fuga, para não enfrentar as dores mais profundas. Ainda assim, a sensação cresce quando sou confrontado com histórias dilacerantes de dores, violência, abusos. Que quero? Que posso fazer? Que posso realmente fazer? Latejam as perguntas. 


Há pouco, num pequeno passeio pela quinta, vi os ramos das árvores a oscilar ao vento. Detenho-me nestas coisas. Uma pincelada de beleza. Uma pausa de eternidade. Entrecortada pelos ecos das imagens de destruição, de maldade sobre pessoas, na violência atroz. As árvores continuavam a oscilar ao vento. Encostei-me no muro se pedra. Pensei: que aconteceria se todos tivéssemos oportunidade de ver tudo sem filtros? Toda a nossa vida sem ponta de julgamento? Os medos, as vergonhas, os risos, os alívios, as irritações, os desejos, as pulsões, as prisões de alma, os gestos com ambiguidades, duplas intenções, as ânsias de poder e controlo do outro, tudo, diante das chaves da libertação pela verdade. Sim, a vida em nudez. Poderia haver grande probabilidade de não se aguentar. Por vezes, apesar de impedir crescimento, os auto-enganos são garantes de alguma estabilidade emocional. Nos tempos actuais, o medo de parar e reconhecer o que é sem rodeios é muito doloroso. Mas fundamental para a liberdade interior.


Precisamente por estarmos carregados de filtros de alma e de história(s), não podemos fazer essa jornada da busca de nós, de nos encontramo-nos em atitude de heroísmo. Como se sozinhos conquistássemos o mundo, nosso-interior, ou todo o outro exterior que não nos pertence. Precisamos do outro e do Outro. Precisamos de nos abrir ao sentido de comunidade, de que somos sendo com os outros. 


Parafraseando Daniel Faria, o lugar de que sou é feito de outros. Tenho-me encontrado nessa verdade crua de mim, do meu sentir mais profundo. E precisamos cada vez mais da claridade da verdade, da liberdade, do encontro, do perdão, do sentido do outro e do Outro. Sejamos Luz. Sejamos Paz.


domingo, 3 de abril de 2022

Lâmpada e corações




[Secção coisas de nada] Achei fascinante esta lâmpada. Fiquei a ver as diferentes perspectivas da luz, da vida, do que somos. Ainda mais neste dia em que recordamos a mulher a que muitos queriam apedrejar. É tão fácil acusar sem conhecer. Tem sido notório por essas redes fora. As pedras na actualidade tornam-se comentários maledicentes, bocas foleiras, ataques ao aspecto ou características da pessoa, pseudo-conhecimento de tudo e mais alguma coisas, partilha de conteúdos para atacar, também em modo de cyberbullying. Quando, afinal, em todos nós há coisas por onde se pegar para ser apedrejado. Por isso, quando Jesus disse que quem não tivesse pecado atirasse a primeira pedra, saíram todos, a começar pelos mais velhos. Olhando para esta lâmpada fascinante, penso outra possibilidade: se encontrarmos a luz que nos habita e a reflectirmos, então, do mais novo ao mais velho, juntamo-nos e formamos comunidade de vida. Acho que ainda não disse: a lâmpada é fascinante. Mas mais fascinante são os corações luminosos.


sábado, 2 de abril de 2022

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

os sorrisos dos bons encontros

a deixar que a luz de alma

ilumine a partilha de vida

em deslumbre de pôr-de-sol


Entrego-Te

as amizades com sabor a infinito