sábado, 30 de agosto de 2014

Leituras... com existência


“Montedidio” de Erri de Luca, p. 78.


Voltarei a ele, em releitura. Numa só página, ou todo o livro. Há frases que me fizeram deter, não conseguindo avançar sem digerir cada palavra. Outros parágrafos que me empurraram aos seguintes, até me deter novamente. É o gozo da vida inacabada, nesse aviso, entre uns e outros de nós, à existência.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Lama? Também.



[Coisas de Campo de Férias a dar que pensar além Campo] "É a primeira vez que vejo um padre todo enlameado!" Exclamou, acompanhando o sorriso de espanto. Acrescentou: "És um padre fixe!" Sem saber, deu-me que pensar e até rezar. Não quero ser um "padre fixe", "porreiro" ou afins. Fazendo as coisas para agradar, acabo por cair na artificialidade. Sim, junto com o oposto, na distância (ou pedestal), a tentação de ser "fixe" está presente. O segredo está em admitir, num bom exame de consciência, que em ambos os lados dá-se desvio da essência, perdendo o saber viver o momento com sentido. Não é uma questão de lama, já que exterior ou interiormente passeia por cá a força da terra de que somos feitos, mas de autenticidade. Naquela tarde, já depois de banho tomado, as conversas ganharam a consistência de húmus... entre outras coisas, a raiz da humildade.  

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Pousio, na terra de mim



[Secção outros tons] É tempo de deixar-me embalar pelas ondas, sentindo o aconchego do sol ou da brisa fresca que me ampara o descanso. Entrego-me às palavras de outros. O que me farão ao ser, o futuro o dirá. De momento, fico-me pelo presente... sim, é tempo de descanso. A terra de mim agradece o pousio.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

Alcafozes - N.ª Sra. do Loreto


Tive a honra de presidir à Missa de encerramento das festividades da N.ª Srª. do Loreto, padroeira universal da aviação. 11 anos depois de ter entregue a meia-asa e divisas da farda, vivi a certeza que continuo a voar nestes espaços e tempos que permitem a relação da unidade na diversidade. Do altar olhava para as pessoas de proveniências tão variadas: da região; que vieram de longe; da aviação civil e militar; antigos colegas com quem voei, mantendo-se a boa amizade. Como disse na homilia, a todos nos unia a mesma acção de Maria: pormos-nos em caminho. Claro está, dependendo da atitude de fundo, poderei viver e deixar que aconteça a transformação ao fazer caminho. E isso pode acontecer num voo, numa conversa, numa celebração. O caminho, bem vivido, leva ao encontro. Ontem recordei agradecido o caminho feito e os muitos encontros que tive ao longo destes 11 anos. No final, antes de me desparamentar, pedi que Maria me ajudasse a continuar a seguir o Seu Filho, nestes altos voos de promoção do respeito, da justiça e da dignidade. [Foto: Cristina Chaves]

domingo, 24 de agosto de 2014

No perdoar e pedir perdão...




[Coisas de Campo de Férias, que podem acontecer em qualquer altura] Estávamos na roda, a almoçar. A directora levanta-se e põe dois de castigo, de costas e a dizer: "Não volto a gozar com as pessoas!" Riam à gargalhada. Ela continuava com ar sério. Eu observava. Às tantas, levanto-me e de ar e tom de voz igualmente sério, aliás, bastante sério, digo-lhes: "Dá para parar de gozar?" Ainda assim riam. O tom de voz aumentou na seriedade e tornou-se bastante directivo. Faz-se silêncio profundo na roda. Dei-lhes um raspanete. Fizeram o que lhes estava a ser pedido, mas já sem qualquer gozo. Sentámo-nos todos. Continuou o almoço. Precisei de ir à dispensa e a directora veio ter comigo: "Paulo, estávamos na brincadeira." "Mas, mas... estavas com ar muito sério e, apesar de achar estranho pelo grupo que temos, achei que te estavam a faltar ao respeito." "Pois, não. Que fazemos?" "Oh, claro que vou à roda pedir desculpa a todos e a eles dois de forma especial. Assumo a minha indelicadeza, erro, estupidez." Fui à roda e pedi a palavra. "Acabámos de viver um momento em que fui infeliz. Não percebi a brincadeira. Fui precipitado, abusando da minha autoridade natural, por ser o mais velho e, ainda por cima, padre. Quero pedir desculpa a todos, em especial a vocês dois. Fui injusto." Eles descomprimiram com um grande suspiro de alívio. Demos um abraço. E o almoço continuou... com a doçura da melancia (estava mesmo boa) e da certeza que sigo em caminho de aprendizagem, não só de perdoar, mas também de pedir perdão. 

sábado, 23 de agosto de 2014

Chegado de Campo... a caminho de Alcafozes



Venho de Campo de Férias. Tem sido um Verão muito cheio e estes 10 dias também contribuíram para isso. 41 miúdos e 15 animadores que me alimentaram a esperança. No meio de tanta coisa sobre a educação, futuro da juventude e afins, há que dar-lhes a confiança de que são, não o futuro, mas o presente da humanidade. Pode ser uma gota no oceano, mas é uma gota colorida, rica em oxigénio. Também com os animadores.... animei quase todos noutros Campos ou actividades, um até foi meu aluno e da minha direcção de turma, Dá gozo, muito gozo vê-los crescer a todos os níveis. "Na Tua companhia" é o tema deste ano dos Campos de espiritualidade inaciana... e houve a companhia de Deus nestes corações que escutaram a riqueza de ser amados por Ele. 


E depois de uma paragem para banho e mudança de roupa... já rumo a Alcafozes, onde irei celebrar nas festividades da N.ª Sr.ª do Loreto, padroeira universal da aviação. Outros voos, daqueles que juntam Companhias. ;) Sim, como dizia um animador, "há cansaços felizes". ;) 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Fechado para Campo de Férias



Elliot Erwitt

Toca a animar 42 miúdos, entre os 11 e os 12 anos, durante 10 dias.



Até breve… 

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Volto à Paz



Dulce Antunes

Ontem foi mais um dia de acção de graças. A Missa Nova em Lisboa fica-me pelos rostos que representaram, resumiram, sintetizaram a amizade que sinto com tanta gente, de realidades tão diferentes, com a igualdade presente na humanidade. Como disse na homilia, a presença da diversidade de membros no Corpo que se pode traduzir na Amizade. Na amizade que ajuda a dar Paz, a viver a Paz. Aquela que se consegue a partir da autenticidade, naquele caminho de coragem de amar a Deus tal qual como se é. Há dias com mais facilidade, outros com mais dificuldade, outros em que a descrença fala mais forte. Sim, a Paz tem-me andado às voltas, por tanto. Confesso, e mudo de tema (a vida tem sido assim) que é um misto estranho de sensações: escrevo a alegria que sinto, mas também tenho vivido a tristeza e a impotência diante das atrocidades que o fundamentalismo tem cometido. Não é o islamismo contra o cristianismo, ou israelitas contra palestinianos (e vice-versa), é a estupidez ao mais alto nível, que não consegue compreender a riqueza da diversidade humana. Emociono-me ao ler sobre mais mortes pela fé, de pessoas que têm de abandonar das suas casas em nome do fundamentalismo que apenas mata a dignidade humana. Sinto-me pequeno, tão pequeno… As pessoas têm-me dito que sou um conciliador, que consigo agregar pessoas diferentes. Não é torná-las amiguinhas, como se fôssemos todos “tótozinhos”… não, tem que ver com este lado da concórdia que pode levar à Paz. Por isso, faço o que posso fazer: rezo. E agora, como padre, sempre que posso celebro Missa pela Paz e pela Justiça, fazendo silêncio e recordando tantas pessoas. Ontem, na Missa em Lisboa, acenderam-se velas pelos tripulantes, pilotos e passageiros que faleceram este ano. Mas também reservei uma por todas as pessoas que vivem a perseguição, a guerra e a morte. Como escrevia há dias, não podendo acabar com as guerras e os fundamentalismos lá longe, faço os possíveis para trazer luz e paz aos corações que me são confiados.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

"Do ar para o céu"... o artigo online



Virgílio Rodrigues

Para quem não teve oportunidade de ler na revista em papel, aqui fica a versão online do Perfil na Notícias Magazine: "Do ar para o céu". E termino o dia agradecido pela Missa de hoje. Foi muito bom ver tantos rostos que fazem a minha história. Amanhã direi algo mais... com fotos também. Entretanto, continuo a rezar pela Paz.

domingo, 10 de agosto de 2014

"Do ar para o Céu"





Fico embevecido com o “Perfil” no Notícias Magazine. Embevecido, com aquele sorriso de: “olha eu, numa revista”. O artigo está muito bom, numa operação de síntese feita pela Sónia Morais Santos. [Obrigado a ti, Sónia! Sim, ajuda a nossa amizade, o pensar tanto nela e na tua família nestes dias agitados de gravidez (Baby M, calminha!!!)] Parece-me mais um passo de tanto bem recebido por Deus, neste dom que é a vocação. Sim, a vida é para ser partilhada… vou fazendo isso. Há dias de celebrar, outros de (não esqueço a cagadela de pombo de há dias ;) ) recordar que “também sou mais um”.  E claro, também penso em tantos companheiros jesuítas e amigos que me ensinam a ser padre, no meu modo de ser, confiado em Deus que acalma as tempestades… passando na brisa suave. Oh… estou embevecido. :p   

sábado, 9 de agosto de 2014

Agradecer... e o beijinho.



Stina Seig


[Coisas do quotidiano de Padre] “Oh Sr. Padre, gostei muito quando o senhor disse na Missa para agradecermos uma pessoa ou alguém que nos fez bem ou que temos saudades. Só não gostei duma coisa.” “Então?” “Deu pouco tempo para isso! Tenho tanta gente a quem agradecer. Oh, uma pessoa vai para velha e tem disto. Sofri muito, mas houve tanta gente que me ajudou. O sr. disse aquilo e só me apetecia ir dar abraços e beijinhos por aí fora! Olhe, posso dar-lhe um a si, parece mesmo o meu bisneto! Desculpe lá, mas isto com a idade uma pessoa perde a vergonha.” [Gargalhada dos dois] “Oh senhora, venha de lá o beijinho!” “Ah, mê rico menino, que Deus nosso Senhor o conserve sempre assim!” E pronto, também saí abençoado da Missa. ;) 

P.S. - Aproveito para dizer que amanhã, domingo, sai uma reportagem interessante ;) , escrita pela Sónia Morais Santos, no Notícias Magazine (a revista de domingo do DN/JN). Quem passar por um quiosque dê uma olhada. Amanhã darei mais detalhes. :) 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Crítica(s)



Jitendra Prakash


Formulava em pensamento uma crítica a uma pessoa. Era daquelas que não seria muito construtiva, diga-se de boa verdade… aliás [deixa-te de coisas, Paulo], tinha mesmo toque de maledicência. Como tenho pensamento rápido, acabei por perguntar-me: “De que tens inveja? O que ganhas com isso? Conheces mesmo a pessoa?”. Sim, rezo, estudo, faço caminho com Deus para ser mais humano, mas de vez em quando lá vêm os “instintos-de-defesa-sobre-algum-pedacinho-ou-pedaço-de-ego-ferido”. Encolhi os ombros, no sentido de: “aqui tenho algo a melhorarem mim”. Agradeci a Deus pela vida da pessoa. E continuei a fazer caminho… interior e exterior.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

200 anos da restauração da Companhia de Jesus



Este ano, nós, jesuítas, temos celebrado os 200 anos da restauração da Companhia. Foi no dia 7 de Agosto de 1814 que o Papa Pio VII decretou que fosse restaurada. Já agora, pensar que nós, portugueses, fomos expulsos do nosso país por 3 vezes. Num ou noutro dia na minha oração tenho pensado: “e se fosse agora?”. Não, não me apetecia nada ser escorraçado para um outro Forte São Julião da Barra, nem ser medido da cabeça aos pés como se fosse um assassino ou malfeitor, nem estar numa casa rodeado de força policial, nem ser posto num barco amontoado de outros companheiros e morrer de forma indigna na viagem até aos Estados Pontifícios. Sim, foram outros tempos, mas reler a História e pensar “e se fosse eu?” faz-me mudar um pouco o modo de ver e viver. Não se trata de ser herói ou mártir, mas de perceber onde está o essencial, tanto na relação com Deus, como na relação com os outros, seja esta ou aquela pessoa concreta, seja na sociedade em que estou inserido nas suas componentes sociais e políticas. De momento penso num “pequeno” segredo: confiança em Deus, trabalhando a liberdade interior para saber, ora perder, ora ganhar. Há dias que é fácil. Dou graças a Deus. Outros que não tanto. Mesmo a custar, dou graças a Deus também. [Para saber mais sobre este tema: http://jesuitasportugueses.wix.com/jubileu-2014]

Missa Nova em Lisboa



Katia Viola


[Notícia de última hora: Celebração de Missa Nova em Lisboa] Na próxima 2.ª feira, dia 11, passarei por Lisboa, em escala técnica antes de ir para Campo de Férias, e tenho todo o gosto em celebrar Missa Nova na cidade que também gosto tanto: Lisboa. Sabendo que passamos tempos de conflitos, a vários níveis, e recordando tripulantes e passageiros dos últimos incidentes e acidentes aéreos, celebrarei Missa a pensar na reconciliação dos povos. Será na Igreja Paroquial do Lumiar, na próxima 2.ª feira, às 18h30. Deixo o link com a direcção da Igreja: https://goo.gl/maps/jG3k3

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Transfiguração


Nelson Garrido


[Secção outro tons. Especial Transfiguração] Resplandece a luz do meio-dia. No zénite, a força do sol faz ver o azul de mar e o branco de areia de forma esperançosa. Aquele brilho que transporta a existência a outros tempos e lugares. É o Filho. Amado. No convite da escuta abre-se a oportunidade de perceber que a vida dá voltas, sim. Já não em tendas consoladas, nem na morte, mesmo sendo passagem necessária, mas na certeza de que a humanidade liberta-se do medo. A honra e a glória, na descida do monte, transfigura-se em serviço.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Quotidiano... o presente.



Scott Rotzoll


Meia-volta e acabo por voltar a pensar no quotidiano. Sobretudo quando sou bombardeado com o imenso de imagens, de longe ou de perto, que provocam explosão de sentimentos. Às vezes é preferível fugir dessa realidade, ignorá-la, como se não existisse. Mas ela está lá. Como digo, sobre determinadas coisas não posso fazer nada mais que rezar, com outras já posso fazer algo mais. Em parte por ser o presente, o aqui e agora que se vive. Primeiro aceitá-lo… é assim, e ponto! Parece-me o passo primordial para manter o que há a manter e mudar o que há a mudar. O engano reside no não aceitar, vivendo num imaginário que degenera. Sim, poderá até ser vergonhoso, poderá até mostrar que afinal vive-se uma mentira a vários níveis. Mas pior que isto, é mesmo viver nesse engano, como se ele não existisse. Insisto, vidas perfeitas não existem e não existirão… existem sim vidas em caminho, que podem dar o melhor a que são chamadas: seja no banal das compras do dia-a-dia, seja a aproveitar as férias, seja a amar.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Ícone (em dia dos padres)




Ofereceram-me este ícone. Sinto-me tão agradecido. É(-me) muito especial, por muitos motivos... desde a concepção, à escolha, ao sentido da oferta. Foi rezado durante dois anos. Foi escrito e pintado como fruto dessa oração, desse encontro com Cristo que acolhe tudo e todos. Foi escolhido a pensar em mim, num "é este!". E sim, quando o desembrulhei tive aquela sensação de que nos pertencíamos. O olhar atraíu-me de forma inexplicável. Avizinha-se muito bom e forte tempo de contemplação diante dele... ao jeito da espiritualidade oriental, em que a contemplação transforma, molda, converte aquele que contempla. Neste dias dos Padres, é isso que peço, ser um Padre ao jeito de Cristo que, por ter vivido plenamente a humanidade, acolhe, abraça, ama, dirige para a liberdade e felicidade, convidando a participar da Sua divindade.


domingo, 3 de agosto de 2014

Arriscar e confiar



Miguel Parra


Fui celebrar Missa num campo de férias com miúdos entre o 6 e os 14 anos. Um deles, surdo, bastante "turbulento" e inquieto, segundo os animadores, aproximou-se de mim... para reconhecer e avaliar o intruso. Pus-me na brincadeira com ele. Alinhou, mas sem sorrir. Disse-lhe, muito devagar e de forma expressiva em gestos: "gostava de ver o teu sorriso." E pus-lhe os dedos junto da boca, para reforçar a ideia. Deu um sorriso enorme. Correu até ao pátio e voltou. "Gostava muito que te sentasses ao meu lado durante a Missa. Queres?" Pelos ares dos animadores, parecia que eu estava a arriscar uma missa "turbulenta". Confesso: arrisquei! E portou-se lindamente. Apontava-me as formigas a subir a alva e eu agradecia-lhe com "dá cá 5!!". Ele sorria. E nós todos celebrávamos. A multiplicação dos pães e peixes também pode ser de alegria e confiança. Para vivê-la há que arriscar.

sábado, 2 de agosto de 2014

[Coisas da vida de padre]





Depois da beleza do sacramento, numa cerimónia com guarda de honra do Exército e tudo, a loucura de celebrar com a nova família. A vida também é feita disto! ;)