domingo, 31 de janeiro de 2021

sábado, 30 de janeiro de 2021

Somos infinito no Infinito


[Secção coisas de nada] Fui às compras. No entretanto, do altifalante surgia a informação “Estimados clientes, em Estado de Emergência, com a legislação em vigor, recordamos os nossos horários…”. Fechei os olhos e em breves milésimos de segundo imaginei Portugal, o mundo, as pessoas. Aquele anúncio significava tanto. Emocionei-me. Parou o tempo e senti-me tremendamente pequeno, arrebatado pelo infinito de pessoas. Cada um de nós é infinito, trazendo consigo o Infinito. O silêncio, tornando-se linguagem de Deus, convidou-me a despertar a simplicidade da oração naqueles breves segundos em que o tempo parou. Sem poder fazer mais, tornei o respirar fundo vida em alento de Deus para todos os que sofrem. Em cada um de nós trazemos Infinito de humanidade. Abri os olhos, a vida continuou. Avivada pela esperança.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Complexidade da Vida



[Secção pensamentos soltos sobre o simbólico e ser pessoa] O simbólico caracteriza o ser humano. Na sua força, em carácter positivo ou negativo, desvelamos o encontro do sentido de ser pessoa. Tenho a sensação que andamos a anestesiar o impacto que tem a representação simbólica dos actos, atitudes, decisões, em particular de quem lidera. A mesma acção, ajustada ou desajustada, terá maior eco conforme a pessoa que a pratica. Ser líder, político, social, religioso, implica responsabilidade. Daí a exigência necessária para o ser em plenitude. 


Tudo o que toca a questão da vida é realmente complexo. Quando se trata da vida humana adensa-se a complexidade, pela imensidão que nos atravessa o ser. Leia-se, investigue-se, literatura, história, sociologia, antropologia, filosofia viaje-se pela alma ou pelas terras para perceber como é complexo falar da vida humana. Por isso, decidir sobre o que fazer com ela, ainda mais quando implica terceiros, é algo que necessita discussão com seriedade o suficiente que se liberte de ideologias, da esquerda à direita, tomando as decisões com impacto global o mais justas e éticas possíveis. Mas hoje houve pressa. Pressa de ser-se aparentemente livre, melhor, liberto de prisões que impedem a suposta humanidade da escolha. Se queremos combater, e bem, as fobias sociais que atacam o ser humano, então que se inclua nesse combate a bio ou melhor a zoefobia: sim, o medo da Vida. 


A sermos bombardeados de números assustadores, em que os profissionais de saúdes são postos em limites indescritíveis, onde tantos nossos perderam e estão na iminência de perder a vida, a aprovação que hoje se deu no parlamento, simbolicamente falando neste hoje em que tanto se vive no nosso país, é de grande insensibilidade perante a actualidade. Legitimar a morte em tempos em que ela se afigura como já há muito não acontecia em Portugal é banalizar o luto de tantos. O simbólico caracteriza o ser humano. Se anestesiamos o impacto que tem, a pessoa torna-se cada vez mais uma coisa. Infelizmente, é mais simples do que parece. A pressa nunca foi, é ou será boa conselheira ante a complexidade e imensidão da Vida. 


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Breve oração


Carmo Sousa Lara


[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

o olhar de silêncio, 

reconhecendo o inimigo que há em mim, 

abrindo-Te a porta à minha conversão


Peço-Te

a busca da humildade, 

no reconhecer do Pão entregue por todos, 

iluminando a dignidade e a liberdade


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Fazer e viver Memória


[Secção pensamentos soltos em dia da Memória das Vítimas do Holocausto] Nos meus tempos de estudo em Paris tive oportunidade, a convite de Teresa Salado, de participar numa conferência na UNESCO sobre o Holocausto. Foi a primeira vez que estive diante e numa breve conversa com dois sobreviventes desses campos de concentração. Não era a leitura de testemunhos escritos, mas estar olhos nos olhos com rostos que atravessaram o horror. Algo da vida muda. 


Muitas vezes reduz-se a educação ao conhecimento intelectual. É importante, mas não tudo. Conhecer alguém que relata a experiência em primeira mão, transforma qualquer idealização da realidade em algo novo. Pode não haver uma transformação radical, mas dá-se luz ao caminho de humanidade. Há pessoas intelectualmente brilhantes, mas que pela sua acção nota-se que falta conhecer e deixar-se interpelar desde as entranhas por histórias concretas. O outro deixa de ser uma idealização,  um conceito, uma abstracção ou até mesmo uma generalização para passar a ser alguém. E as pessoas não se conhecem por ideias, mas em partilha de vida. Para isso tem de haver disponibilidade de coração na escuta. Por interesses políticos, em diplomacia, faz-se o papel de atenção, instrumentalizando-se pessoas. A Memória, por exemplo deste dia, mostra-nos que aconteceu, não de de um dia para outro, mas na sucessão de vários factores, onde se incluía a crise social, o descontentamento, a divisão entre bons e maus, aproveitando isso para jogos de poder, terminando em abominável segregação e morte de milhões de pessoas desconsideradas como impuras e indignas. O adubo da ideologia foram, literalmente, cinzas de rostos concretos.


É natural que possam surgir a dor e a zanga. Mas, o ódio não se combate com ódio. A inteligência intelectual e emocional bem vividas e trabalhadas humanizam, anulando esse ódio desde o amor. Amar ante o horror é difícil, mas são muitos os sobreviventes, como os dois que escutei, que atravessaram o inacreditável a partir da luz desse amor que não se apagou. Que este dia da Memória nos recorde o que não queremos repetir e que inteligente e humanamente se ponham os meios para o Amor.


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

A Nossa Tarde

 


[Coisas na vida de um padre] Partilho a conversa com Tânia Ribas de Oliveira, no programa A Nossa Tarde. Agradeço à produção e todas as mensagens e comentários que me têm chegado. É tempo de deixarmos que a luz de Deus, em cada um dos nossos gestos de amor e cuidado pelo outro, seja vida em tantos que precisam. Que o silêncio, a oração, o acolhimento, a autenticidade sejam, em conjunto com a solidariedade e serviço, caminhos de encontro com Ele e uns com os outros, na ajuda, na colaboração.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Conversão à união



Nasa


[Secção pensamentos soltos em dia da conversão de S. Paulo e seguinte de eleições] Dancei esta conversão como trabalho para a cadeira de Cartas e Epístolas de S. Paulo, na licenciatura em Teologia. Tenho, por isso, bem presente em corpo, em movimento de alma do que é ser “fariseu, perseguidor e irrepreensível” e que por causa de Cristo considera tudo o que foi como “perda, esterco” (Cf. Fil 3). Quem se deixa encontrar por Cristo revê toda a sua vida e as suas acções passam a promover união, cuidado pelo outro, respeito, não se entendendo como novo messias. Esse já veio e morreu na cruz por todos, sem excepção.


A união entre adultos não é simplesmente um dar de mãos e dizer “está tudo bem”. A união entre adultos implica saber dialogar desde a razão e a emoção de modo a que a dignidade seja vivida sem ataques mútuos, mas de compreensão onde residem as verdadeiras dores, falhas, problemas, com objectividade, para além de ideologias. Para compreender é preciso conhecer, em concreto, sem se ficar em generalizações de meia dúzia de caracteres de rede social. Não são os deste ou daquele concelho, mas cada pessoa que deixa que o medo, a indignação, a incoerência ganhe peso na sua existência e devolva com a mesma moeda de ódio, ainda que muito envolta de progressismo colorido.


É mais que certo que Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente reeleito, leu as Cartas e Epístolas de S. Paulo. O seu discurso de reeleição revela a sensibilidade humanista de modo a “continuar a ser um Presidente de todos e de cada um dos portugueses, um Presidente próximo, um Presidente que estabilize, um Presidente que una, que não seja de uns, os bons, contra os outros, os maus, que não seja um Presidente de facção, um Presidente que respeite o pluralismo e a diferença, um Presidente que nunca desista da justiça social.” Atravessamos tempos de muita exigência, que obriga a grande e séria reflexão, de modo a diminuir ataques a pessoas e a desenvolver argumentos e acções que, dando voz à sensatez e ao sentido da democracia, da liberdade e da responsabilidade, dignifiquem cada pessoa.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Dador de vida



[Secção pensamentos soltos em tempos de tanto] Ser padre é ser dador de vida. Assim acontece quando acompanhamos na escuta, nas celebrações, no permitir que o amor se torne mais intenso e dê frutos. Chegou-me esta imagem com rosto a formar-se em vida profunda. Celebrei o casamento dos pais, ambos médicos em que ele está na linha da frente. Fico sempre maravilhado por esta continuidade na relação. E, nestes tempos de tanto, partilharam beleza de vida a dizer: aqui estou. Também um amigo poeta partilhou comigo este belo trecho de Rabindranath Tagore: "Cada criança que nasce é uma prova de que Deus não perdeu a esperança em relação à Humanidade”.


Estes dias estão a ser muito duros. Somos bombardeados com informações de tensão, desconfiança, desunião, cansaço, medo. Parte, infelizmente, teve de ser. Gritos para que se perceba a dimensão da tragédia, de modo a agir política e socialmente em conformidade. Outra parte, para os que, em consciência, naturalmente se resguardam em respeito, pode ser aflitivo. Andar nas redes pode ser fonte de agitação. Em muitos rostos estão a surgir véus de cansaço, de sensação de perda de sentido, de se achar que não se aguenta mais, de desespero. 


Então, hoje, trago um rosto como sinal de esperança. Não temos tudo o que gostaríamos, atravessando o grande desafio de muito perder. Mas, tal como uma criança naturalmente acolhe a sua dependência para o caminho da vida, atenuemos as tensões e façamos caminho de sermos uns para os outros os suportes, materiais, afectivos, espirituais, possíveis. Ah, e para os lhes salte “é-muito-bonito-o-que-escreves-porque-não-estás-em-tele-trabalho-sem-paciência-e-a-aturar-os-miúdos, AHHHHHHHH”, ser dador de vida também é acolher as dores sem julgar. Apesar da vontade de os atirarem pela janela fora, continuarão a ser sinal de esperança a partir do amor que recebem. Já agora: se os atirarem, vão buscá-los rápido. É para ficar em casa.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Sejamos luz




[Secção pensamentos soltos em tempos de tanto] Atravessa-se por aqui um temporal que agita árvores e almas. Sair de casa é como ser fustigado com perguntas sobre a sensatez. Faz sentido sair nestas condições? É urgente? É necessário? O silêncio surge e o recolhimento torna-se evidente. Apenas o orgulho torna-se bastião diante do querer afirmar a negação como “loucura de todos”, “apenas são os mesmos números de anos anteriores agora destacados”, “querem é tirar-nos a liberdade”. E o vendaval agita almas e os números cada vez mais são rostos. Talvez não sejam os seus. Mas são rostos aos quais não se fazem despedidas, ficando o “gosto muito de ti” por dizer, sem tempo para pensar na liberdade, mas no amor.


Mais um a exagerar? Pois, como padre escuto as dores concretas e não imaginadas. Chegam-me cada vez mais pedidos de oração por nomes: nos cuidados intensivos; no ventilador; no cansaço e esgotamento da entrega pelos doentes; que partiram sem despedidas; no desespero do pão a rarear; a serem julgados e menosprezados, especialmente crianças, por estarem infectados; com a saúde mental a vacilar. Escuto as dores concretas e não imaginadas. Acolho os pedidos. E no silêncio das horas, diante de Deus que conta connosco para cuidar seja de quem for, abro-me à luz e ao infinito da oração, entrego cada nome, peço e envio serenidade às dores concretas e não imaginadas.


“Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.” Cada um de nós pode fazer a sua parte. Aos políticos, que esqueçam ideologias e ponham os recursos em favor das pessoas. Aos que podem ficar em casa, que façam o esforço de realmente ficar, por respeito a todos os que não podem ficar, em especial os que estão a cuidar até ao limite do impossível. Se alguém passa dificuldades, materiais ou emocionais, liberte-se da vergonha de pedir ajuda. Quem possa ajudar, material ou emocionalmente, faça-o na consciência dos seus limites. A vida de todos começa no gesto de cada pessoa que vive a regra de ouro desde o amor: faz aos outros o que gostarias que te fizessem. Neste temporal, sejamos luz.


terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer em dias de tanto]


Agradeço-Te

a possibilidade de abraçar no silêncio 

cada pessoa em busca de luz


Peço-Te

faz dos meus braços e oração 

extensão do Teu conforto e acolhimento 

a quem se entrega à vida


segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Teia de relação



[Secção coisas de nada] As manhãs têm sido algo frias. Um pouco como os corações que se negam a compreender e aceitar estes tempos e os outros. A teia enregelada aviva a forma e mostra como todos, tudo, estamos ligados e relacionados. Um fio que se desfaz e toda a teia perde a sua força. A beleza reside na complexidade de cada um de nós ser com os outros, conhecidos ou desconhecidos, amados ou odiados, de perto ou de longe. As manhãs têm sido frias. Que aqueçamos o coração dando vida no gesto de ficar em casa, de pedir ajuda se se necessita, de dar ajuda se tem possibilidade.


domingo, 17 de janeiro de 2021

Direito de votar




[Secção sentimentos em pensamentos soltos sobre o dia de hoje] Emocionei-me naqueles breves segundos que me detiveram no tempo existencial a pousar o boletim de voto sobre a mesa, a pôr a cruz, dobrá-lo e colocá-lo no envelope branco. Ainda desponta a lágrima a escrever estas palavras. Reconheço a força do simbólico. Mais do que o meu voto, tanto significa: milhares de homens e mulheres lutaram por este direito; a liberdade que tenho de poder escolher em consciência quem considero com maior aptidão é resultado de muita história, mortes inclusive; votar é honrar e agradecer estas pessoas e, ainda acredito, aviva a esperança no futuro de seguirmos o caminho de liberdade. 


Como padre não posso manifestar qualquer intenção de voto. Mas tenho o dever de incentivar a esta participação de democracia. E tenho um gosto imenso em fazê-lo. Somos corpo em Corpo e todos, por mais que seja indiferente ou não importe a alguém, dependemos directa e indirectamente uns dos outros. Ainda há muito caminho a ser feito para se compreender esta unidade e colaboração. O meu gesto, seja de voto, seja de ficar em casa, tem implicações no todo. Compreendo o sentir de “é tudo uma fantochada”, “eles são todos iguais”, mas se se descarta esse pequeno e enorme gesto de votar, está-se a anular enquanto pessoa que, recordando Ricardo Reis, no mínimo pode pôr o tudo que é e o todo que rodeia. 


Depois de votar celebrei Missa. Trouxe ao coração todas as pessoas em sofrimento. Agradeci a liberdade, a responsabilidade, os direitos e os deveres, em humanidade, pedindo a consciência da Vida em todas as cores, apelando a que nos ajudemos mesmo uns aos outros. Nos tempos que atravessamos, a simplicidade presente no gesto do voto e no ficar em casa são sinais de respeito, de cuidado, de maturidade, de humanidade. 


sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Comportamentos em tempo de pandemia



[Secção pensamentos soltos sobre comportamentos em tempo de pandemia] Somos chamados à vida. Tenho isto cada vez mais claro. No entanto, este caminho para a vida é muitas vezes posto à prova desde o instinto da sobrevivência. Manifesta-se pelas necessidades de alimentação, de defesa e de procriação. Este instinto acompanha-nos ao longo da nossa existência de forma mais abrupta ou mais subtil, dependendo da realidade que nos circunda. As nossas dimensões psicológica-emocional, racional, relacional e espiritual ajudam-nos a sentir onde ele aparece e a perceber como se pode humanizar, saindo do registo da sobrevivência para o da vida. E isto precisa de tempo, de muito trabalho interior, empático, de profunda liberdade e consciência do outro. 


Nestes últimos tempos, em que em humanidade nos temos deparado com situações limite, somos confrontados com a sobrevivência. É profundamente natural. Está lá. No entanto, igualmente é o racional de modo a impedir que a, desculpem a palavra, animalidade tome lugar e nos ataquemos uns aos outros de forma selvática, como infelizmente temos assistido com muitos exemplos. Estamos muito cansados e, se não estivermos atentos, é caminho para surgirem os medos (e tantos são) e assim se activarem as defesas e entrarmos em atitudes e comportamentos, por palavras e gestos, reactivos, contribuindo para populismos. Se permitirmos a racionalidade dialogar com as emoções, dando tempo e sentido, então seguimos o passo de acção humanizante e humanizadora.


Respirar fundo, fazer silêncio, avivar a consciência e assim perceber onde se está a ser reactivo: Como respondo? Como conduzo? Como vivo o confinamento? Como sinto realmente os medos? Sinto que os “meus” direitos estão acima de tudo e os outros não importam, atacando nas palavras e gestos? Com as respostas, pensar, reflectir, recordando que cada um de nós, apesar de ter o seu lugar, não é o centro do mundo, e fazer a sua parte em acção por palavras e gestos que tenham o outro em conta, contribuindo para uma sociedade madura, adulta, integradora, inclusiva, chamada à Vida.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Cultura segura e lugar de Deus




[Secção pensamentos soltos sobre a importância da cultura] Estamos diante de uma viragem de humanidade que poderá ajudar-nos a unir ou a dividir. A seriedade do que atravessamos implica aprofundar a consciência de que todos os humanos são iguais em dignidade. Qualquer aproveitamento desta crise em benefício próprio é simplesmente abjecto. Então, os esforços devem ser postos na colaboração, de modo a impedir que ninguém veja a sua dignidade manchada. Não é tempo de  alegrar porque “eu posso”, mas de perceber como alargar o “eu posso” a verdadeiramente ajudar os que, incompreensivelmente, não podem.


Não discuto a comparação entre as importâncias de uma celebração eucarística e de uma peça coreográfica ou de teatro. É cair no perigo da divisão e da desonestidade intelectual. Tenho escutado muitas pessoas para quem ambas são importantes. Nas missas continuarei a ter ainda mais presente todos os que sofrem e farei os possíveis para exortar a que as pessoas tenham consciência do todo, da comunidade, e às que possam que não deixem de contribuir para a cultura e restauração. A Igreja tem sido exemplo de espaço seguro. Os espaços culturais também. Incompreensivelmente, estes últimos, onde se inclui a nossa Brotéria, vêem as suas portas fechadas, remetendo milhares de pessoas (artistas, produtores, técnicos de luz e som, formação, secretariados - publicidade, marketing, contabilidade, logística -, etc.) para situações preocupantes de precariedade. Sem descartar a responsabilidade governamental, como cidadão e cristão sinto o dever de recordar o fundamental da cultura para a reflexão de humanidade.


Quem possa, que não devolva o dinheiro dos bilhetes de espectáculos cancelados ou assista a espectáculos on-line comprando bilhete ou dando alguma contribuição. Quem tiver lucros, como as grandes empresas, lembre-se da importância da cultura tornando-se mecenas de salas de espectáculos. Todos os que celebrarmos Missa, continuemos a recordar nas nossas orações os que sofrem e a deixar que o Espírito nos avive a consciência social, de dar a quem não tem, de ajudar nas obras sociais das paróquias, de não contribuir para divisões, mas promovermos a união e o cuidado do outro. 


quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Conversa no podcast Polaridade


[Coisas na vida de um padre] O Henrique e a Ana são dois amigos que decidiram criar um podcast para colmatar a distância física entre Portugal e Áustria: Polaridade. Fui o convidado no 8.º episódio. Uma hora de conversa com o Henrique que podem encontrar no spotify, na ApplePodcasts ou através deste link:

 https://anchor.fm/polaridadepodcast/episodes/8---Espiritualidade-e-F-com-Paulo-Duarte-eopu6b


terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Avivar memória


[Breve apontamento de avivar memória] Tenho lido muitos comentários (demasiados, infelizmente) de pessoas cristãs católicas a se manifestar, entre outras coisas menos humanas, a favor da pena de morte. Recordo que a fé que professamos surge também graças a S. José, manifestamente contra esta pena. Na sua justeza e integridade de carácter, impediu que Nossa Senhora pudesse vir a ser apedrejada, por estar grávida enquanto prometida. Depois, também graças à educação que recebeu, Jesus impediu uma mulher de ser apedrejada, andava com pessoas pouco consideradas a ser de bem, anulando assim a categorização das mesmas, e foi condenado à morte por aqueles que se consideravam puros.


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Breve oração




[Breve oração ao adormecer no dia internacional do obrigado]


Agradeço-Te

a possibilidade de agradecer 

o pequeno e o grande da vida,

iluminando o reconhecimento de coração,

em passos firmes pelo caminho da humildade

domingo, 10 de janeiro de 2021

Ser livre e amar



[Secção pensamentos soltos] Dos exercícios mais exigentes é o de ser livre e de amar. Sto Agostinho condensou em “ama e faz o que quiseres”. É preciso muita verdade, em autenticidade e honestidade, consigo próprio, na consciência das luzes e sombras pessoais, para esse caminho de liberdade e de amor. Sendo Deus amor e livre, “não faz acepção de pessoas” como recorda a Carta de Pedro, coloca-se na fila dos pecadores no momento do baptismo, entregando-se ao longo da Sua vida por todos, sem excepção. Dá o exemplo de humanidade e de divindade.


O caminho da liberdade e do amor é exigente por implicar muita escuta e observação de si mesmo e do que envolve, de modo a evitar atalhos. É preciso tempo. E silêncio. Logo após o baptismo, Jesus, mesmo depois de 30 anos, de vida oculta, passa 40 dias de deserto a enfrentar o que o pode dividir na existência: o mau uso do poder. Na nossa humanidade, ser livre e amar, é enfrentarmos esse mau uso de poder, poderes, grandes e pequenos, que nos são confiados. Os poderes intelectual, económico, moral, social, político, religioso, mal usados, como para interesse próprio, são desprovidos de liberdade e de amor. É no silêncio, na escuta e observação de si, que Jesus abre as perspectivas não de confronto, mas de encontro, colaboração, diálogo. A consciência da vulnerabilidade e da efemeridade da vida leva-o a concentrar todos os esforços na força do bem para todos, em particular os rejeitados da sociedade, desmontando as acções de violência e de morte. 


Ser livre e amar é saber-se atravessado de fragilidade e de força. Este paradoxo invoca a responsabilidade: as decisões de cada pessoa poderão ser de vida ou de morte. Quem é cada vez mais livre e amante não opta pela rejeição, pela segregação, mas pela integração, com as ferramentas da educação, do cuidado, do valorizar a pessoa, promovendo o crescimento do que pode ajudar uma comunidade a ser mais humana e divina. Quem é cada vez mais e livre e amante opta pelo respeito e pela ajuda ao próximo, em especial o que mais necessita. 


sábado, 9 de janeiro de 2021

Boas recordações




[Coisas na vida de um padre, com pensamentos soltos] Chegam boas recordações de um dia bonito e feliz, com o baptizado do Pedro. Já tinha publicado a foto que me tinha chegado pouco depois em formato digital. Nestes dias, em votos de boas festas, chegou em formato papel. 


Republico-a também por pensar e rezar muito nestes dias de imenso em Portugal, de forma particular, no mundo, em geral, onde me parece que há necessidade de silêncio, de suporte a tantas pessoas em sofrimento, de ganhar distância para a reflexão séria e despertar a consciência e a honestidade intelectual, fortalecendo a credibilidade no profundamente humano, sem segregações ou categorizações. 


E para os cristãos, em especial os mais dedicados à política, é de recordar a exigência desta passagem da Primeira Epístola de S. João que nos tem acompanhado esta semana: “Caríssimos: Nós devemos amar, porque Deus nos amou primeiro. Se alguém disser: «Amo a Deus» e odiar o seu irmão, é mentiroso. Quem não ama o seu irmão, que vê, não pode amar a Deus, que não vê. É este o mandamento que recebemos d’Ele: quem ama a Deus ame também o seu irmão.” [1Jo 4,7-9]


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Raiar beleza


[Secção coisas de nada] Apenas isto: um rebento de flor de magnólia. Se observarmos bem, ornado por fios e gotas de orvalho. Todas as coisas têm mistério. E o do brotar de uma flor em pleno Inverno anuncia o raiar de beleza. Faz-nos falta, na vida, deter o tempo e desde aí, raiar beleza. Apenas isto. 


sexta-feira, 1 de janeiro de 2021