quarta-feira, 24 de março de 2021

Tempo de pausa



[Secção tempo de pausa] Na véspera do dia bonito da Anunciação, a entrar na Semana Santa, partilho que farei uma pausa de publicações e presença pelas redes sociais. Sou mais um a que o excesso de ecrãs tem causado aumento de cansaço. Este breve descanso ajudará a que volte a acompanhar o melhor possível, também por estes lados. Levo, como costume, o abecedário para a oração. Até breve.


terça-feira, 23 de março de 2021

A contemplar infinito


[Notas soltas enquanto contemplo o infinito] Todas as palavras são vãs na tradução do inefável que neste momento sinto. Por tanto que me habita, em especial nomes e histórias de vida, na sociedade e na Igreja. O horizonte e a vastidão são lugar de Deus. No cansaço actual do mundo, Ele é caminho de descanso. E nós, enquanto Igreja, temos responsabilidade de sermos porta aberta, passagem, ponte, escuta e abraço. A viver em oração despojada, jejum livre e entrega com amor.


domingo, 21 de março de 2021

sexta-feira, 19 de março de 2021

Dia de S. José e do Pai



[Secção pensamentos soltos, repescados, em dia de S. José e do Pai] José vive durante a noite a sua Anunciação. Aquele sonho transmitiu luz na grande confusão da vida de quem não se conhece a voz. As palavras omitidas no texto bíblico são repletas de gestos, em atitude de confiança e acolhimento do mistério da criança que será portadora de mudança na humanidade. 


Ser pai tem esse lado de mistério. Tudo muda. Mais do que ter um filho ou uma filha, transforma-se a essência: torna-se pai. Em mudez de palavras, sem viver o lado interno da gestação de alguém, simbolicamente é a força da protecção. A noite ganha laivos de dia no acompanhar do crescimento do novo ser. Também na maternidade. Isto de não haver na humanidade blocos ou de cor ou de branco ou preto, faz-me pensar nas milhares de mulheres que tiveram também de ser pai. Ou nos pais que tiveram também de ser mãe. Cada um de nós é fruto da relação, seja qual for. No entanto, felizmente, não é imutável em caso de tristeza ou de desilusão sobre a figura paterna. Aprende-se muito com a presença e há que agradecer, e muito, os “melhores pais do mundo”. Igualmente se aprende, mesmo que com inevitável dureza, com a ausência, sobretudo quando esses pais são o invés da segurança depositada ou esperada. Seja como for, se cada um de nós aqui está e é, tal deve-se aos progenitores que, com mais ou menos amor, nos deram existência. Para quem este dia é de alegria e reconhecimento pelo pai que tem, é de agradecer. Para quem este dia possa trazer recordações mais tristes, também é de agradecer, por exemplo, a possibilidade de não dar continuidade à tristeza, à dor, mas à certeza de que o amor de Deus Pai (e dos padrinhos, igualmente reveladores de paternidade) nunca abandona. 


A Anunciação a José deu-se à noite, recebendo luz que lhe permitiu, apesar de toda a confusão de sentimentos, ir-se abrindo ao mistério de amar em paternidade. Nas noites da existência, podemo-nos apoiar em S. José. O meu Pai José, neste seu tempo de vida, também vai tendo o apoio da técnica de reabilitação e da fé. Há pouco dizia-me: “tu que também és pai, reza na Missa por mim.” É também uma forma de continuar a apontar caminho.


quinta-feira, 18 de março de 2021

Beleza leve



[Secção coisas de nada] Vi-a pousar. Ali ficou a abrir e a fechar as asas expondo os seus olhos de imenso. A beleza tem mesmo algo de leve. É impressionante como as coisas simples, ou irmos simplificando as coisas, traduzem caminho de liberdade. Tenho aprendido em conversas, silêncios, leituras, movimentos de dança e observações que quanto mais límpidos são as palavras e os gestos mais leves se tornam. Mesmo os que possam transmitir coisas difíceis. A mística da vida passa por deixarmos a nudez da existência acontecer. Difícil, mas profundamente necessário. É: a beleza salvará o mundo, como disse Dostoyevsky, por isso há que dançar para não nos perdermos, como disse Pina Bausch. E, claro, sempre em experiência de amor, como nos desafia Jesus. A leveza acontece. Quando me aproximei para tirar a foto abriu as asas, aguardou um segundo e dançou livre pelo ares.


terça-feira, 16 de março de 2021

Breve oração em celebração




Carla Ventura


[Breve oração em celebração] 


Agradeço-Te

ser diácono por Ti consagrado,

nestes oito anos no caminho

de húmus com luz e sombra

a permitir aprendizagem


Peço-Te

recordar sempre o dom 

vindo de Ti e em Teu Nome

continue a coroar a vida 

de quem me confias a amar e servir


domingo, 14 de março de 2021

Ramos a apontar o céu



[Secção coisas de nada] Enquanto dava um pequeno passeio, entre conversas e reuniões, olhei o céu. Convoca tanta serenidade olhar o céu. Desta vez tinha o pormenor dos ramos de ameixeira. Floridos, pontilhados de abelhas, no belo zumbir, fizeram-me ver os caminhos de encontro que florescem quando estou, estamos, dispostos a dar. O evangelho de hoje recorda que Deus quer salvar o mundo. Esta salvação, ligando céu e terra, não é algo etéreo mas concreto nas ramificações de relações de cuidado, atenção, vida uns com e pelos outros. Os conflitos atenuam-se na salvação. Ou outro modo de saúde alimentada de mel vindo de flores nos ramos que apontam o céu a convocar serenidade.


quarta-feira, 10 de março de 2021

Quem somos...



[Pequena divagação ao anoitecer] Nesta grande noite da existência que atravessamos, tenho pensado muito de que precisamos de nos questionar com seriedade quem somos. Não é uma mera questão filosófica. Apenas ir a fundamentos da existência, com implicações e efeitos para muitas outras questões que se gritam pelas redes fora. Se ainda não se consegue responder a isso, com autenticidade e respeito por si mesmo e pelos outros, todas as aparentes certezas que saiam em opiniões sobre tudo e mais alguma coisa serão apenas manifestações de falta de atenção. Qual criança ou adolescente interiores a pedir para crescer. Em vez de direccionar disparos para outros, que se faça esse caminho de crescimento. Todos ganhamos quando fazemos boas reflexões pessoais e nos respeitamos. E precisamos de tanto respeito uns pelos outros, como estrelas a guiar a humanidade.


sábado, 6 de março de 2021

Sonho de Deus



[Secção coisas de nada] Olhei a suavidade destas pétalas de magnólia iluminadas e ladeadas de céu azul. Detive-me e  agradeci a serenidade. Têm sido dias intensos. A escuta, o silêncio, a oração, a busca de luz em tantas situações, a acompanhar histórias e rostos neste tempo de tanto. O Papa Francisco no livro “Sonhemos Juntos” termina a sua reflexão sobre este último ano de pandemia com o poema Esperança de Alexis Valdès, actor cubano. O poema termina assim:


Quando a tormenta passar

peço-te, Deus apiedado,

que nos restituas melhores,

como nos tinhas sonhado!


Voltarei à magnólia. As pétalas caiem. As folhas verdes anunciam esperança. A mesma de podermos contemplar um mundo melhor. É o que desejo. Sejamos luz. 


quinta-feira, 4 de março de 2021

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te 

habitares nas perguntas 

que têm como resposta 

o elevar e baixar de peito

acompanhados pelo batimento cardíaco

quando a escuta e o olhar são compassivos

e o gesto misericordioso


Peço-Te

ajuda-me a saber perguntar


terça-feira, 2 de março de 2021

Sombra. Arrependimento. Luz


Carmo Sousa Lara


[Secção pensamentos soltos sobre vida] Atravessar as sombras, os meandros pouco simpáticos da vida, do que se fez ou faz que nos desajusta do lugar a que somos chamados é difícil, exigente, por vezes vergonhoso, sendo mais fácil arranjar justificações que impeçam a limpidez do ser. O caminho humano, que acarreta o racional, relacional, psicológico e espiritual, é de evoluirmos até ao divino.


O divino não é estar acima de nada, nem ninguém. É ser pleno. Com a consciência, como o Papa Francisco tantas vezes diz, de passar da miséria à misericórdia. Embater de frente com a miséria humana, na baixeza dos valores, ou pelo menos a possibilidade de a ela aceder, na perspectiva de enfrentar Satanás no deserto, é passo necessário de arrependimento. Os actos feitos não se apagam. Não se muda o mal feito. A beleza, sim, beleza, está na evolução, na escuta do Espírito que nos acompanha na travessia das sombras, a olhar com objectividade, clareza, lucidez para os actos cometidos. Há um contexto. Entre emaranhados de sentires, desejos, dores, feridas, articulam-se apedrejamentos dados e recebidos. Sem perdão, todos perdem. Todos perdemos. O arrependimento não apaga o acto. E talvez se se voltasse atrás repetir-se-ia o que foi. Não se tratam de saltos quânticos no “se soubesse o que sei hoje não faria”. O tempo não é cronológico, mas existencial. Cada pessoa tem os seus passos de vida e libertação. O arrependimento ao longo desse tempo existencial reformula a frase: “com o que sei hoje não posso voltar a fazer”. 


É tão forte quando damos espaço à luz. A sombra passa a ser uma aprendizagem de aprofundar a misericórdia. O perdão, como cura da memória, leva-nos ao divino e todos ganham. Todos ganhamos. É o sentido da Quaresma: encaminhar-nos até à Luz Pascal. Por outras palavras: à Vida.


segunda-feira, 1 de março de 2021

Renascer


[Secção renascer] O meu pai liga-me com voz brilhante.

- Estou tão feliz. Aguentei pela primeira vez 15 segundos de pé, em equilíbrio, sozinho. Já contei à tua mãe. Ai, ainda vou à Foia de bicicleta. Ai vou, vou. 


E rimos os dois. 

Este é o meu pai com toda a sua vontade de superação a celebrar as pequenas grandes vitórias.