quarta-feira, 13 de abril de 2022

Intenso silêncio


[Notas soltas muito pessoais, em Quarta-feira da Semana Santa] Apesar das azáfamas características destes dias, sinto-me sempre envolvido por um estranho e intenso silêncio. Nas ruas e casas fazem-se as limpezas de Páscoa. Fico a pensar nas limpezas de alma. Há momentos que tenho tudo para uma boa dose de maledicência. Recordo os momentos que falei mal para ganhar cumplicidade. É tão fácil. Ainda mais quando se sabe que a outra pessoa também não gosta de quem se vai falar mal. Mas tudo isto desumaniza.


A rezar a figura de Judas, que rapidamente é posto como o traidor, penso no mecanismo de defesa de matar o outro na sua dignidade. Curioso como ouço tantas vezes justificar não ter pecados com o “não mato, nem roubo”. Sorrio. Tantas vezes matei com o olhar, com a palavra. Tantas vezes roubei o tempo, a verdade e a beleza. Pequei, peco, ao desajustar-me no amor. 


Nestes dias envolve-me o silêncio. Como que um casulo a limpar-me a alma e a recordar a transformação necessária ao amor. A falar mal só gasto oportunidades de vida. Quero doses de bem. Para mim. Para os outros. Para o mundo. Com Judas, aprendo a humildade de reconhecer a sombra e a possibilidade de entregar alguém injustamente. Com Jesus, aprendo o difícil e exigente gesto de dar a outra face.


Continuo em caminho de liberdade e de limpeza de alma, tentando ser Luz, tentando ser Paz.


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