[Secção pensamentos soltos sobre cultura] Nos meus tempos de estudo em Paris fui ao teatro ver “By heart” de Tiago Rodrigues. A peça fala da sua avó Cândida. Sabendo-se a ficar cega, pediu ao neto que escolhesse um livro para aprender de cor, de modo a continuar a lê-lo mentalmente quando deixasse de ver. Na folha de sala: “lancei-me numa viagem. Uma viagem literária e labiríntica que, ainda hoje, continua”.
Ao pensar na cultura, nestes dias em que se toma forte consciência da precariedade dos artistas, dos produtores, de todos os técnicos que trabalham nos bastidores, recordei o “By heart” por muito do que foi dito e que escrevi na altura a partir da peça:
Dá-se uma viagem pela literatura. George Steiner é citado a partir d’ “O belo e a consolação”. (…) O saber de cor, no coração, lugar da força dos afetos e discernimento. Aprende-se de cor, mais do que memória mental, o que se ama ou se quer perdurar. No coração guardam-se versos de poemas ou capítulos de textos que nenhuma polícia ditatorial poderá mandar queimar. Aí, de cor, ficam a amadurecer as palavras que fazem sentido à vida. Em jeito de recordação, como no ritual judaico, onde o mais novo pede ao mais velho para repetir a história dos antepassados. A explicação de toda essa viagem: a avó Cândida sempre leu durante toda a vida. Mesmo preparando bacalhau no restaurante que abriu com o marido, passando também a II guerra mundial, a mistura do banal com o profundo acontece através das palavras.
Volta à memória o que senti na peça, o que me provocou reflexão no regresso a casa e dias seguintes, até hoje: os ecos da tão necessária humanização que nos faz viver para além do biológico. Em “By heart” foram-nos dados literalmente a comer versos de Shakespeare. Bela alusão ao alimento de alma que necessitamos na caminhada de humanização. Mas, os artistas, os produtores e os técnicos que fazem da vida criação para nos alimentar a alma, precisam de reconhecimento nestes tempos, para que também possam comer e não perder a força da inspiração e criatividade.
A saúde física complementa-se com a intelectual, a relacional e a espiritual. A cultura a todas alimenta.
Dá-se uma viagem pela literatura. George Steiner é citado a partir d’ “O belo e a consolação”. (…) O saber de cor, no coração, lugar da força dos afetos e discernimento. Aprende-se de cor, mais do que memória mental, o que se ama ou se quer perdurar. No coração guardam-se versos de poemas ou capítulos de textos que nenhuma polícia ditatorial poderá mandar queimar. Aí, de cor, ficam a amadurecer as palavras que fazem sentido à vida. Em jeito de recordação, como no ritual judaico, onde o mais novo pede ao mais velho para repetir a história dos antepassados. A explicação de toda essa viagem: a avó Cândida sempre leu durante toda a vida. Mesmo preparando bacalhau no restaurante que abriu com o marido, passando também a II guerra mundial, a mistura do banal com o profundo acontece através das palavras.
Volta à memória o que senti na peça, o que me provocou reflexão no regresso a casa e dias seguintes, até hoje: os ecos da tão necessária humanização que nos faz viver para além do biológico. Em “By heart” foram-nos dados literalmente a comer versos de Shakespeare. Bela alusão ao alimento de alma que necessitamos na caminhada de humanização. Mas, os artistas, os produtores e os técnicos que fazem da vida criação para nos alimentar a alma, precisam de reconhecimento nestes tempos, para que também possam comer e não perder a força da inspiração e criatividade.
A saúde física complementa-se com a intelectual, a relacional e a espiritual. A cultura a todas alimenta.
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