[Secção pensamentos soltos sobre maturidade na fé] Ser homem ou mulher de fé amadurecida, crescida, adulta, é exigente. Nos inícios, qual criança a que se lhe tem de dar comida à boca, é necessária a devida ajuda na compreensão dos mistérios. Escrevo “mistérios” no sentido da raíz “mythos”, de algo sempre novo a descobrir. Nada que ver com fechamento. Muito pelo contrário, com maior abertura de horizontes. A fé amadurecida é aquela que ajuda à libertação de acessórios, encontrando a força do essencial: o Deus da Vida e do Amor.
Os discípulos são enviados às periferias. Se olharmos a comunidade escolhida por Jesus vemos que de cultos, muito pouco; um ou outro algo bronco; e até escolhe um que o trai. Jesus na sua vida conhece a humanidade com a luz e a sombra. É nessa totalidade que a resgata para a divindade e é também o que celebramos hoje, com a Ascensão. Cristo quer que cresçamos na fé, não ficando agarrados a imagens que façamos dele. Não nos quer como crianças, a receber a comida directamente na boca dada por alguém. Todo o nosso ser, desenvolvido, é para a liberdade no acolhimento e comunhão d’Ele em mãos, como ensinaram desde muito cedo os Padres da Igreja, por serem o sinal do serviço ao outro. Quando crescemos na fé, deixamos a pequenez de horizontes e somos capazes de ir seja aonde for e estar seja com quem for a ser dadores de vida e de justiça. O adulto na fé não segrega pessoas, mas congrega. O adulto da fé não ataca pessoas nem promove a violência, mas contribui para a união. O adulto na fé não se fica a olhar o alto em espiritualismo etéreo, mas sabe que o concreto, o contexto, é realidade de Deus, por isso, sem necessidades de supremacia, seja de que tipo for, aprende a dialogar com todas as tradições.
Tudo isto é exigente, sim. Até pode ser mais confortável ficar-se acomodado na infância. Ainda assim, a Solenidade da Ascensão recorda-nos, mais uma vez, que somos chamados, não a defender, mas a anunciar a vida em Seu nome. Para isso, é preciso crescer, madurar, na beleza da fé. Afinal, Ele tem em si mesmo tudo o que somos e desafia-nos a ser participantes da liberdade de tudo o que Ele é: Amor.
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