quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Experiência da realidade





Dina Goldstein

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A experiência da realidade do quotidiano, vivido ou bem escutado, permite uma concepção menos intelectualista do ser humano e, ao mesmo tempo, mais integral. O mundo idealizado e perfeito não existe. Existe, sim, o convite a crescer na liberdade que permite o afastamento de comparações inúteis ou de visões que reduzam a mulher ou o homem ao funcionalismo biológico, social, político e, até mesmo, religioso. Isto de ser “concebido à imagem e semelhança de Deus” não é uma brincadeira, também é a vida concreta.


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

(...) [II]




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Vou conhecendo pessoas que Amam: de forma silenciosa, tentam dar o seu melhor. Descobrem no Amor uma forma vital. Tomam tempo para o pronunciar, por vezes até se afastam da palavra. E se o manifestam, mesmo usando a voz, não têm problemas com a humildade e carregam-no de experiência e gesto.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

S. Tomás de Aquino





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S. Tomás de Aquino: provocou a viragem do pensamento teológico no séc. XIII. No entanto, é interessante saber que as suas reflexões não foram imediatamente aceites no seu tempo. Sabendo disto, da sua capacidade intelectual, junto com a força espiritual e humildade (não muito conhecidas), seria, muito provavelmente, um grande defensor do diálogo teológico com as novas realidades do mundo, das suas muitas sociedades, que pode implicar mudanças nas distintas escolas teológicas. Pensar que é-lhe atribuída a afirmação: “Tenho medo do ser humano de um só livro”.  


domingo, 27 de janeiro de 2013

A propósito da Semana do Consagrado




Paul Wujick

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Faz sentido consagrar a vida a Deus? Sim, se se perceber que ser religioso(a) é viver e servir no mundo concreto e não idealizado. Sim, se não se vê como um heroísmo, mas como outro lado da humanidade. Sim, se o passado, a história, os pecados perdoados não são motivos de vergonha, mas de compaixão com a fragilidade dos outros. Sim, se apesar do medo ou inquietação, a confiança fale mais alto. Sim, se as conversões quotidianas levem à humildade que afirma: “Não somos melhores, somos simplesmente diferentes no encontro com Ele”.

sábado, 26 de janeiro de 2013

"Europa ou o Caos": um grito de humanidade




AFP

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No princípio, o Espírito de Deus pairava sobre as águas rodeadas de caos e confusão dando-lhes ordem. Ordenar significa dar o lugar a que se pertence, pondo em relação com o Criador. Tudo através da palavra plena de bondade e reconhecendo a mesma bondade na criação. 

O manifesto “Europa ou o caos”, escrito com palavras fortes, densas, carregadas de História e sabedoria (link para versão completa em espanhol), é assinado por quem não quer ver o fim de uma realidade surgida pelo esforço de muitos. Não querendo o fim, têm o desejo de alimentar a esperança no futuro das gerações que estão para chegar.

A partir do reconhecimento e gratidão das dádivas das grandes cidades e grandes nomes que compuseram a Cultura e História europeias, este manifesto revela o grito da vergonha política e da nova ditadura da economia, onde milhares de pessoas sofrem cada vez mais. A integridade política é fortemente desejada e necessária. Por um lado, a união pelo respeito, por outro, que quem se diz responsável por um país ou nação seja íntegro nos seus valores humanos. A responsabilidade implica dar a vida, não absorvê-la de outros. Isso é despotismo, como em muito foi visto ao longo da História. 

Um país é composto de rostos, não de peças de uma engrenagem ao serviço de alguns. Um país não corresponde a cifras, essas deveriam apenas ser o justo fruto do trabalho digno a que todos têm direito. Um país deveria lutar pelo que de melhor tem, não como um orgulho “patriocentrado”, senão como possibilidade de partilhar esse melhor com quem não o tem. Para isso, é importante a educação que desenvolva pessoas que, depois de uma formação alicerçada em valores do respeito e conhecimentos humano e científico, sejam livres no pensar, rezar e viver... e não ignorantes que se refugiam em formatações de ideologias políticas e económicas. 

No encontro de países, em comunidade, onde a união não significa uniformismo, mas diálogo e partilha, a diferença deve ser tomada como riqueza e não como inimigo a abater; a fragilidade ou os erros olhados com compaixão e não possibilidade de eliminação, como se quem condenasse fosse perfeito; e o fraco e oprimido protegidos sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 

A palavra continuou a manifestar-se na História até encarnar naquele que ensinou que o verdadeiro poder está em servir.

Definitivamente: Europa e Humanidade.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Conversões




Pormenor da “Conversão de S. Paulo” de Caravaggio


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No meio das muitas e pequenas conversões diárias quase imperceptíveis, há as grandes, onde se deram viragens no modo como me vejo como pessoa em relação com os outros e com Deus. Posso dizer que todas têm que ver com encontros. Não me tornei um novo Paulo, mais um Paulo renovado. Há medos e limites que se mantêm. O que muda? A consciência de que não estou sozinho, perdendo a vergonha da fragilidade. Aí, entre outras, a força do respeito dá-me impulso à vocação.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Beleza e unção




“A Festa de Simão, o Fariseu” de Rubens

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Podia-se falar da importância da beleza natural, no entanto, os tempos têm algo a dizer. O cuidado com a imagem, sem que seja uma obsessão, também revela o cuidado que cada pessoa tem consigo mesma. Não me parece futilidade e superficialidade a ida ao cabeleireiro, pôr baton, perfumar-se ou vestir algo que assenta bem. A mulher que ungiu os pés de Jesus com nardo puro não seria desleixada. O incrível, naquele tempo, foi a sua entrega na unção, incluindo o seu cuidado com a beleza.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Hoje pode ser um dia diferente




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Hoje pode ser um dia diferente. O mesmo ritmo, o mesmo amanhecer, as mesmas coisas ridículas (eu voltei a fazer caretas diante do espelho), a mesma seca de trabalho, o mesmo tom de voz do Ministro das Finanças, o mesmo desespero de fim de mês a chegar, a mesma vontade de café ou cigarro, ou sabe-se lá que vício. Hoje pode ser um dia diferente no que aparenta o mesmo, se houver disponibilidade em receber a subtileza do distinto, que pode provocar mudanças e levar ao que realmente importa: entre outras possibilidades, não ter horizontes pequenos.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Moralismo... [menos, por favor]




Andy Barter

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Tenho a sensação de que se vive um excesso de moralismo. E quando se trata da relação com Deus, ui, nem se fala. A moral é necessária, faz parte da convivência humana e divina. No entanto, quando se entra no campo do moralismo, em vez de suavizar, provoca ainda mais distância no relacionamento, seja ele qual for.


domingo, 20 de janeiro de 2013

O nu e a unidade




Spencer Tunick

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“Jesus nu nasceu e nu morreu.” Ouvi esta frase numa homília há uns tempos. Hoje, durante o retiro, voltou-me à memória enquanto rezava pela unidade dos cristãos. Há bastantes divergências, no entanto, há um mistério na riqueza da diversidade, já que permite ver pontos de vista diferentes. A nudez pode ser sinal de unidade: ninguém é perfeito, todos passamos por vulnerabilidade e, parece-me, ganhamos mais quando nos complementamos também a partir do respeito.


domingo, 13 de janeiro de 2013

(...)



Jonas Bendiksen

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Para se saber criticar tem de se conhecer bem a realidade e estar livre de invejas ou rancor. Se assim for, a boa crítica contribui para que ambos cresçam: quem a faz, em credibilidade, quem a recebe, em qualidade. Sim, hoje celebramos o baptismo do Senhor, que entrou plenamente na realidade humana. 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O mundo e os desejos [da Samsung à Chanel, passando por Deus]




Frederick Helwing

Não me considero uma pessoa que está acima do “bem e do mal”: vícios, desejos materialistas e pecados moram também por aqui, partilhando o espaço com qualidades e capacidades. Não vivo numa neutralidade afectiva, as coisas ditas ou escritas não se remetem a uma impassibilidade indiferente. 

Depois da agitação de ontem, e de hoje pelos vistos, sobre os famosos desejos, fiquei a pensar na encarnação. “O quê, agora também se vai pôr Deus e Jesus ao barulho?” ou então, “Ui, lá vem moralismo da Igreja que, claro está, vai condenar a futilidade, a superficialidade e essas coisas todas!”. Pois, a Encarnação é no mundo na sua totalidade. 

Como escrevi no post de ontem, o problema não são os desejos, esses fazem parte de cada um de nós. São reveladores do nosso contexto, sim, são. Se me perguntassem os meus diria: que se fechem os Centros de Internamento de Estrangeiros, que acabe a guerra na Síria e a matança que ocorre no Congo, que haja justiça em Portugal, mas também tenho um escondido mais materialista: gostava de ter um iphone. Ui, escândalo! Um jesuíta a desejar algo... assim tão materialista. Bem, desejo, mas não necessito e se não tenho não desespero, como acontece na realidade. Reconheço o trabalho interior que tenho feito, para com naturalidade ir percebendo o que é mais importante, para além do ter isto ou aquilo. Confesso que quando ouvi os desejos, antes de toda a confusão gerada, pensei: “Podem ter, que bom para eles.” Não senti ponta de inveja. 

O que me entristece é a condenação pública que facilmente se faz nos dias de hoje. Muitas palavras que tenho lido são como pedras em direcção às pessoas, nomeadamente à agora famosa Pépa Xavier, como se fossem as mais execráveis à face da terra. 

A Samsung foi muito infeliz, com erros de casting e briefing, onde, obviamente, se pode sentir indignação entre o contexto da publicidade e o contexto social em que Portugal vive, sim. No entanto, já se viu que quando as pedras voam (tenho na memória a última manifestação em frente à Assembleia da República), alguém fica mal, muito mal. E se os desejos podem dizer algo de quem os formula, as pedras atiradas também. 

Há valores mais importantes que o ter uma carteira Chanel, sem dúvida que há. Um deles podia ser formulado desta forma: “não me julgues imediatamente por eu desejar de uma forma diferente da tua.” 



quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Samsung e o mundo



Zed Nelson

Em relação à recente publicidade da Samsung, que acabou por suspender: o problema não são os desejos, o problema está na redução da realidade portuguesa à vida de meia dúzia de pessoas.

FMI e ensaios intelectuais



Chris Coekin 

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As novas medidas propostas pelo FMI, se fossem um ensaio intelectual, poderiam intitular-se: “Como eliminar uma nação sem eliminar as pessoas que dão jeito à subserviência (já que não se pode mencionar escravatura) daqueles que ficam com os lucros dos cortes humanos, perdão... financeiros.” Outra possibilidade: “Como eliminar uma nação, sem dó nem piedade, em nome da sua própria (pseudo-)salvação.”

domingo, 6 de janeiro de 2013

Epifania ou Manifestação




Ivan Terestchenko

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Na Missa ouvi: "hoje é o dia em somos chamados a ir às fronteiras do que temos por adquirido". Tenho pensado na desinstalação, na mudança de perspectivas em relação à realidade, minha ou de outros. Recordo, por exemplo, Ignace Lepp: de ateu, em linha marxista (tendo sido um dos máximos dirigentes dos intelectuais revolucionários da Europa), converteu-se ao cristianismo, entrando na Companhia de Jesus e ordenou-se padre. Para Deus, as pessoas são pessoas, não etiquetas. 

sábado, 5 de janeiro de 2013

60.038



Amy Hildebran

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É o número de visitas d’o.insecto, até agora.

Muitas pessoas chegam aqui a partir das imagens. Algumas pelos títulos dos textos. Outras através do nome do próprio blog ou porque partilho os posts no facebook. Seja como for, são já mais de 60000 visitas de muitas pessoas.

Não fui eu que comecei o.insecto, fui convidado a participar há uns anos. No entanto, desde há bastante tempo que apenas sou eu a escrever: pequenas reflexões mais pessoais, outras com tom mais social, às vezes atrevo-me a entrar na poesia, não esqueço Deus nem a Teologia que agora estudo. 

Gosto de ser “desafiado”. Tenho a sensação que alguns dos meus melhores posts surgem de conversas, de estímulos por parte de dúvidas, inquietações ou possíveis desacordos. O diálogo ou outras perspectivas ajudam a abrir o horizonte. 

Já agora, que críticas faria(s) a este blog?

Cara(o) visitante, muito obrigado pela(s) visita(s). A porta segue aberta. 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

[Liberdade]





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Liberdade:
encontrar a novidade
aqui.

Liberdade:
deixar Deus ser
Deus
e não
deus.

Liberdade:
Shhhhhh...
-Escuta-

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Sabores... desde um bolo de iogurte





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Fiquei pelo bolo de iogurte. Delicioso como sempre. Os doces nunca foram o meu forte, mas aquele bolo tinha um sabor que me levava à infância. Um dia cortei uma fatia, envolvi-a num guardanapo de papel. No recreio, na escola, sentei-me num canto. Desembrulhei os pensamentos, enquanto comia aquela fatia. Os sons de crianças no pátio preenchiam o espaço. Pensei que iria sempre saborear a vida, não permitindo que algo ou alguém me impedissem de ver, de descobrir ou de abrir horizontes. Já desde pequeno que os rostos me falavam. Não percebia nada de metafísicas ou questões existencialistas. O olhar de criança simplesmente tinha o mundo por diante: a criatividade, as formas nas nuvens, Deus numa pequena flor. Soa a campainha. Sacudo as migalhas. Caminho até à sala com o sabor de bolo de iogurte. Delicioso como sempre.