A revista Egoista dedicou uma publicação de homenagem a Agustina Bessa Luis, reunindo um conjunto de textos muito bonitos, que dá mesmo prazer ler. Além disso tem um apresentação gráfica atraente, entre o conservador e o ousado, um tanto desconcertante, como a autora que merece a homenagem.
Há muitos anos que sou leitora de Agustina, embora só conheça uma pequena parte da sua vasta obra de mais de 60 títulos. Às vezes acho-a fascinante, outras antipatizo bastante, é engraçado como ainda não me decidi quanto à pessoa que escreve e que nos esmaga com aforismos inesperados, tirando conclusões do que não parecia ter nada para concluir.
Mas o que me fascina é aquela capacidade de ver o mundo com outros olhos, muitas vezes sarcásticos, outras cínicos, outras com bondade onde se esperaria censura.
Li há pouco tempo "A Ronda da Noite", escrito a pretexto de um quadro, uma espécie de sopa de pedra para a divagação delirante sobre as pessoas, carácteres e rumos inesperados da vida.
Os livros da Agustina não contam histórias, quem for à procura de uma história com pés e cabeça desiluda-se, o mais certo é até encontrar personagens que trocam de nome a meio do livro, ou que mudam de casa sem a autora dar por isso. Os livros dela são para deleite do espírito, de quem gosta das palavras a ter vida própria, desprendendo-se do terreno e criando imagens que só existem porque as palavras se abraçam só porque simpatizaram umas com as outras, cabe-nos a nós ir atrás delas e desvendar o sentido novo que adquiriram com esses casamentos de amor. Logo à frente separam-se, ignoram-se, odeiam-se, vão procurar outros companheiros e nascem novas frases lindissimas, é preciso voltar atrás para ver que mudaram de roupa. Nos livros de Agustina o tema são sempre as palavras, o modo renovado de expressão que dá nova cor à realidade e nos mostra aquilo que os olhos sozinhos não conseguem ver.
Vale a pena ler a edição especial da Egoista.
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