Teresa Lamas Serra - Castanheira de Pêra
[Secção outras perspectivas, a partir da minha escuta de quem passou por terras queimadas e não quer que tal caia em esquecimento] Chegaram as informações por imagens e palavras, em sons de gritos de desespero e dor, com a aflição das labaredas que desfocam qualquer olhar. Não interessou a política ou os eucaliptos no momento, já que a tensão entre a fuga e o ficar-se para proteger o impossível é a sensação que abafa qualquer reflexão. Choveu, água e solidariedade, acudindo gente perdida de corpo e de alma, de sonhos e certezas. Morreu gente, muita gente. As estradas revelam o negro desolador, dando espaço ao silêncio da impotência e às perguntas de quem chega para ajudar. "Foi preciso muita morte para chegarem os médicos. Quanto tempo ficarão até voltarmos a ser novamente esquecidos?" O tom revelava o misto de agradecimento e o medo da solidão. "Dinheiro? Roupa? Enterrei as minhas galinhas e cabras." Enterrou, dizia com o olhar, a companhia e o sustento. "Agora, tenho de esperar que os senhores importantes decidam o que nunca viram. Gostava tanto que viessem aqui dormir uns dias. Sem palavras. Só dormir, deixar passar as horas e ver os rebentos depois da desgraça."
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