Jorunn Sjofn Gudlaugsdottir
Há quem diga que nós, jesuítas, entramos sem nos conhecermos, vivemos sem nos amarmos e morremos sem nos chorarmos. Lembrei-me deste “dizer” ontem à tarde, no hospital. Os 4 jesuítas portugueses que estudamos em Paris acompanhávamos o P. Afonso Herédia no seu caminhar depois de uma grande cirurgia. A sua saúde ía-se debilitando e fazíamos os possíveis para estar o máximo de tempo ao seu lado. Já há muito que estava “inconsciente” (entre aspas, pois o mistério de nós é mais do que pensamos). Ontem à tarde cheguei, rezei a oração a Santo António que ele me pedia sempre para rezar. Também era dia de outro Afonso, o Santo Afonso Rodrigues, em que também recordamos de forma especial os Irmãos na Companhia (a santidade deste homem estava presente no abrir as portas do colégio, durante anos, em Palma de Maiorca, vendo em cada pessoa o “Senhor” ou a “Senhora” divinos). Depois estive, simplesmente estive. Li, rezei mais um pouco. Sentia-se o anoitecer, quando a máquina deu o sinal da partida do P. Afonso até ao Pai, no coração que passa a pulsar na eternidade. Havia muita paz no quarto e um respeito enorme. “Quer ficar aqui um pouco?” Respondi que sim. Naquele momento senti-me ali em e como Companhia e chorei. Rezei as Vésperas… já anunciadoras do dia de Todos os Santos, agradecendo o tanto que o P. Afonso deu ao mundo nos seus 50 anos de Jesuíta, com o seu humor característico, no seu amor a Deus, na sua grande preocupação pelos pobres, pelas Missões, sobretudo em África. Foram alguns os enfermeiros que comentaram, emocionados: “Tenho-lhe muito carinho!”. Depois, juntámo-nos os 4 ao lado do P. Afonso, a continuar rezar por ele, pela família, em Companhia alargada. Ainda estou meio estranho, mas, na força daquele momento que pela primeira vez vivi, apercebi-me que na nossa diversidade de feitios ou personalidades, com mais ou menos amizade entre nós, modos de relacionar com Deus, visões teológicas, erros, pecados, somos Companheiros de Jesus em todo o instante, e que em distintos modos nos conhecemos, amamos e choramos. Obrigado P. Afonso! Tenho para mim que já está a dar umas boas gargalhadas no Céu, em plena Companhia de Jesus.
Soube há pouco da morte do querido P. Afonso, com quem trabalhei há 38 anos nas Caldinhas.
ResponderEliminarObrigada por estas palavras lindas e cheias de carinho com descreve os momentos antes e a seguir à partida para os braços de Deus do P.Afonso,
"l'important est invisible par les yeux" foi assim a vida deste grande homem, fazendo o bem sem nos apercebermos.
Um forte abraço para todos os que com ele estão que o Senhor vos dè o Seu carinho.
Luzia Belchior
Luzia,
EliminarMuito obrigado pelas suas palavras.
Um Abraço, com muita amizade.
Obrigado,e que o Senhor esteva convosco nestas ultimas horas antes e depois do corpo do Padre Afonso regressar a São João de Brito.
EliminarAbraço, Luzia
p.s.; vou passar a seguir o seu blog, meio de rezar um pouco