domingo, 29 de janeiro de 2012

Epifania (II)




(Versión en español en los comentarios)


Sabes o que gostava? 
Abrir os braços e lançar-me ao vento. 
Mas tenho de ficar em casa. Não por uma obrigação externa ou internamente imposta. Tenho, mesmo que os ventos me chamem para voos incessantes. Sobretudo aqueles que me levam a sair de casa. Agora não posso. Foi aberta, finalmente entrei nela. Demorei a abrir as janelas. Tinha medo do pó, das imensas teias de aranhas que o tempo foi tecendo. Estava, bem ainda está tudo no mesmo sítio. Os livros, as molduras, os registos da memória física e emocional, daqueles momentos já idos, contudo tão presentes. Ainda não acendi qualquer luz. Prefiro que da janela venha a natural iluminação dos passos vividos, sentidos, sofridos, reveladores de sorrisos que guardavam lágrimas e de lágrimas que guardavam as palavras que ficaram por dizer. Vem a brisa. Mexo e remexo, já sem o absoluto medo que pode impedir de entrar ainda mais fundo nesta casa pequena, minimalista e muito acolhedora. Há brisas e há vendavais. O pó levanta-se. Apetece fechá-la e impedir que esse mesmo pó entre em mim. Não! As janelas estão abertas. Depois de muralhas derrubadas, barrocos que compunham uma falsidade como forma de dizer “sou” sem o ser. Não interessa. As portas abriram-se de par em par. Por isso, tenho de ficar em casa, mesmo que gostasse de voar. Agora é o tempo de (re)conhecer. E assim, mais gostar, sentir, crer. 



sábado, 21 de janeiro de 2012

Silêncio...



"Nine birds" de Michael Kenna

...o estudo fala mais alto, levando para outros voos, do pensar e do sentir. Nas dúvidas, nas questões, nos medos e nas vitórias. Há momentos em que não apetece nada. Noutros abre-se uma nova realidade ou simplesmente a renovação de histórias e aprendizagens antigas. Outros caminhos, pequenas veredas, antigas, sagradas, silenciosas.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Sentido de ser (III)


"Garden #9, 2010" de Shinichi Maruyama


“Toda a vida actual é encontro” (Martin Buber)…
…estabelecido com muitas ramificações, mais ou menos fortes e simbólicas, com maior ou menor sentido. Ramificação entre autores, pensamentos, linguagens, culturas, modos de ver e sentir, através de conhecimentos e sabedorias que se solidificam, no encontro que se faz e nos permite viver de outra forma. O encontro que inevitavelmente leva à transformação do humano que o vive. O encontro, com o diálogo, abre as portas de novos mundos. O ser humano que vive a plenitude de si, com limites e capacidades, reconhecendo-se não criador, mas participante e co-criador da realidade, renova o seu olhar para a sua vontade, desejos, que permitem que caminhe para a pacificação de si, do outro e da cultura em que está inserido.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Epifania




Sussurro-te ao ouvido, em jeito de oração, o encontro que desejo ter.  Abro a janela, vislumbro o mar, deixo que o ar circule na casa há muito fechada. Aos poucos descubro os mistérios, meus e teus em mim. Sempre te mostrei as fachadas. Uma meio barroca, a outra forte como uma muralha. Curioso como se desfazem em nuvens de pó. Totalmente desnecessárias neste momento. Construí-as com o intuito de proteger... no fundo, de mim próprio. É mais fácil ter conchas, mas o esqueleto sustem, equilibra, deixando que a pele seja o primeiro receptor e já não o embate com algo que não  pertence. Por isso, agora e aos poucos, mergulho sem pressas no fundo da realidade... a minha. E vejo tua presença em cada instante, mesmo nos minutos e anos em que erguia o que não era meu, nem de mim. Novos tempos: deixando germinar, limpando, descobrindo, confiando. Faz sentido acolher... não me canso de dizer o quanto a divindade se reveste de humanidade. Vês onde moro, deixo-te habitar.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O erro. O prémio.





essejota. Secção de poesia.
Estava responsável pela edição de Dezembro de 2008. Seria a primeira vez a escolher um poema. Escolho um que, segundo as minhas pesquisas, vinha assinado por Maria Teresa Horta. No início de Janeiro de 2009 recebo um mail da coordenação a reencaminhar outro:
Exmºs. Senhores
Não tendo havido qualquer resposta à minha anterior mensagem, venho reafirmar que o poema "Nasci-te", que me é atribuído na vossa edição de 10 de Dezembro último, não é de minha autoria. Insisto, pois, na necessária e urgente rectificação desse lapso,
Com os melhores cumprimentos
Maria Teresa Horta
Foi rectificado o lapso. Acabando depois por descobrir a verdadeira autoria do poema. E, nesse mesmo dia, envio um email à Maria Teresa Horta. Peço-lhe um contacto telefónico para apresentar as minhas desculpas o mais pessoalmente possível. A resposta não demorou. Telefonei e a Maria Teresa pediu-me o favor de ligar um pouco mais tarde, pois estava a falar com a sua editora sobre a Leonor. Assim o fiz. Estivemos à volta de uma hora ao telefone, onde ficou prometido um chá na minha próxima ida a Lisboa. E começou uma amizade... a partir de um erro. Desde 2009 até 2012 muitas conversas tivemos, em partilha, em voos, sobre poesia e anjos, em escutas do que é a vida,  sobre o corpo, a humanidade feita mulher e homem, juntando crenças e “descrenças”, na gargalhada sobre o que poderia ser impensável se não tivesse acontecido um lapso, um erro.
Nestas nossas conversas a Leonor marcou sempre uma presença. Não fosse ela parte da própria Maria Teresa, que carinhosamente a trata por “minha Leonor”, depois de 13 anos de sonho, investigação e escrita, viagens de alma e de terras, conventos e orações, encontros e história. E a Leonor saiu ao público. A Leonor foi reconhecida, levando a que Maria Teresa Horta ganhasse o prémio literário D. Dinis 2011.

Parabéns Maria Teresa!


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Outra forma de pensar o ano que começa...




Bom dia. Bom ano. Acordámos todos. Absorvemos o universo inteiro. Pelo menos do acontecer diário. Com surpresas. Desejos ardentes de novidades. Mesmo que sejam repetições do mesmo carimbo que apenas altera as datas. Cheias de notas. Musicais. Não numeradas da forma que leva a perder o sentido profundo das coisas. Da realidade feita poesia. Que não se paga. Simplesmente se vê. Cheira. Toca. Ouve. Saboreia. Como gosto de o fazer contigo. Tudo. Partilhar tudo. Com Tempo. Com Espaço. Escolhido por ambos os passos direccionados. Sorrateiramente desnivelados. Sem “ganas” de outros registos. Ou arquivos. Ainda que a história fique a meio. Há sempre a possibilidade de novos rumos. Fios e fios de comunicação levam-nos até ele(s). Basta sonhar. Despertar. Entre o sol ou nuvens. Vislumbrar que o fim também é princípio. E oportunidade. No novo amanhecer...  diria bom.