Tinham 15 anos quando se apaixonaram e na memória de ambos ficou gravado aquele primeiro amor.
Ele era tão esperto e tão bonito, tinha uns olhos trocistas e um riso sempre adivinhado no traço da sua boca. Ela era tímida, tão tímida que os risos dele a atemorizavam, antes daquela ida ao cinema, ele a olhá-la em vez de ver o filme, a mão dele a procurar a mão dela, devagarinho, a deixar-se ficar ali, sem apertar, a evitar a recusa.
Ouviram juntos os discos que chegavam de Londres, aprenderam juntos a dançar nas festas em casa de uns e de outros, falavam das aulas, da escolha do curso e riam, riam perdidamente a imaginar-se adultos e sisudos.
Ouviram juntos os discos que chegavam de Londres, aprenderam juntos a dançar nas festas em casa de uns e de outros, falavam das aulas, da escolha do curso e riam, riam perdidamente a imaginar-se adultos e sisudos.
Sentiram a descoberta da atracção física, um pequeno esboço, claro, mas ainda assim intenso e assustador, tudo contado e revivido em cartas ou falado em longas e sussurradas conversas ao telefone, a iludir a distância tão curta e tão longa. Não era fácil encontrarem-se e uns fugazes momentos a sós tinham que contar com a cumplicidade discreta dos amigos, era assim na altura e também tinha o seu encanto.
Nunca conversaram sobre aquele afastamento lento, insidioso, um ano é muito tempo para a impaciência de quem está a crescer. Só sabiam que um dia a carta não teve resposta, no outro o telefone não tocou, zangaram-se sem conversar, foi assim, ela tão tímida que não perguntou, ele tão esperto e bonito que não precisava de responder.
Quando se encontraram por acaso, muitos anos mais tarde, ele olhou-a com os mesmos olhos trocistas, o mesmo riso contido no traço da boca, e na sua voz ciciada de menino arriscou um “ainda temos muito que conversar”, mas ela riu-se e foi-se embora. Nunca mais seria tempo de conversarem.
Da vez seguinte que se encontraram ela não o reconheceu no homem grisalho e disforme que a olhou com uns olhos trocistas quando a cumprimentou com reserva. E ele, tão esperto, percebeu, e afastou-se, sem sombra de riso no traço da sua boca.
Nunca conversaram sobre aquele afastamento lento, insidioso, um ano é muito tempo para a impaciência de quem está a crescer. Só sabiam que um dia a carta não teve resposta, no outro o telefone não tocou, zangaram-se sem conversar, foi assim, ela tão tímida que não perguntou, ele tão esperto e bonito que não precisava de responder.
Quando se encontraram por acaso, muitos anos mais tarde, ele olhou-a com os mesmos olhos trocistas, o mesmo riso contido no traço da boca, e na sua voz ciciada de menino arriscou um “ainda temos muito que conversar”, mas ela riu-se e foi-se embora. Nunca mais seria tempo de conversarem.
Da vez seguinte que se encontraram ela não o reconheceu no homem grisalho e disforme que a olhou com uns olhos trocistas quando a cumprimentou com reserva. E ele, tão esperto, percebeu, e afastou-se, sem sombra de riso no traço da sua boca.
Ela lembrou-se de tudo isto quando foi buscar a cartas envelhecidas que ele lhe escrevera quando eram quase crianças e as leu, uma a uma, até lhe ouvir de novo a voz ciciada e o riso solto. No dia em que ele morreu.
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