quinta-feira, 22 de maio de 2008

Em dia de Corpo de Deus...



“O Verbo fez-se Carne e habitou entre nós”

(Jo 1, 14)

Corpo

Sentido, vivido, comungado…

Sangue

Essencial, vivencial, dado…


Poderá haver corpo sem Corpo? Sentir a humanidade que transparece a divindade dá a reposta imediata: não, não pode haver. O corpo isolado da Comunidade que sente, vive e comunga da realidade em cada pessoa é um corpo sozinho. A solidão, o afastamento, o desligar do outro, a superficialidade da vivência quer do próprio, quer do outro, está a tornar-se o marco do ocidente. Conseguirá o humano viver na plena solidão?

No entanto, mesmo que se esteja a tornar um marco, não é, a meu ver, um marco invencível. O Corpo vivido é, por mais que não se sinta, uma verdade no quotidiano. A partilha, a cumplicidade da amizade, a troca de experiências como o caminhar para a profundidade do outro permite que o Corpo se torne real. Pelo fazer e desfazer de laços que ajudam a ir mais além, o integrar da história vivida, o perdoar-se a si próprio…

Educados num racionalismo quase extremo, em que os afectos – a vivência da corporeidade, para ser mais específico – foram postos de lado, onde o sentir ou é para meninas, ou para os que não têm mais que fazer, nós humanos – de modo particular, os ocidentais – corremos o risco de ser objectos produtivos e não sujeitos de corpo e sangue vivificados. Em que cada qual comunga do Outro, dando o que é… Mesmo que seja o olhar, o toque, o grito, o limite, a doença, a vitória, o desejo, o sonho, a amizade, o amor, no fundo, a profundidade da humanidade, que revelam a subtileza da divindade quando dá… Do Seu Corpo e do Seu Sangue a que cada mulher e cada homem é convidado a participar…

2 comentários:

  1. Anónimo22:42

    Vai parecer apocalíptico e soar a profeta da desgraça mas... é o que é:

    A questão é que esse racionalismo e "o desligar do outro" não é nada superficial... é de uma frieza e uma intensidade avassaladora. É a defesa levada ao extremo, essa é a principal razão da "crise". A tal crise que já ninguém pode ouvir falar dela... mas... ainda ninguém percebeu que essa crise, não é culpa do défice, é interior, é devido à mudança no relacionamento entre as pessoas, na comunidade, devido à competitividade... e essa crise toca a todos... mas, mudando de atitude, o modo como estamos a relacionar-nos enquanto sociedade e aí estabilizamos...

    OU...

    Podemos avançar com a crise... e aí, vejo dois cenários:

    1- Continua tudo em pressão e competição desenfreada, um individualismo e receio da miséria cada vez maior e acaba tudo a comer-se uns aos outros.

    2- Continua tudo em competição desenfreada, em crescendo numa solidão dolorosa, até ao dia em que já ninguém aguenta a pressão, sai tudo porta fora dos empregos e pronto, a engrenagem desaba.

    Mais simples é mudar-se de atitude...
    basta pensar-se em grupo, para acalmar esta roda viva... cortar com esta ideia de que não se pode contar com o outro... que estamos sozinhos no mundo... numa sobrevivência individualista (é aí que a "crise" começa e se alastra).

    E aí penso que os media têm uma responsabilidade enorme, com esta promoção da cultura do Medo, do salve-se quem poder... isso promove
    esta corrida individualista.. Noticias entre o Medo e a Responsabilidade do "as pessoas têm que".
    Nâo se vê notícias entusiastas... coloquem-nas e vão ver o resultado.
    As pessoas precisam disso.

    Há uns tempos, em Lisboa, ao assistir a uma camioneta a contornar um sem abrigo com cuidado para não o "pisar"... o "corpo" estava caído entre o passeio e a estrada (a estrada era muito estreita e o condutor da carrinha media distancias, olhava fora da janela, como quem tenta passar por um carro sem riscar...)

    eu comentei:
    Cada vez, vejo mais gente caída no chão em Lisboa, em pouco
    tempo é para aí o terceiro.

    levo com esta resposta:

    E cada vez vais ver mais.

    (Nesses casos, penso que o problema
    não está no alcool, pois quem se encharca e se anestesia nele já caíu muito tempo antes... e essa queda é motivada por uma força muito mais destrutiva e opressora: chama-se Solidão.)

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  2. Anónimo23:01

    quando refiro a noticias entusiastas... é qualquer coisa para além do Patriotismo Futebolístico e o uso da bandeira como simbolo de união nacional...

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