sexta-feira, 27 de julho de 2007

Em comentário ao comentário, Moura afirma:
«não me lembro MESMO de nenhum líder da oposição do PSD (ou de outros partidos) que tenha tido algum reconhecimento enquanto na oposição».
Moura,
Este é de facto um dos grandes problemas do nossa Democracia. Passo a explicar.
Se formos analisar a eleição dos últimos primeiros-ministros constatamos o seguinte facto: nenhum foi eleito por mérito próprio, pelo seu trabalho enquanto líder na oposição ou pelas propostas que apresentou ao eleitorado. Vejamos os factos: António Guterres foi eleito pelo desgaste da governação de Cavaco Silva, Durão Barroso foi eleito pelo desastre da governação de Guterres e Sócrates foi eleito pelos disparates da governação de Santana.
Não vou ao período antes de Cavaco Silva, pois não vale a pena analisar tanto disparate governativo. Mas desde últimos anos fica a conclusão que os portugueses elegem os seus primeiros-ministros não por aquilo que eles valem, não pelas propostas que têm e apresentam, não pela sua capacidade, mas sim por aquilo que o anterior representa. Votam apenas sob a vontade de mudar e de mudar seja lá para onde for, desde que se mude.
Isto acontece ou porque o povo é mau ou porque os partidos não prestam?
A base de uma democracia é a educação do seu povo. É isso que nos permite ser mais livres e mais responsáveis. Educar um povo não é controlar um povo, é permitir que ele escolha livremente e à classe política apenas lhe resta permitir que seja a sociedade e as famílias a organizarem-se para a educação do povo. Não haverá verdadeira educação enquanto cada um de nós, individualmente, não tenha a liberdade de escolher o seu caminho, a sua escola, a sua educação. O Estado aqui não se deverá substituir à família.
Saímos de um regime autoritário para uma democracia, não sem antes passar por um PREC, será que ainda vivemos, na educação, tempos desses?
Por isso, não elegemos os melhores, elegemos o menos mau.
Não haverá coisa pior que termos uma democracia que elege o mal menor?
E os partidos políticos não deixam de ter a sua grande responsabilidade nesta matéria.

8 comentários:

  1. As pessoas, por cá, não votam em busca de mudança, porque simplesmente não sabem nem pensam no que querem mudar. Sentem-se simplesmente insatisfeitas e saturadas e votam num novo "Lider" que as "Salve". País catolaico.

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  2. Tiago, acho que vou dizer algumas heresias na minha resposta, mas paciência.
    Em primeiro lugar, acredito na democracia ou seja, acredito que a soma da vontade de muitos, fazendo a maioria, tem boas probabilidades de acertar mais do que a decisão de poucos, ainda que esclarecidos.Por isso, não vejo que a "educação do povo", como lhe chama, possa ser desculpa para se ir dizendo que são enganados, que não sabem escolher racinalmente, que vão optando por males menores.Talvez sim, é uma forma de raciocinar como outra qualquer, não podemos é considerar que uma democracia é imperfeita porque o povo que vota é pouco culto, a menos que optemos pelos votos exclusivos de uma classe que se autodefina como esclarecida e tenho mesmo muito medo disso.Que se deve melhorar substancialmente a educação das pessoas, claro que sim, todos ganharemos com isso, e economia, o civismo, o progresso, o bem estar e, claro, a vida política também. Mas não podemos adiar a democracia até lá...
    Concordo consigo que cabe à classe política trabalhar para que a educação do povo melhore, uma vez que é ela que governa e pode fazê-lo oferecendo escolas públicas,ou deixando que o sector privado cuide dessa oferta, ou as duas coisas, dando liberdade de escolha. Aparentemente, é esta a que vigora no nosso país, não conheço limites a essa liberdade que não as que resultam da capacidade de pagar pelo produto que se oferece. Mas aqui, a questão já não é tão simples, a organização de um "mercado" tem algumas regras, há que decidir se o Estado se retira da oferta e apenas paga a quem quiser estudar nas escolas privadas ou garante uma rede de escolas públicas suficiente para acolher todos os que queiram estudar, caso em que tem que garantir que não vai pagar duas vezes, mantendo escolas e pagando para os alunos irem frequentar outras. Enfim, dava uma boa discussão, mas não me parece que este seja um problema especialmente crítico entre os muitos que nos afligem.
    QUanto à política, parece que estamos de acordo, não é mudando lideres todos os dias, à espera do D.Sebastião, que vamos chegar a bom porto. Em Portugal, não gostamos dos políticos, nem de quem mande muito, nem de quem mande pouco, é assim uma espécie de empecilho que temos que aturar, porque lá bem no fundo somos muito individualistas, achamos que cada um (o próprio, claro) sabia muito bem viver sem ninguém a ditar regras (salvo para os outros não o incomodarem). É como dizia o centurião romano, não sabemos governar-nos nem deixamos que nos governem. Além disso, os partidos políticos não são entes abstractos, são formados por parte da sociedade que temos, reflectem essa sociedade e agem com as mesmas regras. Temos que ser exigentes na política, claro que sim, do mesmo modo que temos que ser exigentes como governados, não é a mudar de lideres todos os dias que resolvemos os nossos problemas...


    22:53

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  3. Cara Moura,
    1. Nasci e vivo em demoracia, não conheço outro e por isso a democracia é-me um dado adquirido que não ponho em causa e não discuto os seus fundamentos. Discuto sim, os seus pormenores, os seus caminhos e as suas escolhas. Por isso não vejo, nem admito votos exclusivos ou votos de uma classe. A vontade deve ser geral e global.
    2. Uma democracia é aquilo que é o seu povo e quanto melhor for, melhor é a democracia. Neste sentido, quanto mais e melhor educado for, mais e melhor democracia teremos. Pois é a educação que nos torna livres, mas igualmente mais responsáveis. Por isso acredito que o Estado tem uma obrigação de educacar o seu povo, mas essa obrigação tem de ser uma obrigação sem obrigatoriedade, quem de facto tem o poder de escolha e decisão são os individuos e as familias. No meu ponto de vista, o Estado dá os meios para eu decidir o melhor, dentro do que considero melhor. O que me faz confusão é que depois do 25 de Abril houve quem politicamente quisesse meter o dedo na Educação. E meteu. Acho que no campo da educaçao vivemos as consequencias do PREC e depois tudo o mais que não foi bom. Se não vejamos, os alunos não sabem Português, não percebem de Matemática e desconhecem quase na totalidade a História de Portugal e Filosfia agora já nem é obrigatória, segundo ouvi dizer. Alunos que passam de ano sem saber o que lhes é exigido. Uma esola que não aposta em ensinar os alunos a pensar, a discutir e a reflectir.
    Estes são os factos que me revoltam e que fazem da nossa democracia o que é. Mas não é por ser o que é, que o caminho tem de ser o do voto exclusivo ou de classes esclarecidas. Não, o caminho é outro mais longo e mais dificil. Mudar e educação, os seus processos, a sua forma, os seus métodos.
    Aqui entra a responsabilidade da classe política. Será que esta classe política está verdadeiramente interessada em ter um povo devidamente culto, pensador, mais livre, mas também mais incontrolável e menos provisivel? A escolha está entre estas duas opções. A "carneirada" não nasce por acaso. O desinteresse é produto de alguma coisa. A crise da democracia dos partidos, que se materializou depois das eleições em Lisboa, não surge por obra e graça do Espirito Santo.
    Portanto, para mim democracia é liberdade e responsabilidade, que se obtêm pela educação. Esta é a base de uma boa democracia.
    E, por favor, não julge que vou a favor de votos exclusivos ou de votos de classes esclarecidas. Vivo em democracia. Não vivo fantasmas do passado nem tenho complexos de qualquer especie.

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  4. Começo por pedir desculpa aos caros Moura e Tiago, por vir colocar este comentário a um assunto (quase) da vossa exclusividade.
    Considero que o cidadão comum, não é tolo, considero que os políticos pós 25 de Abril, talvez por acharem que sim, cometeram o enorme erro de apregoar a democracia que fora conquistada, exemplificando-a com expropriações e com a prisão daqueles que tinham ligações políticas ao antigo regime. Em paralelo, ofereceram aos cidadãos uma constituição que lhes garantia algo que soou a vago, porque não foi explicado. Actualmente e face aos crescentes níveis de abstenção em todas as eleições, continuamos a apostar na incultura do povo, os candidatos em campanha não percebem ou tentam tirar partido desse desconhecimento geral. Portanto em minha opinião, falta informação, informação séria, objectiva e apresentada de forma simples e compreensível. Não se pode simplesmente dizer às pessoas como se de um passe de mágica se tratasse, a partir de hoje podem fazer o que quiserem, podem dizer aquilo que desejarem, pois já ninguem será preso. Não é isso democracia, não são esses os objectivos ou os desígnios da democracia.

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  5. Caro Tiago, é claro que a democracia só tem a ganhar com a educação do povo, é uma questão de qualidade da democracia. A questãoq ue aqui nos trouxe é o "entretanto", o que fazer enquanto essa tal educação não atinge os níveis que desejaríamos? Continuamos a deitar fora os lideres uns atrás dos outros, a achar que mudamos de Governo dia sim dia não? Como disse no seu post, as pessoas "votam apenas sob a vontade de mudar", sem se preocuparem muito em quem votam, desde que mude.Eu acho que não, que as pessoas sabem muito bem o que votam, o que acontece é que muitas vezes as promessas eram mentira, outras não chegaram a ter tempo para o que quer que fosse (27 Ministros de Educação em 30 anos, é obra!!)e depois ficamos à espera de quê? Não tenho uma visão tão negativa da educação como a do Tiago, embora vá sendo mais que tempo para se aumentar a sua qualidade. Todos os países europeus tiveram, ou têm, crises na educação, exactamente porque os valores mudaram, porque as técnicas de ensino antigas já não cativam ninguém, porque o padrão famililar mudou, etc. Mas há que reconhecer que, apesar da instabilidade, se progrediu muito, a todos os níveis, desde o básico ao superior. Hoje, não há crianças analfabetas, hoje discute-se e combate-se o abandono escolar, hoje há desemprego de licenciados... É pouco? è insuficiente, sem dúvida, mas fez-se muito, somos um país pobre, vivemos tempos muito conturbados, não está tudo péssimo, sobretudo se compararmos com o que era há 30 anos ou mesmo há vinte!
    Caro Bartolomeu, falta informação, sem dúvida, e vontade de ser informado também. Já viu como é que passa a informação? É meteórica, mais do que 2 minutos a falar e já ninguém ouve, os debates são a 12!, só há tempo para chavões e cartazes, quem é que quer ouvir debates a sério? É uma pena, concordo.

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  6. Ora aí está cara amiga, escreveu uma palavra-chave. Chavão! Penso que se recorde de como ha escassos anos se processava a informação, através da comunicação. É absolutamente verdade aquilo que refere: a informação é meteórica, mas, além de meteórica, ou até por ser um chavão meteórico, é também vertiginosa, ou seja, causa nausea, antes mesmo de atingir "match 1"(refiro-me à barreira do som), é isso cara Moura, o meteorismo a que se refere ultrapassa longamente a velocidade do som, tanto, que não chega a ser entendida. Perdoem-me a inocência daquilo que vou escrever a seguir, é que se apesar da velocidade, a informação fosse séria (digo, verdadeira), consistente e simples, mesmo os menos aptos, entenderiam o suficiente para reconhecer a utilidade de um voto. Assim, posso até considerar que a forma como a informação é veiculada, induz a uma incompreensão daquilo que se pretende transmitir. Falta-me perceber se essa inducção é propositada, ou se deriva de uma inaptidão para comunicar.

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  7. "Cara amiga", escrevo para esta rubrica, embora não sabendo bem se também deva pedir desculpa ou não por esta infiltração de picardia intrusiva e gratuita na vossa conversa mas aqui vai mais um olhar qualquer...
    O Português é, acima de tudo, com grande pompa e circunstância, o maior dos Tolos.

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  8. Caro Bartlomeu,

    Falta informação de facto e as pessoas são enganadas quer pela informação que lhes passam que não é verdadeira, quer pela pouca informação que lhes vão dando. Mas informar implica dois caminhos, o de quem quer informar e do que quer receber a informação. E o que falta é olear estes dois caminhos.

    Cara Moura,
    De facto muito já se fez em Portugal em matéria de educação, mas, tal como diz, ainda não se fez o suficiente para ficarmos descansados. Nesse sentido, o entretanto de ser parar para pensar, aceitar um compromisso, um um pacto de regime (apesar de não acreditar muito nesta forma). Vamos pensar no estado em que estamos e parar de hipotecar novas as gerações, porque hipotecar os novos é também hipotecar o futuro deles em democracia.
    Não podemos dissociar educação de democracia. E o momento que atravessa a nossa democracia é também consequência do estado da nossa educação.
    Um país que não sabe para onde muda e por que muda de lideres, que teve 30 ministros da educação, não pode ser uma democracia saudável.
    O povo está cansado, no meu ponto de vista de duas coisas:
    1. percebeu que foi enganado pelos políticos;
    2. está cansado desta geração de políticos. Que são os mesmo desde o 25 de Abril.
    Se pensarmos bem em 30 anos de democracia, a nossa classe política abriu pouco espaço è entrada de novas gerações. E, por outro lado, tendo sido a classe política que construiu o regime democrático, tem sabido viver dele para proveito próprio.
    A qualidade de um país é a qualidade da sua democracia e também a qualidade dos seus políticos.

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