sexta-feira, 27 de julho de 2007

Alô férias! Good bye

As férias são uma pausa, não uma fuga. Para serem bem gozadas, não podem trazer novas correrias, mais aturdimento, sobretudo têm que permitir um reaproximar da vida comum de maneira a que o regresso não seja contrariado, mal humorado, a olhar com azedume mais um ano preso àquelas rotinas.

As férias devem servir para fazer as pazes com o nosso dia-a-dia. Sacudido o cansaço, livres das tarefas, com tempo para flanar por onde queremos e quando nos apetece, é natural que se comece a pensar que vai saber bem reencontrar o nosso canto, ver as caras de todos os dias, bater à porta do colega do lado "então bom dia! Que lindo sol está hoje, da sua janela vê-se o rio!"

As férias não são uma ruptura, um artifício intercalar e enganoso numa rotina. São uma continuidade, uma forma de ganhar força e ânimo para viver com alegria os compromissos, os horários, a atenção para os outros. Mas também o gosto de fazer um trabalho bem feito, de saber que precisam de nós, que com o nosso esforço e talento podemos fazer a diferença. Ali, no nosso trabalho, na nossa vida de todos os dias, no centro do nosso tempo.

Irritam-me um bocado as pessoas que querem encafuar em poucas semanas o que não puderam fazer num ano inteiro. As férias são para saborear, para apreciar devagarinho, dia a dia, sem pressas, até termos saudades de voltar ao ritmo do costume. Nas férias, temos que sentir passar os minutos, o tempo tem outra dimensão, cada dia tem a sua densidade e divide-se em manhã, tarde e noite. Assim mesmo, devagarinho.

Já tenho saudades do meu trabalho, dos meus amigos, da minha actividade toda, tenho tido umas óptimas férias e já consigo apreciar de novo o muito de que disponho ao longo de todo o ano.

2 comentários:

  1. Interessantíssima análise cara Moura, diria que o seu texto transporta uma mensagem direccionada à forma de bem usufruir o período de férias :)
    A minha atenção ficou presa à imagem contida nas suas frases: As férias devem servir para fazer as pazes com o nosso dia-a-dia. Sacudido o cansaço, livres das tarefas, com tempo para flanar por onde queremos e quando nos apetece.
    Flanar, é sobretudo esta palavra que tem o poder de nos transportar para um mundo de magia. Quantos de nós, não pensaram já como seria bom poder voar? Abrir os braços e deixar de estar sujeito à força da gravidade, podendo flanar por onde o seu espírito e desejo o quisessem levar? É isso, o seu texto diz-nos precisamente que é possível flanar, se formos capazes de fazer as pazes com o dia-a-dia, cortando relações com o azedume e o mau-humor. Afinal, aquilo que no Budismo se designa por estado Zen.
    Continuação de férias flanantes, cara Moura.

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  2. É uma alegria ser tão bem compreendida, caro Bartolomeu. Boas férias para si também, se possível a flanar...

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