sábado, 3 de julho de 2021

Toca-se porque se crê


[Secção pensamentos soltos sobre fé e corpo, na Festa de S.Tomé] Quanto mais leio sobre corpo, mais fico com a certeza de ser, como dizia Tertuliano, passagem para a salvação. O toque de pele com a realidade abre novo conhecimento. Desde cedo que o abraço, o afago, o afecto, dão sentido de ser e confiança à pessoa que recebe. Por outras palavras, dão fé.


A fé não é uma idealização da realidade. É a concretização da confiança sem ingenuidades em nós mesmos, nos outros e no transcendente, em Deus. Tomé, que celebramos hoje, quando lhe disseram que Jesus tinha ressuscitado, disse: “preciso ver e tocar para crer”. Ficou apenas o “ver para crer”. No entanto, o tocar e em particular nas chagas, ou marcas da fragilidade, da vulnerabilidade, também é confirmação de crença. A devoção popular tem muito de corpo. Não é intelectualizada, mas física, nesse palpável que fala de Deus. Há uns anos, enquanto rezava na Igreja de S. Domingos, em Lisboa, assisti a este momento. Apesar do pudor, senti também a força da simplicidade da fé, por isso tirei a foto. O gesto de tocar na imagem foi de grande beleza. Não se trata de tocar para crer, mas porque se crê toca-se em agradecimento ou petição. Não é só cabeça e/ou coração a rezar, mas todo o ser. E falta tanto, é mesmo fundamental, trazer corpo à oração. 


A devoção tem e precisa de corpo. Somos relação com Deus em corpo. Por isso, a força da aparente falta de fé de Tomé mostra-nos que, sim, podemos duvidar, mas, mais que isso, podemo-nos permitir viver a fé de forma encarnada, sendo o toque, o afecto, todo o corpo, desde o respeito por si mesmo e pelo outro, lugares de Deus.


Sem comentários:

Enviar um comentário