[Secção pensamentos soltos] “Deus não faz acepção de pessoas.” São várias as passagens bíblicas que o afirmam e outras tantas que o confirmam. Nós, as pessoas a quem Deus não faz acepção, somos quem distingue, separa, menospreza, ataca, categoriza, rejeita, desnivela, restringe, apresentando várias medidas conforme os nossos interesses mais ou menos conscientes. No fundo, também para ofuscar as vergonhas próprias, as castrações vividas, explorando ao máximo a chamada de atenção à existência. Quando se faz acepção de alguém, há uma subtil ou descarada forma de se colocar no lugar de um deus que se quer reconhecido e adorado e, por isso, capaz de definir quem faz parte ou não do seu legado de pessoas.
O caminho da liberdade é exigente. Chegar a ser como Deus mais exigente é. Implica articular liberdade e responsabilidade, onde o espaço e o tempo do amor ganham maturidade tal que o outro pode ser amado na sua diferença, sem lhe querer impor as minhas categorias. Há gente assassinada moral e plenamente por quem ainda está fechado na sua pequenez de horizontes, seja em questões sociais, religiosas, afectivas ou políticas. E eu não fujo ao juízo da minha pequenez. Cada pessoa é chamada a fazer o seu exame de consciência para perceber onde está o eco da acepção de pessoas na sua vida. Não adiantam auto-enganos, de pedestais de moral. Apenas aquele lugar onde com humildade se diz: “Senhor, tem piedade de mim que sou pecador”. Por outras palavras, tem piedade de mim que estou em caminho de liberdade, de querer aproximar-me mais de Ti, nesse profundo amor que apenas propõe precisamente amar.
Quem se quer endeusar, inclusive no campo religioso, vai segregar. Quem quer fazer caminho de divinização, reconhece-se pequeno e, por isso, vai com o seu tempo sendo capaz de ver no outro, independentemente de gostar ou não, uma irmã, um irmão. O caminho da liberdade é exigente, mais o é ser como Deus que não faz acepção de pessoas.
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