Fotogramas do filme “A Festa de Babette”
[Secção pensamentos soltos sobre prazeres em corpo] “O prazer de comer bem, como o prazer sexual, vêm de Deus”. Esta afirmação foi destaque noticioso por ter sido dita pela Papa Francisco. O líder máximo da Igreja Católica afirma o que, aparentemente, tem sido contrariamente dito, em catequeses, por padres, por freiras, por leigos mais radicais, na mesma Igreja que lidera. Sim, é certo que a moral, algo importante e fundamental, resvalou em moralismo. Alguém fala de prazer e é logo o “hedonismo no mundo”, como se na fé apenas houvesse lugar para o sofrimento. (Esquecendo que o próprio sofrimento pode ser fonte de prazer, mas não vou entrar por aí.)
Que bom que Francisco afirma a beleza da vida de forma livre e directa. Para quem tem dúvidas, por favor, que leia o Cântico dos Cânticos. Também pode ser Eclesiastes que nos diz que agradável a Deus é o ser humano comer e beber como desfrute dos frutos do trabalho. Já agora, recordar que Jesus era acusado de beber e comer bem. Sim, há organicamente estruturas que nos estimulam o prazer, como forma de saborear a vida. É natural. O que não é natural, a roçar a aberração e, isso sim, pecado, é anular o deleite do amor com castrações psicológicas, com afirmações como o “sexo é sujo, é porco”, “apenas necessário para a procriação” e orgânicas como a excisão feminina.
Se há desequilibrios e desajustes, seja pelo extremo da anulação, seja pela animalidade, que haja caminho de encontro. Agora, que não se use a frustração como meio de castrar a beleza da vida criada por Deus. Sim, o Papa dá um bom exemplo, “A Festa de Babette”. Na dureza do moralismo cristão, uma mulher entrega toda a sua arte culinária, oferecendo uma festa, no fundo, a felicidade por muitos reprimida. E Deus delicia-se com a nossa felicidade.
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