[Secção pensamentos soltos sobre as memórias] A memória desperta com sons, cheiros, imagens, palavras. Quando estive na casa dos meus pais vi novamente esta fotografia. Tinha 18 anos. A precisão vem do cabelo liso (desfrisei como loucura da passagem à maioridade. Podia ser pior, eu sei) e da pequena pêra que me acompanhou ao longo dos 17, enquanto estava no 12.°. Quando foi tirada, já tinha sabido da “não colocação” na faculdade.
O que na altura foi um sentimento de quase fatalidade, passados estes anos percebe-se como tudo se relativiza e torna-se um acontecimento histórico. No entanto, há dores que se arrastam na vida de cada pessoa, mantendo-a nesse tempo dos acontecimentos. Assim, o que poderia já ser passado, ainda é uma actualidade muito viva. No exterior muita coisa muda, no interior também deveria acontecer conversão.
A viagem interior para que a memória seja de agradecimento implica caminho de reconciliação pessoal, atravessando as dores de modo as deixar lá, permitindo todo o ser avançar para o presente. Sai-se de extremos, em saudosismos de “naquele tempo é que era” ou angústias no “quero esquecer tudo à força” para “aprendi com o caminho, então a que sou chamado(a) a fazer hoje?” Quando nos reconciliamos com a nossa história, aceitando e integrando-a, as memórias que surgem de fotografias são oportunidade de agradecimento pelo tanto que temos e somos. Também a pôr ao serviço da reconciliação na humanidade.
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