quinta-feira, 5 de março de 2020

Fragilidade




[Secção pensamentos soltos sobre a fragilidade…também dos padres] Tomar consciência da complexidade do ser humano deveria ser caminho para perceber que o ser humano é complexo. Sim, começo o texto com uma grande redundância. Sinto-a necessária para descrever o que me sai em breve reflexão sobre a fragilidade. Muito conhecimento em tantas áreas científicas à volta do ser humano deveria ajudar à maior compreensão, compaixão, respeito. O que acontece é a exigência ao ser humano de substituir a máquina e tornar-se peça de engrenagem a produzir. Resultado: cansaço físico, humano, social, político e espiritual. É sabido que quando há cansaço o sistema imunológico enfraquece. De algum modo, as defesas sociais, presentes no cuidado, no acompanhar, na compaixão, diminuem drasticamente com o medo, a vergonha, a pressão de ter-se de ser quem não se é. Fica bem dizer-se que se acolhe a fragilidade, mas vivê-la é terrivelmente duro. Já vem dos primórdios da humanidade essa vergonha que leva a cobrir a nudez, o despojamento, a fragilidade, com folhas. Ainda assim, é fundamental a verdade, ou autenticidade, connosco próprios. Vem tudo isto a também a propósito de um artigo que li (mais um) sobre o esgotamento dos padres, ao ponto do suicídio. Um valente murro no estômago. Do que se sabe, todas as situações desde a exigência tremenda de corresponder a expectativas de firmeza, completude, disponibilidade, por um lado, e, por outro, de luta contra a imagem denegrida de tanto mal feito ao longo de tantos anos de história da igreja. Luz e sombra de mãos dadas, onde, no cansaço, ressalta a sombra. Todos no mesmo pacote. Cada um com o seu sentir. A sabedoria de Jesus ao afirmar o grande dogma de que só Deus é absoluto será, para mim, a sanação de muito. Curiosamente, de simples que é, torna-se difícil, já que os pequenos e grandes ídolos vão-se infiltrando no coração e escravizam. Os padres do deserto insistiam muito no silêncio, na distância da realidade para dar-se conta do que divide e impede a simplicidade e o amor. Ao longo dos tempos fomos tendo mais adereços para justificar a existência. No entanto, essa existência, além de não necessitar ser justificada, abre-se à luz desde a verdade vivida de entranhas da outra perspectiva do grande dogma: o amor de Deus por cada um de nós é absoluto. E como conhece profundamente a complexidade do ser humano, desafie tanto a nos amarmos como Ele nos amou. Atravessamos tempos que convidam ao silêncio para passos de cuidado uns pelos outros, nem que seja pela oração ou pensamento, atravessando as sombras com a luz de vida.

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