domingo, 13 de janeiro de 2019

Fundo do Jordão




[Secção pensamentos soltos em dia de Baptismo] O silêncio tem estado muito presente em mim. Talvez por isso, ao ler o Evangelho de hoje, imaginei Jesus, no Baptismo, naqueles breves segundos no fundo do rio. Segundos que podem ser eternos, em tempo que marca a revisão de toda a sua vida: pessoal, social, afectiva, religiosa, política. A Encarnação de Deus é totalmente imersa na vida da humanidade. No silêncio do fundo do Jordão, as águas tornam-se travessia de emoções diante da realidade concreta para o caminho de maior liberdade. Muitas vezes pergunto no meu silêncio: como olharia Jesus estes tempos igualmente agitados? Como sinto de entranhas o Seu convite a olhá-los? O fundo das águas, apesar da luz, também se preenche de escuridão. A sombra do racismo. A sombra da intolerância. A sombra do medo. A sombra da anulação do outro por quem acha que pode converter a sua essência. A sombra do desrespeito pela privacidade. A sombra de muros. A sombra do mau uso da fé e da religião. A sombra do perfeccionismo. A sombra da desumanização. O mergulho na sombra que existe em cada um de nós, exercício dos mais duros e exigentes, faz-nos tomar consciência da sua força. Levar luz à sombra é o que Jesus vai viver ao longo da vida pública, mostrando o caminho de como canalizar essa força para o maior Amor, seja, por exemplo, pela denúncia das injustiças (que não podem ser embelezadas pelo entretenimento), seja a curar, em especial, a ignorância. Ainda há muito caminho por percorrer e fundos a visitar. Depois de ser baptizado, Jesus recolheu-se no silêncio do deserto, como passo de maior liberdade. 

2 comentários:

  1. Elvira22:36

    O silêncio é bem preciso nas nossas vidas..mas...O seu foi demais.ah!ah! Tou a brincar(tmb é preciso)..Que saudades dos seus post..E mais uma vez muito muito bom....Boa semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É isso, também é preciso. :) Obrigado, boa semana!

      Eliminar