domingo, 7 de outubro de 2018

Igualdade na dignidade



Laura El-Tantawy


[Secção pensamentos soltos] Os textos da liturgia deste domingo recordam algo fundamental: a igualdade na dignidade entre homem e mulher. Desde a criação que Deus estabelece essa igualdade, no entanto, ainda há essa desvalorização e, infelizmente, de forma acentuada. A forma como se destrata a mulher é assustadora. Não é endeusar a figura feminina, mas, mostrar como há fragilidade e força que levam ao respeito a partir da complementaridade entre os géneros feminino e masculino. Nem um nem outro é melhor: na sua diferença complementam-se. No entanto, a força física parece ser a única medida de “dignidade”, levando, ainda mais, à desvalorização da figura feminina. É de louvar a decisão da partilha do Prémio Nobel da Paz entre Nadia Murad e Denis Mukwege. Ela com as marcas da violência sexual. Ele como curador dessas marcas em tantas mulheres. A intimidade sexual é um recanto de dádiva e de prazer, nunca devendo ser vivido como uso. Infelizmente, o “macho” que se julga cheio de força (seja física e/ou financeira) acaba por abusar dessa intimidade. A violência sexual, usada como arma de guerra ou de outro modo, é uma manipulação de poder sobre a outra pessoa. Fragilizando-a na intimidade, o abusador anula a vítima a um mero objecto. Alertar para as situações de abuso começa desde logo pela educação, que passa também pelo exemplo de trato humano. Qualquer abuso deve ser denunciado. Não é fácil dar a cara, pois, infelizmente, além da violência sexual, ainda há a violência da desconfiança e do gozo. No entanto, se cada um de nós quer ser caminho de humanização, antes de julgar, deverá acolher. E quem não sente capacidade de acolher, deverá calar-se e informar-se. Esta passagem do livro do Génesis tem uma subtileza: todos nós somos feitos do mesmo barro, por isso, quando alguém sofre um ataque na dignidade, toda a humanidade perde. Mas, quando alguém caminha no respeito, na denúncia de violência e no acolhimento de que sofre, alimenta a esperança de toda humanidade. Que prevaleçam as pessoas de esperança, tal como Nadia Murad e Denis Mukwege.

4 comentários:

  1. Para além de achar que são na realidade 2 Prémios Nobel mais que merecidos, gostei muito do que escreveu a esse respeito e não só.

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  2. Elvira11:29

    Bom dia...Parabéns pelo belo texto..um tema tão delicado quanto atual infelizmente.. E todos devíamos ter coragem para denunciar o que nem sempre é fácil. Mas também felizmente estamos no caminho certo..abraço

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