Teresa Lamas Serra
[Secção outras perspectivas, a partir da minha escuta de quem passou por terras queimadas e não quer que tal caia em esquecimento] “Há pouco voltei a pegar na enxada e cavei a terra ainda escurecida. Indecisa se semear ou plantar. Os pensamentos estavam na filha, genro e netos que voltei a ter em casa. Perderam tudo. O que se pode semear, menina, depois da desgraça? Até aos cães custa ladrar e aos gatos miar, por terem as gargantas sufocadas do seu modo de gritar. Coitaditos. Não saem do pensamento aquelas horas de agonia. 64 mortos. Eu conhecia, menina. Eu conhecia. Há que refazer a vida. Mas a terra ainda está escurecida.” Em lágrimas, “não nos esqueçam, menina. Não nos esqueçam”.
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