William Albert Allard
Ontem, depois da Missa Crismal, houve um jantar oferecido a todos os padres presentes na Diocese de Paris. Estava com outros jesuítas e ao meu lado havia um lugar livre. Minutos depois sentou-se um dos bispos auxiliares de Paris, D. Renaud de Dinechain. Curiosamente uma das suas missões é ser responsável pelos padres com menos de três anos de ordenação. Às tantas, tento em conta ter-lhe dito ser uma das minhas áreas de interesse, perguntou-me que pensava eu sobre a diminuição de fé e a quebra de participação nas Missas nas sociedades contemporâneas. Confesso, engoli em seco. Tomei uns segundos e fui respondendo. Disse mais ou menos isto ao longo da conversa que se seguiu: “Não me parece que haja uma diminuição de fé. Sim, a participação das Missas é certamente menor, mas não a fé. Talvez o entendimento da vivência de fé esteja a modificar-se e até mesmo o relacionamento com Deus. Conheço muitas pessoas que não vão à Missa e até nem são crentes em Deus, mas surpreende-me a fé que acaba por estar escondida na entrega e no serviço humano. Para mim a questão está em ver como é que podemos viver a encarnação na actualidade. Sim, o mundo está diferente, já não há cristandade, por isso, mais do que haver a arrogância de acharmos que somos “possuidores” de Deus, o que penso que temos de fazer enquanto Igreja é voltar ao básico: à relação humana. Mais do que ver logo pecado ou mal no outro, devemos voltar ao encontro, ao estar no quotidiano, à escuta das vidas tal qual são. Sim, queremos que as pessoas acreditem em Jesus, mas não pode ser numa atitude de superioridade, mas de relação. Na linha do que o Papa Francisco tem afirmado, podemos ter muita teologia, mas se fica fechada na intelectualidade sem acolhimento, as pessoas, tal como tem acontecido, vão-se desligado da Igreja. As pessoas na generalidade podem não perceber de teologia, mas sabem bem o que é sentir-se acolhidas. E se há necessidade de fazer alguma advertência, há que fazê-lo com respeito e cuidado. Aí dá-se a diferença. Bem, amanhã celebraremos aquele momento em que Jesus lavou os pés de todos, incluindo Judas, que o entregou. Parece-me que nestes tempos, não se pode negar, de crise humana e de valores, mais do que termos uma atitude de ‘defesa/ataque’, deveríamos ser exemplo de Deus que, não tendo medo das mudanças, renova todas as coisas.”
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