terça-feira, 7 de abril de 2015

Deus: saída de si para o outro




Masami Murooka

[Secção “coisas da e para a tese”] Acabo de ler isto: “Ao encarnar, o Verbo de Deus assume o peso da carne, como se falássemos do peso da história, do peso de uma verdade sensível. ‘É pelo corpo que nos tornamos história’ (Paul Auster), é pelo corpo que o Verbo de Deus sai até nós. Deus é sempre saída de si, pro-nobis [por nós], exodos [saída], deixando, se é que se pode dizer, o seu próprio caminho (ex-odos) para fazer o nosso.” Adolphe Gesché, no ensaio “L’invention chrétienne du corps”, na obra alargada Le corps chemin de Dieu


Pode-se pensar na possível interpretação desta passagem como a imposição divina ao nosso caminho, mas não… é a vontade, o desejo, de Deus em entrar na nossa história, seja ela qual for, com mais alegrias ou tristezas, vergonhas ou pecados, sucessos ou fracassos. Ele entrou na História da humanidade fazendo-se carne. A ressurreição será deixarmo-nos habitar pela sua grandeza, que nos impele à liberdade. Mas nada disto é imposto, é sempre proposto. Sabendo que corre o risco da negação ou da deturpação da sua mensagem e realidade, ainda assim Deus não se cansa de nos buscar. E é paciente, respeitando o tempo e espaço de cada um. Já se vê que Deus sai de si, pensando no outro. Daí que quem acredita num deus que pede para matar (em actos ou em palavras) em nome dele não conhece, nem vive, o Deus da vida. Por isso, quem possa criticar rapidamente a religião ou quem queira impôr determinadas visões religiosas, é de dizer que o verdadeiro e profundo sentido religioso nada tem que ver com a morte ou com a condenação de quem tem uma crença diferente, mas com o desejo da vida do outro, com que o outro faça caminho de liberdade e de vida, para além do que eu possa pensar ou sentir. E isso vive-se, sobretudo, no quotidiano, nesse corpo que somos.

Sem comentários:

Enviar um comentário