quinta-feira, 9 de abril de 2015

A beleza da vulnerabilidade



Adam Hanif


Desde que há uns tempos comecei a dedicar o olhar mais atento para a questão do corpo, da corporeidade, do que mais tem ressaltado é, o que vou chamar, a beleza da vulnerabilidade. O corpo é vulnerável, ou seja, nós somos vulneráveis: ao tempo, aos sentimentos, à comida, às histórias, às rupturas, aos encontros. Os momentos de quebra são vistos como fraqueza e não como oportunidade, ou então, quando alguém nasce ou sai fora de uma aparente normalidade desejada, o tal “ser perfeitinho”, a tendência é instalar-se o drama, não vendo a possibilidade de deixar-se humanizar pela diferença. De fundo, há o desejo de ser “perfeitinho” na dimensão física, profissional, intelectual, académica, até mesmo espiritual. E depois lá vem o corpo real, ou seja, nós, cada qual com a sua individualidade, com riquezas e limitações. A vulnerabilidade acaba por pedir a inspiração vinda do outro, podendo ser: o aconchego dos pais e mães que aceitam os filhos tal como são, ajudando-os a fazer caminho, sobretudo se saem da aparente normalidade física, afectiva ou intelectual; o respeito de se ver alguém com todas as suas potencialidades sem ser um “coitadinho”; os líderes que, não estando fechados na cegueira dos objectivos, vêem no seu colaborador alguém para além de mais uma máquina do sistema. De facto, não abunda a educação para saber viver a beleza da vulnerabilidade, acabando por haver uma imensa falta de amor próprio, exigindo-se o que não se tem, a si e aos outros. Nós, cristãos, repetimos tantas vezes “à boca cheia” que acreditamos no Deus que se tornou vulnerável… pois, curiosamente foi também aí que deu plenitude à humanidade, mostrando-nos que somos chamados a ser, não super-heróis, mas humanos. Ao vivermos assim tocaremos o divino nesse corpo, também vulnerável, que somos.

2 comentários:

  1. Anónimo15:06

    Que lindo...parabéns :)

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  2. Gostei de ler...
    E essa humanidade provém de caminhos ou de valores que se chamam: Sabedoria, tolerância, humanidade, sensibilidade e respeito...
    Boa noite.

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