domingo, 15 de março de 2015

Confissão. Misericórdia.




William Kerdoncuff


Depois de ter recebido a absolvição de Deus, abraçou-me emocionado. “Padre, desculpe, mas pela primeira vez apercebi-me da importância de confessar-me a um padre.” Sorri e perguntei, meio tímidamente, se poderia saber porquê. “Sabe, entrei a dizer as coisas do costume e apercebi-me que o senhor não estava a acreditar em mim.” “Ai, desculpe se fui mal-educado, mas não era não acreditar. Vou-lhe ser sincero, senti mesmo ‘as coisas do costume, quase porque sim, porque se aproxima a Páscoa e há que cumprir’. Fico sempre com pena que não se aproveite bem a oportunidade da graça de Deus que se vive neste sacramento. Não que as coisas do costume não tenham a sua importância, mas corre-se o risco de ficar pela rama.” “Pois, é isso. Com o seu olhar e depois quando me pediu se podia perguntar-me algo, apercebi-me que queria ajudar-me no encontro com Deus. Nunca ninguém me tinha perguntado em confissão se sou feliz na minha vida e se faço os possíveis para que os outros sejam felizes. Não, não peça desculpa. A forma como me perguntou, nem sei, foi como se a vida me passasse à frente e dei-me conta do que acabei por dizer depois. O alívio que…” [Emocionou-se novamente. Ficámos por ali e despedimo-nos com um grande sorriso] Desde que sou padre tem sido sobretudo neste sacramento que vivo momentos muitos bonitos. Sinto-me pequeno diante do poder que me é confiado para, em nome de Deus, libertar ou pelo menos começar a libertar dores, angústias e pesos de decisões que levaram a acções que, sim, também mataram e roubaram muito de vida para além da biológica. O Papa Francisco anunciou o jubileu da misericórdia. Se a misericórdia é vivida à séria dá-se um grande passo no sentido da liberdade e do amor de Deus  em cada um de nós.

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