quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

2 anos da renúncia do Papa Bento XVI



AP Photo/Osservatore Romano


Faz dois anos que o Papa Bento XVI anunciou a sua renúncia ao Papado, o que aconteceu pela primeira vez em plena liberdade em toda a História da Igreja. Em mais de 2000 anos de história foi bastante marcante. Muitas interpretações podem ser feitas, mas para mim é de destacar o sentido teológico desta decisão: mostra Deus como absolutamente central, seguindo-se o bem da Igreja, sendo o Papa o sumo servidor, para além das doutrinas que se formem à volta do papado. Aliás, uma das riquezas da história da Igreja é precisamente mostrar como o modo de interpretação das doutrinas na Igreja foi mudando conforme o contexto das diferentes épocas: de grosso modo, da perseguição à cristandade, passando pelos cismas, reforma/contra-reforma, iluminismo e contemporaneidade. Mantêm-se os dogmas, com o seu profundo sentido estrutural, mas a doutrina foi sendo rezada, pensada e ajustada ao longo dos muitos Sínodos e Concílios. Quando se fala de doutrina há que ter em conta que tem como base a salvação de cada ser humano por Deus. É a salvação, repito, e não a condenação. Deus não pode condenar o que criou e  continua a criar por amor, designado por “bom”, por “belo”. É certo que na liberdade humana encontra-se a possibilidade de rejeitar essa salvação, mas, será sempre o ser humano e não Deus. Deus a condenar o ser humano seria contradizer-se a Si mesmo. Toda a reflexão teológica também deve ter por base o ajuste humano. A tradição não é para ficar reduzida, ou fechada, num Concílio específico, mas fazer uma caminhada, sobretudo a partir do último, o Vaticano II, onde os conhecimentos humanos também dão a sua contribuição ao pensamento teológico. Se assim não for, corre-se o perigo de heresia, primeiramente contra o dogma da encarnação. É verdade que pode ser mais seguro manter-se em estruturas fixas, rígidas, mas não podemos esquecer que Cristo, em quem acreditamos, não tem onde reclinar a cabeça, relacionando-se com o Espírito que sopra onde quer, no anúncio do Pai a que todos somos convidados a chamar de Abba. Não me parece que Deus deseje o caos e convide à anarquia, pois, precisamente pela encarnação, sabe que faz parte do ser humano uma estrutura hierárquica. A novidade reside em mostrar que essa estrutura deve alicerçar-se no serviço, dentro da misericórdia e perdão, e não no poder. Afinal, não é a escravidão, mas a liberdade e a salvação do ser humano que a Deus interessa. Sim, em nome do serviço, nesse amar a Deus acima de todas coisas, Bento XVI deu o passo que ficará na história do dinamismo da vida da Igreja. No seu caminhar, depois deste passo, segue em oração, no total acolhimento do actual Sumo Servidor.

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