Elliott Erwitt
[Secção desabafos] Uma das coisas que me ajuda no estudo sobre o Corpo é percebê-lo, no fundo perceber-me, como um todo. Isto vai crescendo na medida em que descubro algo novo [há sempre algo novo a descobrir sobre o Corpo]. Dá-me tristeza quando, ao ler ou escutar sobre este tema, noto que é visto imediatamente como pecaminoso, em vista ao “santo propósito” de encontro com a pureza, ou ao ser-se imaculado diante de Deus. Temas ligados com a sexualidade, em específico com a genitalidade, deveriam ser tratados como um todo e não sob, quase em exclusivo, a capa do bem e do mal. Quando isso acontece, há o sério perigo de voltar a algo que Jesus cortou de forma radical: a distinção entre puros e impuros. A obsessão nesta via do bem e do mal em relação ao corpo acaba por ser muitas vezes reveladora de frustração, de medo, de vergonha, até mesmo de nojo do corpo… ou seja, de si próprio [admitir isto é outra história]. Durante muito tempo, os puros eram os especiais, aqueles que tinham primazia na relação com Deus, estando a um nível superior de intelecto, de espiritualidade, de moral, enquanto os impuros, esses seres carnais, muitos eram escravos dos “puros”, estavam, já se vê, num nível inferior. Isso foi uma heresia, conhecida por gnosticismo, bastante combatida nos primeiros tempos do Cristianismo. Pergunto-me: até que ponto nalgumas obsessões não se vive actualmente um neo-gnosticismo? Recordo que a parábola do juízo final dá atenção ao corpo, sim, mas em nada sobre questões sexuais, apenas na importância que se deu ao outro: no alimentar, no tirar a sede, no vestir (não por razões pudicas, mas de dignidade e protecção), no visitar, no estar… [Cf. Mt 25, 31-46]. Enfim, desabafos…
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