terça-feira, 20 de novembro de 2012

Relação: outro modo de expressar




Foto: CND

(Versión en español en los comentarios)



Os momentos de crise, ou de viragem, ou de questionamentos, ou de aberturas a novas oportunidades mais ou menos escondidas, estão aí, presentes e destacados na realidade das ruas, nas casas, nas vidas, nas relações de cada pessoa. Normalmente são frias, quase rígidas, onde o confronto é desagradável. A vitalidade pede acção: constatar e humildemente reconhecer que, nestes momentos, é impossível avançar só, como se dentro houvesse o fechamento a toda a ajuda possível. 


Tudo isto pode ser apresentado de forma muito racional: estatísticas, planos de reformas, alterações em medidas que mexem cada ser humano ou cada cidadão na sua história pessoal e social. No entanto, já basta a crueza da tal crise. A arte abre outras portas de revelação de sentimentos. Nada de novo. Mas tem de ser repetido, pois há mais a ser dito para além de números e possíveis certezas. Já foi na quinta-feira passada, mas de vez em quando recordo alguns momentos das peças apresentadas pela Compañía Nacional de Danza - Espanha: Unsound, Babylon, Demodé.



Unsound transportou-me para essas sensações de inquietude, de movimentos bruscos de quem busca algo ou alguém, ou a si mesmo. Os encontros e desencontros gritavam-me rostos com histórias marcadas pela vida, em decisões a tomar diante de tanta mudança. Também nas relações, onde os movimentos frenéticos eram exemplos disso mesmo. Repulsão ou desejo, posse ou simplesmente o suave toque na descoberta de quem se é ante o outro. Gritos dados pelos corpos, acompanhados por “vozes” de um fundo de pulmão, ou de sangue... ou de imagens que subtilmente mudam conforme o andamento. O ser humano é mais, muito mais que uma simples existência ao acaso. O braço que abraça, ou a perna que faz correr em busca do tudo ou do nada, a expressão de rosto que diz: “estou aqui”. É desconfortável a sensação de que se precisa ser amado, querido ou desejado. Essa necessidade que faz sentido quando se percebe que sem a relação não se pode viver.

Babylon, o nome perfeito para uma coreografia que, a meu ver, explora o lado transcendental da humanidade. Com tons bauschianos, abre a outra realidade da crise: a existência espiritual, que se foi perdendo em nome de um progresso que renega as raízes da História sagrada. Aquele corredor inicial de gente que vive em correria, atravessando os caminhos ritmados da rotina diária, apagada em fatos negros. Mas a suave cor da leveza não se apaga. Mesmo de ar triste, passa, marca a presença. E aos poucos dá-se a transformação, o negro vai caindo, dando lugar ao despojar do medo ou vergonha em viver a abertura a algo mais. Em conjunto, como numa comunidade que vive, se separa, parte e volta-se a encontrar, repetindo gestos, acções, discordando ou, simplesmente, estando. Ainda que apagado em rituais ou obrigações sem sentido, como uma burka que anula o rosto, o Infinito abre outras portas ou janelas que permitem vistas profundas. As burkas caem, tal como o negro e no final há o abraço... o silencioso abraço. 

Com Demodé defronto-me comigo. Quem sou? A pergunta que cruza todas as peças acentua-se com a chegada das modas. Sou cultura, sou meio, sou imagem, sou relação, mais ou menos distorcidas por tanta informação que me chega: revistas, televisão, sugestões intermináveis de como se deve ser se se quer pertencer a este grupo ou tempo. A busca da identidade a partir de encontros que dão voltas entre um “eu-tu”, que se funde, se desgarra, refundindo-se novamente. Sempre acompanhados pela música que intensifica a sensação de pertença a este presente. Posso-me apagar ou, então, desenhar um ritual que abre perspectivas: à liberdade, à plenitude em ser para além de uma imagem ou de uma imposição social. 

Definitivamente: em nome da crise não anulem a arte. Não nos tirem mais um pedaço da humanidade. 


3 comentários:

  1. Relación: u otro modo de expresar

    Los momentos de crisis, o de giro, o cuestionamentos, o de aperturas a nuevas oportunidades más o menos ocultas, están ahí, presentes y destacadas en la realidad de las calles, en los hogares, en las vidas, en las relaciones de cada persona. Por lo general son frías, casi rígidas, donde la confrontación se convierte en algo desagradable. La vitalidad pide acción: constatar y humildemente reconocer que, en estos momentos, es imposible avanzar sólo, como se dentro hubiera en el cierre a toda la ayuda posible.

    Todo esto puede ser presentado de una forma muy racional: estadísticas, planes de reforma, cambios en medidas que tocan todo ser humano y todos los ciudadanos en su historia personal y social. Sin embargo, ya basta la crudeza de tal crisis. El arte abre otras puertas que revelan sentimientos. Nada de nuevo. Pero tiene que repetirse, porque hay más que decir más allá de los números y las certezas posibles. Ya ha sido el jueves pasado, pero de vez en cuando recuerdo algunos momentos de las buenas y fuertes piezas presentadas por la Compañía Nacional de Danza: Unsound, Babylon, Demodé.

    Unsound me transportó a esas sensaciones de inquietud, de bruscos movimientos de los que buscan algo o alguien, o a sí mismo. Los encuentros y desencuentros me gritaban rostros con historias marcadas por la vida, en decisiones a hacer frente a tantos cambios. También en las relaciones, en que los movimientos frenéticos eran ejemplos de eso mismo. Repulsión o el deseo, la posesión o simplemente el toque suave en el descubrimiento de quién es ante el otro. Gritos dados por los cuerpos, acompañados "voces" de un fondo de pulmón, o sangre ... o imágenes que cambian sutilmente conforme el andamiento. El ser humano es más, mucho más que una mera existencia por casualidad. El brazo que abraza, o la pierna que corre en búsqueda del todo o del nada, la expresión de su rostro que dice "yo estoy aquí". Es incómodo sentir que necesita ser amado, querido o deseado. Esta necesidad tiene sentido cuando uno se da cuenta de que sin la relación no se puede vivir.

    Babylon, el nombre perfecto para una coreografía que, en mi opinión, explora el lado trascendente de la humanidad. De tono bauschiano, abre a otra realidad de la crisis: una existencia espiritual, que se perdió en nombre del progreso que niega las raíces de la Historia sagrada. Ese pasillo inicial de gente que vive en correría, cruzando los caminos rítmicos de la rutina diaria, apagada en trajes negros. Pero el suave color de la ligereza no se desvanece. Incluso de aire triste, pasa, marca su presencia. Y poco a poco se da la transformación, el negro va cayendo, dando lugar al despoje del miedo o vergüenza en la apertura de vivir algo más. Juntos como comunidad que vive, se separa, parte y vuelve a encontrarse, repitiendo gestos, acciones, discordando o, simplemente, estando. Aunque apagado en rituales u obligaciones sin sentido, como una burka que anula el rostro, el Infinito abre otras puertas o ventanas que permiten vistas de profundidad. Las burkas caen, como el negro y al final está el abrazo ... el silencioso abrazo.

    Con Demodé doy de frente conmigo. ¿Quién soy yo? La pregunta que atraviesa cada pieza se acentúa con la llegada de las modas. Yo soy cultura, soy medio, imagen, soy relación más o menos distorsionadas por tanta información que me llega: revistas, televisión, sugerencias interminables de cómo ser si se quiere pertenecer a este grupo o tiempo. La búsqueda de la identidad a partir de encuentros que giran entre un "yo-tú", que se funde, se desgarra, refundiéndose de nuevo. Siempre acompañados por la música que realza el sentimiento de pertenencia a este presente. Puedo borrarme o bien dibujar un ritual que abre perspectivas: la libertad, el cumplimiento en ser más allá de una imagen o de una imposición social.

    En definitivo: en nombre de la crisis no anulen el arte. No nos quiten un trozo más de la humanidad.

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  2. Os artistas são 'guardiães da identidade'!
    Não somos nós que os devemos proteger, são eles que nos protegem do não-sentido, do absurdo, da vida mecânica e da sociedade-linha-de-montagem!
    Já agora, vale a pena pensar nisto! ;)

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  3. Oh João, se vale, se vale... ;)
    Grazie!! ;)

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