"A liberdade é um dos dons mais preciosos que o céu deu aos homens. Nada a iguala, nem os tesouros que a terra encerra no seu seio, nem os que o mar guarda nos seus abismos. Pela liberdade, tanto quanto pela honra, pode e deve aventurar-se a nossa vida".
Cervantes, in Dom Quixote
Fala-se de evolução, crescimento social, como desejos de um país ao nível da Europa, que se quer livre e promotor da liberdade. Muitas vezes pergunto-me: o que é a liberdade?
Liberdade é “fazer-se o que se quer”? Não me parece, pois inevitavelmente vamos colidir com outras “liberdades”. Então, será “aquilo que acaba quando começa a de outra pessoa”? Também considero uma resposta não muito completa... Pois, ficamos como que em “guetos” relacionais, onde se vive liberdades em zonas de fronteira.
Talvez seja dito de forma poética, mas ainda assim pode ser que a liberdade aconteça quando, em diálogo e reflexão, duas pessoas mesmo podendo estar em caminhos distantes fazem-no lado a lado. Promovendo, assim, não só o crescimento pessoal, mas de todos os que as rodeiam.
Com a situação das Escolas com contrato de associação reparo num Estado que caminha sozinho, segundo os seus interesses, tomando decisões que anulam a Liberdade da pessoa (em vários níveis). E, ironicamente, em nome da Liberdade e da Justiça. Ficarão livres de encargos os Educadores (docentes e não-docentes) despedidos? Será justo ter de ir obrigatoriamente para esta ou aquela Escola, quando há a possibilidade de escolha por uma que oferece condições pedagógicas que, de facto, apontam para a liberdade de pensamento, de religião, de educação, cultura e, inclusive, liberdade de ideologia?
É verdade que muitas das Escolas com contrato de associação são de cariz religioso (e muito provavelmente é isso que incomoda o nosso Estado “livre e libertador”). No entanto, como parece ser do desconhecimento de muitas pessoas, em nenhuma há obrigatoriedade de crença nesta ou naquela Religião. Ao contrário do que o Estado (repito: dito promotor da Liberdade) parece fazer, que é impor uma ideologia, um modo viver a realidade segundo a sua visão, segundo o seu caminho.
Dando alguns exemplos: começa-se por se reduzir os tempos lectivos de Filosofia, surge uma imposição de formação ao nível da Educação para a Sexualidade sem grande coordenação, descredibiliza-se os professores, em nome da crise reformula-se radicalmente os contratos celebrados no pós 25 de Abril (data curiosa para a Liberdade em Portugal) com Escolas que permitem um outro tipo de ensino, para além do puramente estatal, a alunos de todas as classes sociais e, para culminar, segundo o senhor secretário de Estado, em nome da Ministra da Educação: “ou assinas, ou não tens dinheiro, logo fechas mais depressa as portas”.
Estranho século XXI este. Tão evoluído ao nível tecnológico, mas em termos de humanidade...
...pois, viva a Liberdade!
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