Sento-me. Quando entrei já a música anunciava ritmo acelerado, ao toque cardíaco de pulso pousado no braço da cadeira. Os outros entram e observo. Observo a entrada e a montagem da cena...
Já está! Acontece, enquanto trocas de palavras de quem entra na sala e pede licença para se sentar no lugar do meio...
Acontece! Algo Acontece!
Linóleo, fita, música a pulsar, movimento de montagem, maca que se torna mesa...
E continuam a entrar como se nada estivesse a acontecer. Há quem repare, mas o registo é de que não é nada com eles, comigo... Observo!
Acontece, já está o desenrolar de algo que passa ao lado. O mundo passa ao lado e continuo de conversa, como se ainda não tivesse começado... Sim, já começou: o dia, a vida, os sonhos, os desejos, a guerra, a fome, a angústia, a esperança, a (des)Humanização!
Diante da notícia do coração. Personagem principal no desenrolar da História que apaga um enquanto ilumina outro, destacando corpos novos, corações mudados.
Mas não há mudança, as pessoas não mudam... Será? Quando minunciosamente dou conta dos movimentos que me informa sobre a troca de orgão tão nobre... Não haverá mudança? Despem-se... Já não são o fluxo e o refluxo, o corpo de um e de outro, o coração meu que agora é teu mas não deixa de me pertencer pois a existência não está fechada numa caixa com válvulas que bombeia a alma por todo o meu ser que também és tu... que recebes(-me). E vives!
A imagem de fundo de beleza de corpos sem adornos, contrapondo-se aos batimentos de quem exige a mudança!
"Quero que mudes!"
Atrasos como pretexto para obrigar a renovações de uma relação que há muito grita. Quem anúncia passa a estar no centro, expondo a violência dos corpos, de exigência da mudança... O teu coração é outro, mas tu és o mesmo? Como é possível? Tens de mudar! Obrigo-te... No jogo da humanidade e animalidade. Seremos, não, como cães?
[A suavidade dos deuses, enquanto observam de longe aquele desenrolar de histórias entre seres que (in)conscientemente procuram entender-se, contrapõe o gesto.]
Cada um caracteriza o outro! Em formas, sons, luzes diferentes. Somos diferentes, mesmo que possamos receber corações de outros que entram na nossa vida, dando-nos vida, ou tirando-a. Corações que são anatomicamente iguais! Porquê tanta falta de respeito se somos iguais na diferença?... Basta pensar, recordar, a(s) viagem(ens) que marcam a vida. Aquela(s) cujas rotas foram traçadas, assinaladas com a fotografia presente na memória. A viagem que mudou, sim mudou a minha, a tua, a nossa vida enquanto seres que se deixam (des)conhecer.
Perco o pudor e assim registo cada milímetro de pele que te faz diferente, na mudança que marco com o avançar da idade. O pensamento alia-se a este tornar velho do corpo, amadurecido. E o interior junta-se ao exterior, afinal não é mecânico, não tem instruções, a vida não está traçada ao pormenor, daí que os atrasos podem fazer mudanças.
Registo a viagem, registo a memória, registo(-me)(-te)...
E quando chego ao destino, o corpo apaga-se...
... fica a voz do recordar!
Obrigado Paulo, e mais uma vez... PARABÉNS
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