domingo, 4 de janeiro de 2009

E agora o Nepal...


Tenho escrito menos do que imaginei e do que gostaria. Apesar de ir tomando notas no meu caderno, que poderão servir para posteriormente escrever uma especie de memoria desta viagem, tenho notado em mim uma total ausencia de vontade para a escrita... Este é o 17 dia de viagem e estou desde ontem no Nepal. Ficaram para trás o Rajastão, Agra (e o "postal" do Taj Mahal), e Varanasi. Sou obrigado a admitir que a minha terceira viagem pela Índia tem muito menos de fascinante do que imaginei. Mas esse é talvez o perigo de se preparar demasiado as viagens. Um ano de leituras, de filmes, de conversas, de sonhos, criou cenarios que nao existem. A Índia não é um país de sonho. A Índia não é so espiritualidade. Existe bem mais do que isso e, estranhamente, das outras duas vezes isso escapou-me. Desatenção ou terei visto apenas aquilo que quis ver? Não sei. Sei apenas que este intervalo no Nepal está a revelar-se o melhor da viagem ate ao momento. Desde logo pela tranquilidade. E pela simplicidade. E pela amabilidade e hospitalidade dos nepaleses. E por não me pedirem dinheiro a cada passo que dou. E pela limpeza, coisa completamente ausente na India.

Daqui sigo para Goa. Das vezes anteriores em que ali estive senti-me em casa. Desta vez vou com necessidade de me sentir em casa. Será a recta final da viagem. E depois o regresso a Lisboa, a minha cidade-luz, a minha cidade-oxigenio, o meu porto de abrigo. Que saudades da minha casa, dos meus amigos, da minha família.
E hoje estou assim, neste limbo entre o cinzento e o azul, neste corpo de saudade e ausencia, neste intervalo entre a dor e o riso, neste conflito entre o sentir-me um viajante e um desterrado, nesta distancia entre o desconhecido e a descoberta. E depois há o pensar que devo afastar de mim os pensamentos menos felizes para viver em pleno esta experiencia de viagem. Mas há tambem a certeza de que estes periodos de longo afastamento voluntário so fazem sentido porque volto para os bracos (e abraços) dos que diariamente viajam comigo nos olhos e no coração.


(E depois existe essa breve vertigem da noite de fim de ano quando, aqui tão longe (meu Deus, aqui tão longe), encontrei e amei outro olhar, de cor diferente, de lingua diferente, de calor e toque diferentes mas de entrega tão igual. E essa presença persiste em me acompanhar agora, com uma força e uma intensidade que não podem existir nem fazem sentido. E conto os dias para a rever, nem que seja por uma ultima vez, desta vez enquanto nao existem outras vezes, do outro lado do Atlantico onde vive. E assim, separados por tantos oceanos diferentes, descubro que apenas sei amar o impossivel e que não existe para mim a paz de um amor tranquilo. )

3 comentários:

  1. E ainda há hippies em Katmandu? Ou talvez hoje em dia mais neo-hippies.
    Bela prosa, como habitualmente.

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  2. Anónimo11:32

    o amor acontece quando menos se espera... é uma liberdade que só a cada um pertence e que nunca ninguem poderá roubar!
    Ama cm sn houvesse amanhã...

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  3. Sim, ainda há Hippies por aí? É incrível como ficou o imaginário de uma geração que essa era a terra do tudo-pode-acontecer, da liberdade de romper convenções e de desiludir quem tudo esperava de nós.
    QUanto ao resto, meu amigo, Carpe Diem, lembre-se disso, e nada de conclusões precipitadas...

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