quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Vejam lá a cor da Rice!


Devo dizer que fiquei contente com a vitória de Obama, McCain não merecia arrastar o peso de ser “o outro”, mas não sei como é que alguns sectores da vida nacional e europeia vão passar a viver sem o seu anti americanismo primário. Aquele povo passou de besta a bestial, agora que elegeu o candidato da “esquerda” que “já tinha ganho na Europa” e todos se apressam a cantar hinos à democracia americana. Sempre gostaria de ver o que aconteceria se tivesse sido McCain o eleito!
Não partilho da ideia de que a cor da pele foi determinante para Obama. O que ele tem de verdadeiramente atraente é que permite todas as ilusões, uma vez que não tem passado político digno desse nome. De facto, Obama nasceu para a política há apenas 4 anos, numa altura em que começou o acentuado declínio de G. Bush, e a única coisa relevante que o seu currículo exibe é um curto tempo de voluntariado a apoiar a acção de solidariedade num bairro pobre. Pelo menos foi o mais destacado, à mistura com a incrível história familiar que é, ela sim, um extraordinário retrato da América.
Obama é o vivo exemplo do homem que se atreveu a sonhar alto, contra todas as probabilidades, e que soube falar às pessoas numa altura em que a ousadia, a esperança e a coragem soam a música celestial.
McCain é um herói de guerra, um político lutador e irreverente e um grande senhor, como demonstrou no fantástico discurso final, mas não desperta nas pessoas essa vertigem de deitar tudo para trás e fingir que se pode começar de novo. Ele apenas mostrou que é possível não desistir, mas isso é realmente mais difícil. E, num tempo em que tudo corre tão velozmente, de que serve levar o lastro de uma vida heróica e devotada? Mais vale fabricar um novo herói, esse já nós conhecemos…
Obama tem essa frescura dos que ainda não têm amigos e inimigos, dos que ainda não sofreram a provação de ter que cortar a direito e fazer escolhas que as circunstâncias e o interesse público determinam, e que nem sempre, quase nunca, deixam incólume a pureza de ideais.
Obama permite todas as ilusões porque na América todas as ilusões são permitidas, na Europa não deixarão de ter a condescendência habitual perante os políticos de esquerda.
Quanto à cor da pele, desculpem lá, mas não me lembro de terem sido tecidos hinos de louvor a Bush e à América pela grande mudança que significou a escolha de Condoleezza Rice para o cargo de Ministra dos Negócios Estrangeiros, ela, que é negra e mulher e jovem… Ela representou a América no mundo.

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